A BURGUESIA ENRUSTIDA E SEU "MUNDO REAL", O INSTAGRAM VISTO PELOS CELULARES.
A elite do bom atraso, a burguesia enrustida que se diz "democrática", se acha "amante da liberdade" e se autoproclama "a classe social mais legal do mundo", faz de tudo para parecer moderna. Boa parte dela até se diz "de esquerda" e, apesar de não disfarçar um ar blazé de elite brega-chique, se esforça para ter falsos ares de proletariado marxista, apesar de também esbanjar um ranço professoral nas suas opiniões e nos seus juízos de valor.
Apesar de tanta pose, de tanto palavreado, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, mesmo jurando de pés juntos que vivem em "novos tempos", em algum momento vive surtos conservadores que remetem à sua raiz golpista, à sua herança das velhas elites bandeirantes, escravocratas, latifundiárias e republicanas-velhas, além da herança recente de seus avós que pediram a queda de João Goulart e se esbanjaram das benesses do "milagre brasileiro" da ditadura militar.
A burguesia enrustida não gosta de senso crítico, escorraçado criminosamente das faculdades, sobretudo em cursos de pós-graduação - verdadeiras fábricas de verborragia complacente travestida de objetividade científica - , e rebaixado a uma desprezível frescura de existencialistas europeus.
Embora justifiquem, até com os célebres "textões" nas redes sociais, de que sua ojeriza ao senso crítico - ou, da parte de alguns indivíduos, a pretensa defesa do senso crítico, desde que "com limites" - segue "critérios de objetividade" e "previne excessos de opinião", a verdade é que essa postura é herdada da censura "técnica" que a velha grande imprensa e a burguesia civil defendiam como alternativa à burocrática censura do poder ditatorial militar.
As próprias elites acadêmicas que controlam os corpos docentes das universidades públicas, sobretudo nas direções de pós-graduação, herdaram o ranço tecnocrático da burguesia neoliberal acadêmica cuja principal figura era o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, um dos fundadores do tucanato "clássico" hoje aliado do governo Lula 3.0.
A elite do bom atraso é conservadora nos seus privilégios, e seu jeito "subversivo" apenas está dentro dos padrões que, na Idade Média, se conhecia como "Carnevale", a inversão temporária de valores e a liberação dos instintos libertinos, que hoje correspondem aos festejos identitários que se tornaram a ênfase desse esquerdismo distorcido que hoje temos e que conta com adesão de gente "legal demais" para ser realmente de esquerda.
O apetite consumista da burguesia de chinelos é o mesmo dos tempos do "milagre brasileiro". A obsessão em ler só textos agradáveis na Internet remete aos tempos em que seus pais e avós viam o Jornal Nacional falar sempre de "boas notícias" do Brasil "milagreiro". O espiritualismo religioso defendido segue os limites da meritocracia e da caridade paliativa que não combate a pobreza.
Até quando defende a democracia, a burguesia de chinelos é restritiva. No caso do governo Lula 3.0, quando o petista se rendeu totalmente às demandas neoliberais que finge combater, a burguesia enrustida pede para que essa "democracia de um homem só" seja feita sem que os críticos dessem um pio, deixando que apenas um único homem, no caso o próprio Lula, decida por tudo e o povo brasileiro que se limite a brincar, dançar, festejar, consumir e "bebemorar".
E a burguesia de chinelos fala grosso sempre que é contrariada, afinal só ela é que tem que dominar as narrativas, e, se não puder ser dona da verdade absoluta, ao menos luta para ter a palavra final, enquanto briga com os fatos e tenta moldar a realidade conforme suas convicções, impondo um padrão de pensamento que se difunde pelo Instagram, Tik Tok e outras plataformas digitais.
Neste sentido, vemos que a "boa" sociedade, por mais que se esforce em parecer "democrática", sempre mostra, de uma forma ou de outra, seus resíduos golpistas. Essa elite, agora "boazinha", jura que largou o AI-5, mas o AI-5 não largou essa elite. Apenas o AI-5 aproveitou o embalo do travestismo ideológico e, neste Carnaval identitário do Brasil feito um parque de diversões, o temido ato institucional agora de fantasia de positividade tóxica, ou seja, o AI-SIMco.
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