A chacina ocorrida nos Complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, mostram o caráter de hipocrisia da burguesia ilustrada e de seus representantes da intelectualidade, que durante anos apelaram para a campanha do “combate ao preconceito” como forma de forçar a permanência da degradação sociocultural do povo pobre.
A ideia de fazer apologia à bregalização, glamourizando a pobreza, passando pano na baixa escolaridade e no trabalho precário, incluindo o comércio clandestino e a prostituição, vinda de intelectuais badalados que se elogiavam uns aos outros, fazia com que as favelas virassem cenários definitivos, como se fossem habitats naturais do povo pobre.
Tudo era feito para “prender” os pobres na sua inferioridade social e essa ideologia do dito “combate ao preconceito” enganou e sabotou as esquerdas. A ideia da “pobreza linda”, as favelas vistas como “paraísos da gente humilde” fazia antropólogos, cineastas, historiadores, músicos e críticos musicais despejarem seu elitismo cultural “sem preconceitos”, marcado pela hipocrisia dr uma falsa generosidade intelectual para os pobres.
A falácia repetida como um mantra e recheada de pretensa poesia, com direito a muitos devaneios e idealizações das favelas como arquitetura pós-moderna, tudo isso reflete o caráter burguês, aristocrático e paternalista de uma intelectualidade hipócrita que diz que as favelas “são coisas lindas de se ver”. Mas, com toda certeza, não são lugares lindos para morar.
Queremos ver o jornalista cultural descolado, a documentarista engajada e o antropólogo antenado viverem nas favelas dos bairros cariocas de Jacarezinho, Vila Cruzeiro, Providência, Juramento etc. Rocinha é poética só na imaginação etnocêntrica do fotógrafo burguês com fingida consciência social.
O que poucos percebem é que defender favelas não é o mesmo que defender os favelados. Institucionalizar as favelas como moradias permanentes, um dos princípios do “combate ao preconceito”, só prejudica os pobres, dificultando sua busca de qualidade de vida e até a mobilidade urbana, pois as favelas não têm acessibilidade plena, obrigando trabalhadores mais velhos a encarar escadarias e acessos precários na ida e volta de casa para o trabalho, com sérios riscos de sofrer acidentes.
O discurso do “combate ao preconceito” herdou uma logística sociocultural da Era Geisel e, de maneira gravemente errônea, foi acolhida pelo imaginário de esquerda apesar do vínculo dessas ideias ao culturalismo do PSDB. O preço que essa campanha trouxe foi a quase falência da mídia esquerdista e o golpe político que tirou Dilma Rousseff, além da ascensão e do empoderamento da extrema-direita.
Muitos progressistas foram dormir tranquilos porque a “campanha contra o preconceito” definia as favelas como “paraísos dotados de festa e carnaval”. Mas esse IPES-IBAD de chapéu de frutas acabou semeando o pensamento golpista que teve a coragem de eleger gente como Jair Bolsonaro e outros que permitiram episódios como a tragédia dos Complexos do Alemão e da Penha. A intelectualidade festiva tentou atirar no preconceito e quase matou o Brasil.
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