A onda dos pesquisismos que, de maneira sutilmente impositiva, já predetermina o voto em Lula, resgata uma prática dominante da República Velha, agora adaptada ao contexto "positivo" do petista nos tempos atuais.
É a prática do voto de cabresto, o voto de um candidato pré-determinado, imposto sob pena de algum dano. O voto de cabresto foi muito comum nos primórdios do século 20, quando os grandes proprietários terras estabeleciam o voto num dado candidato, sob pena de represálias diversas.
Antes da Revolução de 1930, o paulista Júlio Prestes foi o último candidato desta fase a ser beneficiado pela medida, mas o concorrente Getúlio Vargas realizou um golpe para dar fim a esse ciclo de negociatas republicanas e impediu a posse do "eleito".
Hoje se fala no “voto único” em Lula sob o pretexto dele ser “o único líder popular”, a “única opção da democracia (sic)”. Não há espaço para concorrentes e, na campanha de 2022, Lula cooptou ou escorraçou quem estava no caminho. A desculpa era que era uma eleição “extraordinária”, que pedia um “voto plebiscitário entre a barbárie e a civilização”, por isso só caberia o voro em Lula.
Hoje o que vemos é quase uma imposição das supostas pesquisas de opinião para os brasileiros votarem em Lula. O apelo de que Lula “ganharia em todos os cenários, no primeiro e segundo turnos”, se repete como um mantra para forçar os brasileiros a votarem só no petista.
Na regra da competição eleitoral, não deveria haver favoritos antecipados. Lula deveria ser apenas um candidato entre vários e buscar se destacar pelas ideias, no enfrentamento de outros concorrentes. O eleitor deveria comparar os candidatos e, depois, escolher Lula, se ele fosse o seu favorito. Isso sim seria democracia.
Mas Lula em 2022 não veio com programa de governo, não quis encarar a concorrência e se impôs como um candidato único, sabotando a democracia que ele tanto defende no discurso. E Lula se inspirou nas Diretas Já para fazer a campanha para o terceiro mandato, e os amiguinhos de Lula acabaram realizando, em 1984, uma eleição indireta, só para entender a noção de democracia que possuem.
Lula quer sufocar o direito de escolha dos cidadãos. Ele não pode se impor como único candidato, pouco importando se há motivos para isso. Na campanha presidencial, ele deveria ser apenas um dos candidatos e se destacar pelas qualidades, não sem antes enfrentar os outros competidores.
É por isso que, quando falamos que Lula não é competitivo, é porque não existe “único competitivo”. Competição requer mais de um envolvido e se há apenas um em vantagem, então não há competição. Se alguém se anuncia previamente como vitorioso, ele não é competitivo, é vencedor, mas um vencedor indigno que acha que ganhou antes de competir.
Lula decepcionou por ser esse vencedor indigno, com jeito de trapaceiro. É doloroso para muitos dizer isso, mas o meu livro LULA - UMA DECEPÇÃO mostra, com um jornalismo corajoso, que a verdade não tem lado. Se o lavajatismo e o bolsonarismo são antros de mentiras vergonhosas, não será Lula que, com suas gafes, omissões, impulsos e erros que ficará com a posse da verdade.
A ideia de Lula ser o candidato único constrange, pois a verdadeira democracia não tem dono. Só a burguesia ilustrada, privatista e autoritária por excelência, é que adora ver virtudes privatizadas. No âmbito da religião, já transformaram um charlatão “espírita” de Minas Gerais num símbolo de bondade, como se ele fosse o dono do altruísmo, não bastasse ter ele bancado o dono dos mortos através de sua literatura fake dita “mediúnica”.
E se esse “médium”, se vivesse hoje, teria sido um bolsonarista irredutível, seu exemplo não deixa de explicar a privatização de virtudes que nossas elites fazem com Lula, a ponto de recorrer a uma prática eleitoral da República Velha para tentar garantir a reeleição do petista.
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