A declaração do músico e produtor Sean Lennon, no programa de TV CBS Sunday Morning, admitiu que a banda do pai John Lennon, os Beatles, possa cair no esquecimento entre os mais jovens. Segundo Sean, as transformações culturais e tecnológicas vividas pela chamada Geração Z podem fazê-la esquecer o produtivo legado da famosa banda de Liverpool.
Sintoma disso já deve ser observado, quando um influenciador digital britânico, Ed Matthews, estava no aeroporto de Londres quando Ringo Starr, notando que o rapaz estava com os fones de ouvido, se aproximou dele e perguntou se ele era de alguma rádio. Ed não reconheceu o baterista dos Beatles.
É claro que a situação é de fazer careca ter vontade de arrancar os cabelos e tetraplégico mudo ter vontade de sair correndo gritando por socorro. Estamos numa catástrofe cultural e ninguém percebe, o pessoal vai dormir tranquilo dentro de um quarto em chamas com o teto prestes a cair em cima dessa turma.
A Geração Z é uma geração mais submissa ao mercado. Avisada somente dos antigos paradigmas do poder midiático e mercadológico - as velhas redes de rádio e TV e as velhas corporações empresariais- , a atual geração juvenil não percebeu novas armadilhas, cada vez mais engenhosas e complexas.
No Brasil, a coisa ficou tão grave, com a Faria Lima controlando praticamente TUDO na vida da juventude atual que chegou-se a relançar o finado ídolo pop Michael Jackson como se fosse um “artista novo”, com direito a “novas” canções como “Billie Jean”, “Thriller” e “Beat It”.
E isso com a supervalorização de um “rei do pop”, que por sinal chegou a ser dono de parte do repertório dos “desprezíveis” Beatles. Michael foi um cantor estadunidense que não era tão genial assim e cuja idolatria demonstra a vassalagem do viralatismo cultural enrustido em nosso país.
A Geração Z é submissa ao mercado e inclinada a endeusar marcas e símbolos, podendo ser uma marca de salgadinhos transgênicos ou um grupo de pop sul-coreano, o K-Pop.
Entre os aspectos devastadores das Geração Z está o fim da MTV, um dos efeitos da cultura superficial dos reels das redes sociais, sobretudo Instagram e Tik Tok. No Brasil, o crescimento da música brega-popularesca ocorre de maneira tão vertiginosa que já ameaça o futuro da MPB, já refém dos mercados popularescos estratégicos, principalmente no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O culto às subcelebridades, o consumo desenfreado, o rebaixamento do ensino superior a uma mera continuidade do ensino médio são outros aspectos. E o comercialismo mainstream da Geração Z, traduzido pelo fenômeno woke, conhecido no Brasil como identitarismo, faz piorar as coisas, definindo como “música de protesto” qualquer bobagem infantil pode, como “Ilariê”, “Xibom Bom Bom” e “Não Se Reprima”.
E isso é culpa dessa geração nascida no fim dos anos 1990?
Por incrível que pareça, não. Se a Geração Z contribui para arrasar a cultura, condenando os Beatles ao esquecimento e a MTV à extinção, isso se deve a gente mais velha, em torno de 40, 50 anos de idade, às vezes 60. Essas pessoas, situadas entre o empresariado e os formadores de opinião, todos inspirando os pais comuns da mesma faixa etária, estão influenciando mal as gerações mais recentes
Já tivemos exemplos vergonhosos da geração nascida a partir de 1978 que culturalmente se atrofiou no Brasil, antecipando o lodo cultural que hoje se vê, fechando olhos e ouvidos para o que existia antes deles nascerem .
E aí vemos uma coisa curiosa. Os avós das safras de cerca de 1951-1954 com seu pedantismo chique de tentar parecer culturalmente 20 anos mais velhos. Seus filhos de 1978-1983 mergulhando no superficialismo cultural do mainstream e os netos sentindo a consequência disso, com a precarização cultural atingindo níveis extremos.
A Geração Z, os “netos” do parágrafo acima, parecem modernos, futuristas e vanguardistas na embalagem, mas no conteúdo são antiquados, subservientes e ingênuos. No fundo, são vítimas do sistema. Ainda está por vir uma nova geração que não seja tão subserviente à mídia e ao mercado.
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