Pular para o conteúdo principal

NOTA ZERO EM REDAÇÃO ATINGE 8,5% DOS CANDIDATOS DO ENEM 2014


O resultado do concurso do ENEM 2014, preparatório para o ingresso ao ensino superior, demonstrou um dos piores desempenhos nos últimos tempos. Só em Matemática, houve queda de quase 8% em relação ao exame do ano passado, e, em redação, a queda teve um índice de quase 10%.

Apenas 250 conseguiram atingir 1000 pontos, considerada a nota máxima. Por outro lado, mais de 529 mil candidatos, cerca de 8,5% do total, que é de cerca de 6,2 milhões, tirou nota zero em redação, cujo tema era Publicidade Infantil.

Os critérios exigidos para a prova de redação não são um bicho de sete cabeças, mas desafiam as pessoas num contexto de desestímulo à leitura e verdadeira imbecilização cultural, por um lado, e avaliações "subjetivas" por outro. Em tese, o regulamento é esse:

Competência 1: Demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita.
Competência 2: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.
Competência 3: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
Competência 4: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários à construção da argumentação.
Competência 5: Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

O que se pode inferir com esse resultado, no entanto, é provavelmente de responsabilidade dos próprios alunos, mas também sob influência de uma "cultura de massa" extremamente doentia que vicia nossa juventude e desnorteia seus aprendizados.

A imbecilização cultural do brega-popularesco ou mesmo de outras expressões culturais deturpadas e reduzidas ao óbvio ou ao extremamente banal - como o rock e a MPB autêntica - , além do desprezo à leitura e à apreciação das artes plásticas, contribui para esse quadro lamentável.

E isso não foi o bastante. Hoje em dia, mesmo o internetês está dando lugar a linguagens mais primárias, porque o hábito de escrever por computador está dando lugar, gradualmente, à "patinação" digital pelos tabletes e celulares. Se as frases curtas do Twitter já preocupavam, a tendência dos internautas se limitarem a procurar algo para "curtir" nas mídias sociais é assustador.

Por isso os textos ruins, o preciosismo semântico - "comercializar" em vez de "vender", "cliente" em vez de "freguês" - , os argumentos confusos, a desinformação e outros males estão mostrando que a juventude que diz "nascer inteligente" se torna o contrário disso.

MÍDIA TEM BOA PARTE DE CULPA

O jornalista Alexandre Garcia, no Bom Dia Brasil, havia comentado ontem que os jovens têm pouco hábito de leitura e escrevem mal, mesmo quando tentam usar um vocabulário mais complicado, em vez de usar uma linguagem simples e direta.

O problema é que boa parte do desvirtuamento linguístico de nossos jovens é culpa da própria mídia. Rede Globo, Rede Record, SBT, Bandeirantes, Rede TV! e, se bobear, até a TV Cultura. Aliás, quase toda a grande mídia, televisiva, radiofônica, digital ou impressa.

São os programas de entretenimento e jornalismo, muitos de qualidade duvidosa, que ensinam os jovens a falarem e a escrever mal, empurrando gírias ridículas como "balada" (cuja patente remete a Luciano Huck e Tutinha, da Jovem Pan) e "galera" ou criando hábitos péssimos como substituir "freguês" por "cliente". Gírias que as pessoas nem falam, mas cospem, com toda saliva.

Certa vez, um noticiário do SBT em Sergipe cometeu a tolice de, ao focalizar o consumo de caranguejo nas praias de Aracaju, a repórter definir o especialista em caranguejo como "personal caranguejo". Informação metida a "engraçadinha", showrnalismo ainda que "despretensioso" porém digno de comercial das Organizações Tabajara.

As pessoas se perdem querendo ser "engraçadinhas", "preciosistas", complicadas. As pessoas não dizem "família", "equipe" ou "turma", pela obsessão de substituir tudo por "galera" e aí têm que acrescentar um complemento: "galera lá de cada", "galera do trabalho", "galera lá da escola", o que complica a linguagem. Era preferível escrever textos rebuscados.

Ou então a mania de dizer "personal isso" ou aquilo, Ou então a substituição do termo "freguês" por "cliente" que não dá para entender por que o lunático prefeito carioca Eduardo Paes, que sucateou o transporte coletivo e quer fechar metade da Av. Rio Branco, não decidiu substituir os nomes dos bairros Freguesia (um em Jacarepaguá, outro na Ilha do Governador) por Clientela.

Enquanto isso, alguns desses jovens, quando arriscam a ler livros, se reduzem a ler fantasias de feitiçaria, auto-ajuda ou diários banais, sem encarar obras relevantes de linguagem bem elaborada. Estão desprovidos de valores culturais relevantes, de capacidade de raciocinar bem, de questionar o mundo à volta e estabelecer boas ideias.

E alguns ainda se arriscam a ridicularizar e ofender quem não os considera pessoas inteligentes. Tais pessoas agem com burrice e estupidez mas querem ser consideradas "inteligentes" na marra. É o pessoal "tudo de bom" que apronta na Internet e comanda toda a estupidificação que causa estragos no quadro intelectual dos jovens brasileiros.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

BURGUESIA ILUSTRADA QUER “SUBSTITUIR” O POVO BRASILEIRO

O protagonismo que uma parcela de brasileiros que estão bem de vida vivenciam, desde que um Lula voltou ao poder entrosado com as classes dominantes, revela uma grande pegadinha para a opinião pública, coisa que poucos conseguem perceber com a necessária lucidez e um pouco de objetividade. A narrativa oficial é que as classes populares no Brasil integram uma revolução sem precedentes na História da Humanidade e que estão perto de conquistar o mundo, com o nosso país transformado em quinta maior economia do planeta e já integrando o banquete das nações desenvolvidas. Mas a gente vê, fora dessa bolha nas redes sociais, que a situação não é bem assim. Há muitas pessoas sofrendo, entre favelados, camponeses e sem-teto, e a "boa" sociedade nem está aí. Até porque uma narrativa dos tempos do Segundo Império retoma seu vigor, num novo contexto. Naquele tempo, "povo" brasileiro eram as pessoas bem de vida, de pele branca, geralmente de origem ibérica, ou seja, portuguesa ou...

DOUTORADO SOBRE "FUNK" É CHEIO DE EQUÍVOCOS

Não ia escrever mais um texto consecutivo sobre "funk", ocupado com tantas coisas - estou começando a vida em São Paulo - , mas uma matéria me obrigou a comentar mais o assunto. Uma reportagem do Splash , portal de entretenimento do UOL, narrou a iniciativa de Thiago de Souza, o Thiagson, músico formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) que resolveu estudar o "funk". Thiagson é autor de uma tese de doutorado sobre o gênero para a Universidade de São Paulo (USP) e já começa com um erro: o de dizer que o "funk" é o ritmo menos aceito pelos meios acadêmicos. Relaxe, rapaz: a USP, nos anos 1990, mostrou que se formou uma intelectualidade bem "bacaninha", que é a que mais defende o "funk", vide a campanha "contra o preconceito" que eu escrevi no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes... . O meu livro, paciência, foi desenvolvido combinando pesquisa e senso crítico que se tornam raros nas teses de pós-graduação que, em s...

A HIPOCRISIA DA ELITE DO BOM ATRASO

Quanta falsidade. Se levarmos em conta sobre o que se diz e o que se faz crer, o Brasil é um dos maiores países socialistas do mundo, mas que faz parte do Primeiro Mundo e tem uma das populações mais pobres do planeta, mas que tem dinheiro de sobra para viajar para Bariloche e Cancún como quem vai para a casa da titia e compra um carro para cada membro da família, além de criar, no mínimo, três cachorros. É uma equação maluca essa, daí não ser difícil notar essa falsidade que existe aos montes nas redes sociais. É tanto pobre cheio da grana que a gente desconfia, e tanto “neoliberal de esquerda” que tudo o que acaba acontecendo são as tretas que acontecem envolvendo o “esquerdismo de resultados” e a extrema-direita. A elite do bom atraso, aliás, se compôs com a volta dos pseudo-esquerdistas, discípulos da Era FHC que fingiram serem “de esquerda” nos tempos do Orkut, a se somar aos esquerdistas domesticados e economicamente remediados. Juntamente com a burguesia ilustrada e a pequena bu...

A TRAGÉDIA DOS COMPLEXOS DO ALEMÃO E DA PENHA E DO PRAGMATISMO CARIOCA

MEGAOPERAÇÃO CONTRA O COMANDO VERMELHO PRENDEU 81 SUPOSTOS ENVOLVIDOS, ALÉM DO TIROTEIO TER CAUSADO 64 MORTES. No Rio de Janeiro, nas áreas que envolvem o Complexo do Alemão e o Complexo da Penha, na Zona Norte - próximas às principais vias de acesso para outros Estados, a Avenida Brasil e a Linha Amarela - , a Operação Contenção, decidida à revelia da Justiça pelo governador estadual Cláudio Castro, tentou repetir a espetacular operação policial de 2010, mas de uma forma cada vez mais trágica. A megaoperação, cujo objetivo era prender as lideranças do Comando Vermelho que exercem poder em outros Estados, prendeu 81 pessoas e apreendeu mais de noventa fuzis, vários radiocomunicadores e duzentos quilos de drogas.  No tiroteio, mais de 100 pessoas morreram, entre elas dois policiais civis e dois policiais militares. Nove pessoas saíram feridas. O episódio da megaoperação já é considerado o mais letal da história do Rio de Janeiro, superando as já chocantes tragédias da Candelária e V...

BURGUESIA ILUSTRADA: UMA CLASSE HETEROGÊNEA?

O contexto da “democracia de um homem só” de Lula e da elite do bom atraso que o apoia leva muitos a perguntar sobre essa “diversidade de miniatura” comandada por uma classe sedenta em dominar o mundo e que tem no petista seu fiador para a realização de sua ambição em se impor como um modelo de humanidade a ser seguido pelo resto do planeta. Afinal, todos adoram brega? Todos seguem ou são simpatizantes da religião “espírita”? Todos são fanáticos por futebol? Todos são fumantes? Todos bebem cerveja? Todos apoiaram o golpe militar de 1964? Todos são fãs de subcelebridades? Todos renegam ou superestimam os medalhões da MPB? É claro que não, mas há um padrão comum nessa elite bronzeada que faz com que ela se defina como uma classe relativamente heterogênea, voltada a desenvolver sua minidemocracia para inglês ver. Precisam parecer culturalmente versáteis e forçadamente originais, dentro do seu viralatismo com pedigree. As afinidades giram em torno de valores que os tataranetos das velhas o...

POR QUE LULA NÃO PODE SER CONSIDERADO “COMPETITIVO”

LULA PRECISA SAIR DO PALANQUE, MAS, ANTES DE MAIS NADA, DO PEDESTAL. Na democracia, não pode haver um único candidato, por melhor que ele se ofereça para o eleitorado. A corrida eleitoral, com base na Constituição, deve mostrar uma igualdade de condições dos candidatos, mesmo o mais fraco em perspectiva de conquista de votos. Lula fala tanto em democracia, quer ser o maior símbolo democrático da História do Brasil e do mundo, mas descumpre a obrigação maior da democracia que é o enfrentamento da concorrência. Se há mais de dez candidatos competindo com Lula, ele não pode se achar o vantajoso por antecipação. Ele tem que apresentar vantagens só no momento da disputa, mas reconhecendo a capacidade de outros fazerem o mesmo. Isso é o que determina a democracia. Na disputa eleitoral, o melhor candidato, pelo menos em tese, só consegue ser avaliado no dia da votação, com a avaliação da maioria do eleitorado. Nas normas eleitorais brasileiras, se o candidato favorito a um cargo do Executivo ...