Pular para o conteúdo principal

ROCK BRASILEIRO NÃO ESTÁ EM ALTA E DIFICILMENTE ESTARÁ

ALIADOS, BANDA PAULISTA.

A mídia musical brasileira está sendo movida por uma onda de um ingênuo otimismo e acha que, desta vez, o rock vai emplacar no gosto dos jovens, criando um surto comparável ao da década de 80. Sabemos que sonhar é bom e muitos esperam a fada madrinha para realizar certos "milagres", mas a realidade é mais embaixo e isso muitos não querem admitir.

A mídia brasileira sucumbiu àquilo que se reclamava da imprensa britânica, que é a busca da "maior banda de rock do momento", da "maior banda de todos os tempos da última semana", da "última salvação do rock'n'roll", como se esperassem por alguém que viesse com alguma nova descoberta revolucionária para a humanidade.

As apostas sobre a "nova grande banda de rock brasileiro" podem até excluir as tais bandas emo - embora elas sejam a consequência natural do que rádios comerciais como 89 FM e Rádio Cidade, com seus locutores animadinhos, entendem como "punk rock", sendo os emos os "filhinhos" abandonados pelas duas rádios - , mas tentam a cada semana descobrir uma nova "salvação".

Numa semana, é o Malta amestrado por um riélite musical e que não passa de uma imitação, bastante tardia, do Nickelback, tratado pelas "rádios rock" como a "grande salvação do momento" antes de seus membros se entrosarem com breganejos e funqueiros. Não deu certo.

Noutra semana, são os Aliados fazendo aquele mesmo pópirroque dos anos 90, sem tirar nem pôr, mas prometendo "salvar o rock" assim mesmo, com "muita atitude", mas com uma letrinha de amor apenas um pouco "mais elaborada" mas que nada acrescenta à mesmice de um CPM 22 e seu "robertocarloscore" (a culpa não é nossa, foi Badaui quem criou isso). Não deu certo.

Noutra semana, é a vez de compactuar com a supremacia quase absoluta do brega-popularesco e apostar na "grande banda de rock" formada pelo funqueiro Mr. Catra, chamada Mr. Catra e Os Templários. "Quem sabe ela seria a nossa Body Count (banda de rock do rapper Ice T)?". Foi mais uma força de barra. Não deu certo.

Nesta semana é a vez da banda Vespas Mandarinas, do guitarrista e ex-VJ da MTV (quando era do Grupo Abril), Chuck Hipolitho, ex-marido da estonteante Débora Falabella e pai da filha dela. Chuck é gente boa, talentoso, carismático e simpático, mas a atitude rock dele e seu grupo dificilmente irão além de um público estritamente roqueiro.

Como a antiga banda, Forgotten Boys, a Vespas Mandarinas tende a fazer aquela tendência de "rock para roqueiros", de preferência de gente que não ouve rádio, até por não suportar alternar sons de guitarras elétricas com locuções abobalhadas de locutores que parecem sentir saudade de apresentarem programas de dance poperó.

Esqueçam. O pessoal está fazendo todo esse carnaval em torno da 89 FM e da Rádio Cidade, mas seus radialistas - desconta-se os músicos e jornalistas convidados, que apresentam programas específicos - , contando até mesmo o "dinossauro do emo", Tatola Godas, têm aquela dicção enjoada de animadores de festas infantis, propaganda de eletrodomésticos e bailes de disco music.

Ouvir um locutor tocar AC/DC, Foo Fighters e Legião Urbana falando como se estivesse se comunicando com fãs de Justin Bieber e do One Direction é dose. Mesmo quando ele economiza nas piadas e gracinhas, e fica preso ao texto dos redatores. Porque sua dicção é horrível, sua mentalidade nada tem a ver com o rock e ver duas "rádios rock" apostarem nessa linguagem é tenebroso.

É um pessoal não-especializado. Vamos parar de ilusão. O que essas rádios fazem é tocar um repertório previamente escolhido pelas gravadoras. Até quando aparece um Foster The People aqui, um Friendly Fires ali, um Black Keys acolá, tudo se limita às canções de trabalho previstas pelas gravadoras.

O rock não está em alta e dificilmente estará. Não haverá um surto de Rock Brasil tal qual o dos anos 80, porque não há um mercado especializado para isso. O que se tem é gente querendo comercializar o rock, mas os conhecedores de rock, mesmo, estão fazendo outras coisas, em trabalhos que variam de comissários de bordo a empacotadores de supermercado, passando, óbvio, pelos consertadores de aparelhos eletrônicos.

Quando muito, o que haverá é uma onda de bandas dos anos 90 que eram lançadas aos montes pela MTV sem que fizessem aquele sucesso grandioso, quando muito fazendo a catarse de uns poucos jovens do eixo Rio-São Paulo e alguns descontentes fora dessas regiões. Mas nada que fizesse diferença, até porque a geração 90 era mais profissional, tinha equipamentos melhores que a geração 80, mas era muito menos criativa.

Devemos parar com esse faz-de-conta, porque a fada madrinha não virá para colocar o rock nas alturas. Com essas rádios e seus locutores animadinhos, suas vinhetas alucinadas e seus programecos de besteirol, a divulgação da cultura rock sairá prejudicada, por mais que a palavra "rock" seja pronunciada pelo menos umas dez vezes por minuto.

Do jeito que está o radialismo rock hoje, temos que admitir uma coisa: funqueiros e breganejos ficam agradecidos, e hoje Mr. Catra, Luan Santana, Gusttavo Lima e Victor & Léo pegam uma "levada roqueira" só para lembrar que a realidade é mais embaixo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

BURGUESIA ILUSTRADA E SEU VIRALATISMO

ESSA É A "FELICIDADE" DA BURGUESIA ILUSTRADA. A burguesia ilustrada, que agora se faz de “progressista, democrática e de esquerda”, tenta esconder sua herança das velhas oligarquias das quais descendem. Acionam seus “isentões”, os negacionistas factuais, que atuam como valentões que brigam com os fatos. Precisam manter o faz-de-conta e se passar pela “mais moderna sociedade humana do planeta”, tendo agora o presidente Lula como fiador. A burguesia ilustrada vive sentimentos confusos. Está cheia de dinheiro, mas jura que é “pobre”, criando pretextos tão patéticos quanto pagar IPVA, fazer autoatendimento em certos postos de gasolina, se embriagar nas madrugadas e falar sempre de futebol. Isso fora os artifícios como falar português errado, quase sempre falando verbos no singular para os substantivos do plural. Ao mesmo tempo megalomaníaca e auto-depreciativa, a burguesia ilustrada criou o termo “gente como a gente” como uma forma caricata da simplicidade humana. É capaz de cele...

“COMBATE AO PRECONCEITO” TRAVOU A RENOVAÇÃO REAL DA MPB

O falecimento do cantor e compositor carioca Jards Macalé aos 82 anos, duas semanas após a de Lô Borges, mostra o quanto a MPB anda perdendo seus mestres um a um, sem que haja uma renovação artística que reúna talento e visibilidade. Macalé, que por sorte se apresentou em Belém, no Pará, no Festival Se Rasgum, em 2024. Jards foi escalado porque o convidado original, Tom Zé, não teve condições de tocar no evento. A apresentação de Macalé acabou sendo uma despedida, um dos últimos shows  do artista em sua vida. Belém é capital do Estado da Região Norte de domínio coronelista, fechado para a MPB - apesar da fama internacional dos mestres João Do ato e Billy Blanco - e impondo a música brega-popularesca, sobretudo forró-brega, breganejo e tecnobrega, como mercado único. A MPB que arrume um dueto com um ídolo popularesco de plantão para penetrar nesses locais. Jards, ao que tudo indica, não precisou de dueto com um popularesco de plantão, seja um piseiro ou um axezeiro, para tocar num f...

DOUTORADO SOBRE "FUNK" É CHEIO DE EQUÍVOCOS

Não ia escrever mais um texto consecutivo sobre "funk", ocupado com tantas coisas - estou começando a vida em São Paulo - , mas uma matéria me obrigou a comentar mais o assunto. Uma reportagem do Splash , portal de entretenimento do UOL, narrou a iniciativa de Thiago de Souza, o Thiagson, músico formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) que resolveu estudar o "funk". Thiagson é autor de uma tese de doutorado sobre o gênero para a Universidade de São Paulo (USP) e já começa com um erro: o de dizer que o "funk" é o ritmo menos aceito pelos meios acadêmicos. Relaxe, rapaz: a USP, nos anos 1990, mostrou que se formou uma intelectualidade bem "bacaninha", que é a que mais defende o "funk", vide a campanha "contra o preconceito" que eu escrevi no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes... . O meu livro, paciência, foi desenvolvido combinando pesquisa e senso crítico que se tornam raros nas teses de pós-graduação que, em s...

O ERRO QUE DENISE FRAGA COMETEU, NA BOA-FÉ

A atriz Denise Fraga, mesmo de maneira muito bem intencionada, cometeu um erro ao dar uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo para divulgar o filme Livros Restantes, dirigido por Márcia Paraíso, com estreia prevista para 11 de dezembro. Acreditando soar “moderna” e contemporânea, Denise, na melhor das intenções, cometeu um erro na boa-fé, por conta do uso de uma gíria. “As mulheres estão mais protagonistas das suas vidas. Antes esperavam que aos 60 você estivesse aposentando; hoje estamos indo para a balada com os filhos”. Denise acteditou que a gíria “balada” é uma expressão da geração Z, voltada a juventude contemporânea, o que é um sério equívoco sem saber, Denise cometeu um grave erro de citar uma gíria ligada ao uso de drogas alucinógenas por uma elite empresarial nos agitos noturnos dos anos 1990. A gíria “balada” virou o sinônimo do “vocabulário de poder” descrito pelo jornalista britânico Robert Fisk. Também simboliza a “novilíngua” do livro 1984, de George Orwell, no se...

A RELIGIÃO QUE COPIA NOMES DE SANTOS PARA ENGANAR FIÉIS

SÃO JOÃO DE DEUS E SÃO FRANCISCO XAVIER - Nomes "plagiados" por dois obscurantistas da fé neomedieval "espirita". Sendo na prática uma mera repaginação do velho Catolicismo medieval português que vigorou no Brasil durante boa parte do período colonial, o Espiritismo brasileiro apenas usa alguns clichês da Doutrina Espírita francesa como forma de dar uma fachada e um aparato pretensamente diferentes. Mas, se observar seu conteúdo, se verá que quase nada do pensamento de Allan Kardec foi aproveitado, sendo os verdadeiros postulados fundamentados na Teologia do Sofrimento da Idade Média. Tendo perdido fiéis a ponto de cair de 2,1% para 1,8% segundo o censo religioso de 2022 em relação ao anterior, de 2012, o "espiritismo à brasileira" tenta agora usar como cartada a dramaturgia, sejam novelas e filmes, numa clara concorrência às novelas e filmes "bíblicos" da Record TV e Igreja Universal. E aí vemos que nomes simples e aparentemente simpáticos, como...

LULA ESTÁ CANSANDO COMO ORADOR DE CÚPULA

Qualquer semelhança com a Rio-92 não é mera coincidência. Hoje o presidente Lula está mais próximo da figura espetaculosa de Fernando Collor do que do antigo líder sindical. E vemos o quanto anda repetitivo o ato de Lula discursar, na ânsia de buscar o reconhecimento mundial, enquanto o presidente brasileiro deveria ter falado menos, evitado a priorização da política externa no começo do terceiro mandato e focasse nos assuntos trabalhistas e na resolução de outros problemas brasileiros. Diante do aquecimento para a COP30, Lula participa da cúpula da CELAC, Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, na Colômbia, mais preocupado em ser presidente do mundo do que do Brasil. Eleito para combater a fome dos brasileiros, Lula desviou o foco e mais parece empenhado em montar o Sul Global do que em trabalhar nas pautas brasileiras, que ele deixa para última hora. Pouco importa o juízo de valor da burguesia de chinelos que acha que foi um “acerto” Lula priorizar a política externa. O...