O Carnaval 2017 marcou o sepultamento da MPB, como uma frente musical de qualidade lançada oficialmente em 1964, para se contrapôr à ditadura militar.
O processo do desmonte da MPB se deu desde os anos 1990, através de uma geração de intelectuais identificados com a Teoria da Dependência de Fernando Henrique Cardoso.
Entre eles, Paulo César Araújo, Hermano Vianna e o "bom esquerdista" Pedro Alexandre Sanches.
Todos traduzindo o pensamento de FHC para o âmbito cultural, com ênfase na música.
Era a ideia de subordinar a cultura popular brasileira às regras de mercado trazidas pela ideologia pop do comercialismo hit-parade dos EUA.
Essa perspectiva entreguista surgiu desde os primórdios da música brega, quando ídolos musicalmente confusos estavam indecisos entre boleros americanizados e country.
O comercialismo musical, que praticamente privatizava a cultura popular em prol de grandes empresas de entretenimento, mesmo regionais, começava com Orlando Dias, Waldick Soriano etc.
E hoje culminou num poder praticamente totalitário, de forma a tornar mais raro ver um universitário ouvindo MPB de qualidade.
Portanto, é um cenário pior do que a ditadura militar. Pelo menos naquela época a MPB repousava tranquila nos corações dos estudantes das faculdades.
O governo Temer começou com a turma que blindou a breguice cultural reinante.
Seja pela "santíssima trindade" de Araújo-Vianna-Sanches até ações regionais como o baiano Milton Moura e o mineiro Eugênio Raggi.
Todos eles sabotaram os debates culturais nas esquerdas, sabendo que a cultura é combustível para o ativismo social que apavora as direitas.
É claro que eles soaram como jogadores de um time que só fazem gol contra, já que foram fazer proselitismo no campo adversário, o das forças progressistas.
Bajulavam Lula e Dilma, mas no fundo os hostilizavam, só continuando a elogiá-los em troca de algum salário num periódico progressista ou verbas estatais do antigo Ministério da Cultura petista.
Agora que realizaram o estrago, separando o rico patrimônio musical brasileiro do próprio povo, eles agora "ensinam MPB" como "coxinhas arrependidos" que agora falam em "justiça social".
Querem que volte aquela mesma manobra que foi feita ainda no segundo governo de FHC, que é o de "ensinar MPB" aos bregalhões de plantão.
O problema não é ensinar MPB para quem não sabe.
É bonito ir para as favelas e mostrar aos pobres que música brasileira está além do simplório cardápio radiofônico servido diariamente.
O problema é ensinar para os próprios bregalhões, que primeiro se afirmam com trabalhos constrangedores, para depois investirem, muito tardiamente, em "MPB de verdade".
No segundo governo FHC, os bregalhões do "pagode" e "sertanejo" do pseudo-popular da Era Collor eram convidados a participar de tributos emepebistas diversos, bancados pela indústria fonográfica e pela Rede Globo de Televisão.
Foi um desastre.
Cantores reduzidos a crooners de segunda categoria, que aparecem em restaurantes e reality shows musicais de TV.
Caras, Rede Globo, Isto É e Multishow, entre outros veículos da mídia venal, vendia os neo-bregas da geração 90 "convertidos" em "emepebistas de primeira viagem" como "grandes criadores musicais".
Gravavam muitos covers até para esconder seu péssimo repertório autoral.
Pediam ajuda a arranjadores de plantão nas gravadoras para embelezar as músicas, não raro recompondo as canções, ainda que não levem crédito nas autorias.
Será que vamos viver uma nova era de "emepebistas de proveta"?
E isso depois que a MPB autêntica passou a ser estrangeira no próprio Brasil?
A supremacia das músicas brega-popularescas no Carnaval em todo o país deu o sinal de como a música brasileira de verdade virou peça de museu.
Num país que não cuida dos próprios museus, isso é como sepultar o nosso patrimônio musical de vez.
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