Não se pode estar acima de tudo.
O juiz da Operação Lava Jato, Sérgio Moro, com sua aparente sisudez e seu jeito lacônico, era visto como o herói da nação e o salvador da pátria.
Muitos já sonharam em vê-lo presidente da República, de preferência sem precisar de eleições ou, se for o caso, com votação "surpreendente".
Sérgio Moro personificava, no imaginário dos brasileiros médios, o xerife que tirou do poder os políticos do Partido dos Trabalhadores.
Num Brasil reacionário e atrasado, era um juiz que mais parecia um tira de Hollywood, algo como um sósia mais insosso do Orlando Bloom.
Procurava desempenhar um papel aparentemente exemplar na investigação de políticos do PT e de partidos então solidários, como setores do PMDB e PP.
Mas sempre tinha uma postura hesitante quando o caso envolvia políticos do PSDB.
Moro sempre quis evitar qualquer associação com o PSDB, apesar do pai, Dalton Moro, já falecido, ter sido fundador de uma unidade do partido tucano em Maringá.
E apesar da esposa, a advogada Rosângela Moro, ter também advogado para o PSDB.
Os adeptos de Moro também ridicularizaram uma montagem em que ele aparecia sorrindo com o hoje presidente do PSDB, Aécio Neves.
O sítio E-Farsas até denunciou a montagem, tendo sido um recorte do rosto de Moro inserida no lugar do rosto do falecido Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco.
A montagem sugeria que Aécio e Moro estavam rindo e trocando confidências.
Por uma ironia do destino, os dois foram fotografados na referida situação, num movimentado evento de premiação da revista Isto É.
Moro julgou a cena "infeliz" e diz que o PSDB "nunca fez parte" de sua jurisdição.
Em outra oportunidade, Moro não queria investigar o PSDB porque estava na oposição, durante os governos do PT.
A seletividade de Moro já causava estranheza e a foto com Aécio fez o juiz ser "zoado" nas mídias sociais.
Moro "queimou" até a reputação do palestrante Leandro Karnal, quando este foi jantar com o juiz e o fez bons elogios.
Agora é o caso Eduardo Guimarães, responsável pelo Blog da Cidadania.
Eduardo estava divulgando dados sobre a condução coercitiva que sofreu o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, no ano passado.
Indignado com isso, Moro resolveu também fazer o mesmo com o próprio Eduardo.
O blogueiro foi levado para prestar depoimento, pelas seis da manhã do último dia 21. Pouco antes do meio-dia, foi solto.
A forma como foi levado lembra os tempos do AI-5: policiais invadindo casa por arrombamento, proibindo o convocado de ligar para o advogado.
O episódio repercutiu mal e até colunistas hostis a Eduardo Guimarães, como Reinaldo Azevedo e Ricardo Noblat, reprovaram a atitude de Sérgio Moro.
Várias entidades ligadas à Justiça e aos profissionais do Jornalismo também condenaram a atitude do juiz paranaense.
Isso desgastou o juiz, antes visto como o "todo-poderoso de Curitiba".
Diante da péssima repercussão, Moro avisou que não vai mais investigar Eduardo Guimarães, acusado de ter usado uma fonte para transmitir informações sobre a condução coercitiva de Lula.
Em despacho, Moro reconheceu "que, desde a diligência, houve manifestações públicas de alguns respeitados jornalistas e de associações de jornalistas questionando a investigação e defendendo que parte da atividade de Eduardo Cairo Guimarães seria de natureza jornalística".
Ele acrescentou: "Considerando o valor da imprensa livre em uma democracia e não sendo a intenção deste julgador ou das demais autoridades envolvidas na investigação colocar em risco essa liberdade e o sigilo de fonte, é o caso de rever o posicionamento anterior e melhor delimitar o objeto do processo".
Realmente, não se pode ganhar todas.
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