O Ministério da Cultura, na gestão de Roberto Freire (PPS-PE), radicaliza seu caráter burocrático que a pasta, que chegou a ser extinta, ganhou no governo de Michel Temer.
Até o antecessor, Marcelo Calero, parecia mais flexível, ainda que dentro dos limites do plutocrático governo.
Roberto Freire não tem vínculo com setores culturais e não parece ter vivência para trabalhar na pasta.
Diante disso, o MinC mais parece um gabinete político como outro qualquer.
Um dos prejuízos que se vê é a racionalização de investimentos, como é de praxe no conjunto do temeroso governo.
O corte de investimentos atingirá sobretudo projetos mais arrojados de cultura, como o projeto Cultura Viva.
Já se fala na redução de vários projetos educativos e de proteção do nosso patrimônio cultural.
As perspectivas se voltarão mais para o turismo e o mercado.
O que estiver associado a ambos será mantido. Mas iniciativas que não dependem dessa visão tendem a ser comprometidas.
A chegada de Temer ao poder, através da expulsão de Dilma Rousseff, se deu porque o povo foi expulso dos debates públicos por causa da bregalização cultural.
O mito da "pobreza linda", da "miséria admirável", empurrada para a opinião pública sob a desculpa do "combate ao preconceito".
Só que preconceitos piores vieram, inseridos até mesmo na imprensa de esquerda.
Povo pobre só era "admirável" quando rebolava, mostrava dentes banguelas, se embriagava no álcool, vendia o corpo para a mídia e o mercado, entre outros papéis ridículos.
Mas povo pobre fazendo passeata, pedindo reforma agrária, lutando contra a opressão, incomodava até mesmo o intelectual "bacana" mais calcado no "bom esquerdismo".
Tinha que deixar as massas isoladas no entretenimento do "popular demais" e usar todo tipo de falácia "étnico-ativista" para convencer o "povão" a virar gado do mercadão da cafonice.
Com o monopólio da visibilidade, a intelectualidade "bacana" conseguiu o que queria: afastar o povo do debate de seus próprios problemas, "convidado" a deixar esse debate e brincar no entretenimento brega-popularesco.
Isso isolou os debates públicos das forças progressistas, que se tornaram quase privados.
É ilustrativa a falsa solidariedade da Furacão 2000, parceira histórica dos barões da mídia, aos movimentos esquerdistas de 17 de abril.
O barulho e a animação do "funk" abafaram o protesto contra o impeachment e Rômulo Costa fingiu defender Dilma Rousseff.
Na verdade, o "funk" abafou o protesto para permitir que o Congresso Nacional fosse menos pressionado na votação de abertura do processo de impeachment, concluído em 31 de agosto de 2016, após algumas etapas.
As forças progressistas, na boa-fé, confundiu a imbecilização cultural do brega-popularesco com a saudável alegria das classes pobres.
Com o povo desviado do debate, as forças progressistas ficaram isoladas e enfraquecidas, enquanto a direita articulava as mídias sociais para criar seu "exército de coxinhas".
Sem uma discussão séria sobre cultura popular - qualquer questionamento era erroneamente visto como "preconceito", "elitismo", "higienização" e até "fascismo" - , abriu-se o caminho para os midiotas despejarem seus preconceitos sociopatas.
A intelectualidade pró-brega abriu o caminho para a intelectualidade sociopata e para a mídia venal fazer suas pregações pelo fim do governo Dilma.
As forças progressistas de esquerda se esqueceram que o "popular demais" que defendiam, caricato e ultracomercial, era respaldado pelos barões da mídia e pelos sociopatas.
E aí se fortaleceu a mídia venal, que era na verdade a idealizadora desse "popular demais" que os intelectuais "bacanas" empurraram para as esquerdas.
E, pronto: cultura fraca, povo enfraquecido e plutocracia retomando o poder.
Usava-se a falácia da "diversidade cultural" para forçar a aceitação das tendências bregas que na verdade buscavam o monopólio.
Acreditava-se que isso não afetaria o patrimônio cultural, que só seria somado com a "cultura de massa" do "popular demais".
O "popular demais" ficou hegemônico e agora é o verdadeiro patrimônio cultural que está em risco.
A cultura brasileira de verdade corre o risco de virar artigo de museu. E do jeito que a plutocracia política cuida de nossos museus...
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