Os brasileiros médios parecem tranquilos com a aprovação, na última semana, da terceirização para atividades-fim em votação no Congresso Nacional.
Vendo a mídia venal, vão dormir tranquilos acreditando na falácia de que a medida trará mais emprego, crescimento econômico e, além disso, vai dar fim à recessão.
Mas a terceirização para atividades-fim é uma perversidade, uma tragédia que atingirá muitas famílias.
Ela vai estimular o empresariado a praticar escravidão, aumentarão os acidentes de trabalho dos empregados, haverá maior instabilidade no emprego.
Além disso, os salários serão desvalorizados.
A desculpa de que a terceirização irá aumentar o emprego parece verossímil, mas não passa de conversa para boi dormir.
Até porque o trabalho será tão precarizado que tende a ser apenas emprego temporário.
Mas suponhamos que a terceirização faça aumentar o emprego.
Será a mesma lógica do congelamento dos investimentos públicos, aqueles da PEC 241/PEC 55 que limitaram verbas públicas para Educação, Saúde e outros setores de interesse da coletividade.
Haverá o congelamento de verbas públicas e privadas para a mão-de-obra no Brasil.
A lógica do patronato é esta: para aumentar o emprego, eles querem reduzir salários.
Como estabeleceram um limite para o "bolo", as "fatias" devem diminuir para serem oferecidas a mais gente.
E isso vai desqualificar os salários, e aí entra a flexibilização das relações trabalhistas, em que o negociado passa a prevalecer sobre o legislado, algo que será instituído com a aprovação da reforma trabalhista do governo temeroso.
Isso significa que o patrão terá mais condições de persuadir seu empregado a aceitar suas condições.
Ele vai alegar "dificuldades" na empresa, para justificar a restrição salarial.
Digamos que, na melhor das hipóteses, os encargos e outras remunerações apenas passam a estar vinculados ao salário propriamente dito.
Ou seja, se você recebia R$ 5.000 que não incluía transporte e alimentação, por exemplo, você passará a ganhar R$ 5.000 com transporte e alimentação incluído.
Ou seja, os R$ 5.000 terão que arcar com transporte e alimentação, não havendo mais a grana extra para tanto.
Fala-se apenas em aspectos mais suaves, porque a terceirização tende a ser dura, mesmo.
Empresários poderão até mesmo pagar valores inferiores a um salário-mínimo e, mesmo assim, alegar que sofrem "dificuldades" para não serem processados nem punidos.
Além disso, o próprio status inferior da terceirização criará dificuldades para os trabalhadores moverem ações contra abusos do patronato.
Haverá o contratante e a prestadora, e o risco de uma empurrar com a barriga e jogar a culpa em outra é alto. E isso é só uma das hipóteses.
O patronato que apoia a terceirização e irá investir nela com gosto sairá ganhando.
Ele poderá precarizar o serviço, remunerar mal a mão-de-obra e, apesar do discurso de que "teremos mais emprego", a verdade é que haverá mais desemprego.
Acidentes de trabalho, conflitos por causa do trabalho sobrecarregado e mal pago, atritos entre patrão e empregado, brigas de colegas de trabalho por causa de disputas por ascensão profissional, tudo isso poderá ocorrer.
A situação pode gerar violência, pode causar doenças graves, pode fazer o empregado ser demitido sem justa causa, apenas porque perdeu a cabeça por conta da jornada cansativa.
E as famílias, sem a renda necessária, ainda terão que aumentar a pressão nas crianças, a ter que completar a minguada renda familiar.
Daí a definição trágica da terceirização, que causará um quadro devastador na nossa sociedade.
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