Os protestos ocorridos ontem contra o governo Michel Temer e seu "pacote de maldades" foi um grande sucesso.
A grande mídia subestimou as manifestações, que ocorreram em 19 Estados do país.
Em São Paulo, o ex-presidente Lula fez seu primeiro discurso depois que prestou depoimento como réu da Operação Lava Jato.
Milhares de pessoas foram vistas nos protestos.
O evento, destinado a protestar principalmente sobre as reformas previdenciária e trabalhista, foi um dos maiores protestos contra o governo Temer desde que o temeroso político assumiu o poder, em maio passado.
É verdade que o governo Temer está agonizando, e nem a mídia venal aguenta mais ele.
E a lista de Rodrigo Janot envolve vários homens de confiança do governo.
Mas o momento não é de comemoração, e sim de cautela.
Lembremos da Passeata dos Cem Mil e da Frente Ampla em 1968.
O ano de 1968 parecia rumar para a redemocratização do Brasil.
Havia uma pressão generalizada para isso.
A Frente Ampla foi até o marco da conciliação de dois rivais, Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda.
O Correio da Manhã, que apoiou o golpe, no entanto fazia oposição ferrenha contra a ditadura.
A Passeata dos Cem Mil pode não ter reunido realmente cem mil pessoas, mas lotou um bom trecho da Av. Rio Branco, no Rio de Janeiro.
Tudo parecia que a ditadura militar chegaria ao fim, mas no final de 1968 houve o monstruoso Ato Institucional Número Cinco, o AI-5.
A ditadura levou 17 anos para se encerrar.
Não se vai dizer que teremos outro pesadelo político do porte, mas o Brasil está instável.
Não se sabe se Lula realmente será candidato em 2018.
Há um forte apoio popular neste sentido, mas não vamos subestimar a marcação cerrada que fazem a grande mídia e setores do Legislativo, do Judiciário e do Ministério Público.
Nem sabemos se haverá corrida eleitoral em 2018 ou vão colocar indiretas mediante algum novo pretexto.
Sabe-se, apenas, que o governo Michel Temer sofre profundo desgaste. Neste caso, só ele e uns mais chegados ignoram que tal governo agoniza.
Mas a plutocracia continua agindo.
Um ensaio do risco que poderá ser a "pizza" na lista de Rodrigo Janot é que ele recebeu sinal verde do ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, para arquivar um processo de investigação do senador Aécio Neves.
Aécio havia sido acusado, em delação de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, de envolvimento em possível esquema de compra de votos para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
O esquema também envolveu a campanha de vários deputados do PSDB.
O arquivamento pode ter sido porque o caso prescreveu no seu prazo para investigação e sentença.
Mas revela o que se espera em relação aos tucanos que estão na "lista do Janot".
O Tribunal Superior Eleitoral determinou para cobrir o nome de Aécio Neves com uma tarja preta, nas transcrições dos autos do processo que investiga irregularidades na chapa Dilma Rousseff-Michel Temer em 2014.
O TSE é presidido por Gilmar Mendes, que costuma agir como se fosse "anjo da guarda" dos tucanos.
A determinação, própria da parcialidade do Judiciário, repercutiu como uma piada.
Nas mídias sociais, o pessoal "zoou" com o senador,
Fotos de Aécio Neves com tarja preta cobrindo os olhos foram publicadas.
Tem até montagem com a camiseta do ex-jogador Ronaldo Nazário, o Ronaldo Fenômeno, com uma tarja preta envolvendo o nome do mineiro.
Aécio tenta ser protegido pelo establishment político e jurídico, porque seu desgaste é avançado, pela pressão dada pela Internet.
Vendo isso, o Movimento Brasil Livre, de Kim Kataguiri, Fernando Holiday e Renan Santos, cogita defender o prefeito paulistano João Dória Jr. para a Presidência da República em 2018.
Está tudo imprevisível, ainda.
Os protestos contra as reformas de Temer, ocorridos no último dia 15, animam, e muito.
Mas, antes de comemorar, é bom observar os fatos com muito cuidado, para que nada possa ser posto a perder.
A situação não é para fazer festa.
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