TANQUE SE POSICIONA, NO RIO DE JANEIRO, DURANTE O GOLPE MILITAR DE 1964.
Infeliz daquele que quer a volta da ditadura militar, ainda que sob o eufemismo de "intervenção".
Há, lamentavelmente, muita gente assim. Mesmo pobre.
O discurso é sempre o mesmo: "com um militar do poder, o Brasil vai ter ordem e a gente vai receber salários dignos, não essa ladroagem que está aí mamando do Estado".
Tem gente que prega isso e puxa um efeito manada. Pessoal apoiando, sempre com aqueles bordões: "Tem que varrer essa sujeira que está no Congresso", "Tem que privatizar tudo, do jeito que está é um mar de lama" etc.
Além disso, há a novidade surreal de que uma parcela da sociedade já defende a queda dos salários dos trabalhadores, a perda de direitos trabalhistas etc.
Pelo menos isso eu não vi no tempo da ditadura militar.
Eu, criança e diante da mídia censurada, poderia estar desinformado de 99% do que acontecia no Brasil, mas creio que tal aberração não iria ocorrer naquela época.
Já ouvia, nos tempos do governo José Sarney - quando eu era um adolescente - , pessoas pedindo a volta da ditadura militar porque achava que então os salários eram melhores.
Mas eu não ouvia pessoas pedindo redução salarial. E qualquer candidato que prometesse queda no salário mínimo levava surra nas urnas e recebia uma quantidade minguada de votos.
Hoje, de maneira surreal, um candidato que reivindicasse a queda do salário mínimo consegue arrancar aplausos de pé de alguns cidadãos "de bem".
A ditadura militar é uma reivindicação de uma parcela reacionária de brasileiros, que acredita piamente que seu desejo será realizado.
JAIR BOLSONARO - REPORTAGENS SOBRE UM PLANO TERRORISTA DE 1987 E, NO ALTO, GESTOS DE TIRO SIMILARES AO QUE ELE FEZ À REPÓRTER QUE O DENUNCIOU.
Esses brasileiros se animam com as crises dos últimos tempos, achando que, finalmente, as eleições de 2018 serão revogadas ou, quando muito, Jair Bolsonaro sairá vitorioso nas urnas.
Bolsonaro teve um episódio sombrio relembrado pela imprensa alternativa.
Foi quando, em 1987, o então capitão do Exército, Jair Bolsonaro, juntamente com seu colega Fábio Passos da Silva, de explodir bombas em quartéis e outros lugares estratégicos no Rio de Janeiro.
O atentado era planejado para que não houvesse vítimas, mas, mesmo assim, era um atentado terrorista e, acima de tudo, quebra de hierarquia militar.
O ministro do Exército do governo Sarney, Leônidas Pires Gonçalves, tentou desmentir o episódio, mas a reportagem de Veja, de autoria de Cássia Maria, divulgou detalhes do plano, que envolveria explosão de dinamite na adutora de Guandu, na Zona Oeste carioca.
Bolsonaro teve apenas leves punições por indisciplina. Foi expulso de uma escola de oficiais do Exército e ficou preso duas semanas, mas foi inocentado pelo Superior Tribunal Militar, apesar da declaração de culpa dada pelo Conselho de Justificação do Exército.
E Bolsonaro ainda ameaçou Cássia Maria de morte, depois de alegar que "não a conhecia".
Assim que a viu, ele fez o famoso gesto de fazer tiros de revólver com as mãos e disse à jornalista: "Você vai se dar mal".
A jornalista passou a viver sob proteção policial depois desse incidente.
Só esse incidente revela o perigo de Bolsonaro governar o país. E mostra também o perigo de qualquer volta à ditadura militar ou a governos equiparados a ela, ainda que eleitos pelo voto popular, podem causar.
Quem acha que a volta à ditadura iria extinguir a corrupção, coisa que os "donos da verdade absoluta" das redes sociais tentam convencer a qualquer preço, pode desistir.
A ditadura militar apenas abafava a corrupção. Prendia, torturava e matava quem a denunciasse.
Censores instalados nas redações e salas de produção nos veículos midiáticos impediam que reportagens investigativas e outras denúncias fossem publicadas.
Nem piadas criticando o regime militar eram autorizadas a serem lançadas pelos humoristas.
Dias depois de falecido Alberto Dines - corajoso jornalista que, de propósito, "emporcalhou" o Jornal do Brasil com anúncios de classificados grotescamente inseridos para chamar a atenção dos leitores sobre a censura ditatorial - , vieram denúncias novas sobre a ditadura militar.
NAVIO FRAGATA UNIÃO DEIXA NITERÓI PELA BAÍA DA GUANABARA, COM DESTINO AO LÍBANO, EM 2011. ERA UM DOS CONSTRUÍDOS COM EQUIPAMENTOS COMPRADOS DURANTE A DITADURA MILITAR.
São duas denúncias, uma trazida por telegrama da Embaixada dos EUA no Brasil enviado a Washington, outra revelada por documentos britânicos.
Vamos aos documentos britânicos. Eles datam de 1978 mas remetem a fatos ocorridos durante os governos dos generais Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) e Ernesto Geisel, então ainda corrente.
Eles revelam que o governo brasileiro, na época, estava ligado a um suposto esquema de superfaturamento na compra de equipamentos para a construção de navios de escolta, chamados de "fragatas".
O material era de tecnologia britânica, e o Reino Unido se dispôs a participar de uma investigação, que foi evitada pelos militares.
A monarquia se ofereceu até para indenizar o governo brasileiro, no valor de 500 mil libras, mas a oferta foi recusada, de maneira bastante estranha. Infiro que seja para não expor o escândalo.
Outro caso de corrupção foi referente ao governo do general João Figueiredo, cujo cenário era exemplificado num relatório sobre o "jeitinho brasileiro" (mencionado na expressão "jeito" incluída na frase "jeito is king" - "jeito é rei").
O "jeitinho brasileiro" nem é preciso ser explicado.
É uma prática capaz de, entre outras coisas, transformar um farsante fazedor de livros fake de Minas Gerais a um pretenso "símbolo maior de amor e dedicação ao próximo".
Tanques também podem deixar seus rastros em mares de lama, e quantas fardas podem se sujar pela sujeira política que fazem, mas que dizem combater.
O problema é que a corrupção ditatorial não pode ser denunciada, o que dá uma falsa impressão de que ela nunca existe nessas situações.
Mas em ambientes autoritários, a busca frenética pelo poder faz com que seus líderes, que alegam combater a corrupção e resgatar a honestidade pela austeridade, sejam os que mais pratiquem corrupção.
Na ditadura, generais puxavam tapetes de outros, havia uma disputa por protagonismo e comando.
Só para se ter uma ideia, o general que fez o golpe militar de 1964, Olímpio Mourão Filho, foi descartado, a ponto de ser chamado de "vaca fardada", em comparação às vacas de presépios natalinos, que só servem para enfeite.
E para quem acha que "com a família Bolsonaro é diferente", é bom lembrar que o patrimônio financeiro de Jair e seus filhos (Flávio, Carlos e Eduardo) multiplicou de maneira vertiginosa.
Por causa da posse de, pelo menos, 13 imóveis, a fortuna da autoritária família chegou ao patamar de, no mínimo, R$ 15 milhões.
E há ainda outros bens que, juntos, são avaliados em, pelo menos, R$ 1,7 milhão.
E Jair Bolsonaro ainda defende os projetos do governo Michel Temer, que ele ajudou a instalar.
Defende a reforma trabalhista de maneira ainda mais radical que seu colega de reacionarismo, o CEO de Engenho da RCHLO, Flávio Rocha.
Isso significa que quem apoiar Bolsonaro não pode esperar receber a tão sonhada recompensa na hipótese de seu ídolo chegar ao poder.
Os bolsonaristas terão que receber migalhas, e isso em se tratando dos que são de classe média. Já o "pobre de direita" que faça chorinho com o ronco de sua barriga faminta.
E não adianta pedir a tal remuneração. No raciocínio dos Bolsonaro, quem pede dinheiro é "vagabundo comunista" ou "petista".
Os bolsonaristas que quiserem receber a sonhada recompensa que trabalhem 16 horas por dia nas reservas de nióbio que o "mito" lhes indicar.
A ditadura militar não é a "ditamole" para os defensores da dita (desculpe o trocadilho) "intervenção militar".
Defender governos autoritários, mesmo sob o aparato do "voto livre", só vai dar no efeito "morsas do Alasca".
Como naquele documentário em que as morsas, em grupo, se aventuram a se jogarem no abismo, achando que vão cair no mar, e morrem feridas ao caírem no chão.
Os brasileiros estão nesse clima, sobretudo num Rio de Janeiro que não pode ver o sobrenome Bolsonaro que elege com uma enxurrada de votos.
Não se pode brincar com esse "tobogã da morte". O Brasil só tem a perder quando vier uma nova ditadura ou um governo "democrático" equiparado a ela.
Infeliz daquele que quer a volta da ditadura militar, ainda que sob o eufemismo de "intervenção".
Há, lamentavelmente, muita gente assim. Mesmo pobre.
O discurso é sempre o mesmo: "com um militar do poder, o Brasil vai ter ordem e a gente vai receber salários dignos, não essa ladroagem que está aí mamando do Estado".
Tem gente que prega isso e puxa um efeito manada. Pessoal apoiando, sempre com aqueles bordões: "Tem que varrer essa sujeira que está no Congresso", "Tem que privatizar tudo, do jeito que está é um mar de lama" etc.
Além disso, há a novidade surreal de que uma parcela da sociedade já defende a queda dos salários dos trabalhadores, a perda de direitos trabalhistas etc.
Pelo menos isso eu não vi no tempo da ditadura militar.
Eu, criança e diante da mídia censurada, poderia estar desinformado de 99% do que acontecia no Brasil, mas creio que tal aberração não iria ocorrer naquela época.
Já ouvia, nos tempos do governo José Sarney - quando eu era um adolescente - , pessoas pedindo a volta da ditadura militar porque achava que então os salários eram melhores.
Mas eu não ouvia pessoas pedindo redução salarial. E qualquer candidato que prometesse queda no salário mínimo levava surra nas urnas e recebia uma quantidade minguada de votos.
Hoje, de maneira surreal, um candidato que reivindicasse a queda do salário mínimo consegue arrancar aplausos de pé de alguns cidadãos "de bem".
A ditadura militar é uma reivindicação de uma parcela reacionária de brasileiros, que acredita piamente que seu desejo será realizado.
JAIR BOLSONARO - REPORTAGENS SOBRE UM PLANO TERRORISTA DE 1987 E, NO ALTO, GESTOS DE TIRO SIMILARES AO QUE ELE FEZ À REPÓRTER QUE O DENUNCIOU.
Esses brasileiros se animam com as crises dos últimos tempos, achando que, finalmente, as eleições de 2018 serão revogadas ou, quando muito, Jair Bolsonaro sairá vitorioso nas urnas.
Bolsonaro teve um episódio sombrio relembrado pela imprensa alternativa.
Foi quando, em 1987, o então capitão do Exército, Jair Bolsonaro, juntamente com seu colega Fábio Passos da Silva, de explodir bombas em quartéis e outros lugares estratégicos no Rio de Janeiro.
O atentado era planejado para que não houvesse vítimas, mas, mesmo assim, era um atentado terrorista e, acima de tudo, quebra de hierarquia militar.
O ministro do Exército do governo Sarney, Leônidas Pires Gonçalves, tentou desmentir o episódio, mas a reportagem de Veja, de autoria de Cássia Maria, divulgou detalhes do plano, que envolveria explosão de dinamite na adutora de Guandu, na Zona Oeste carioca.
Bolsonaro teve apenas leves punições por indisciplina. Foi expulso de uma escola de oficiais do Exército e ficou preso duas semanas, mas foi inocentado pelo Superior Tribunal Militar, apesar da declaração de culpa dada pelo Conselho de Justificação do Exército.
E Bolsonaro ainda ameaçou Cássia Maria de morte, depois de alegar que "não a conhecia".
Assim que a viu, ele fez o famoso gesto de fazer tiros de revólver com as mãos e disse à jornalista: "Você vai se dar mal".
A jornalista passou a viver sob proteção policial depois desse incidente.
Só esse incidente revela o perigo de Bolsonaro governar o país. E mostra também o perigo de qualquer volta à ditadura militar ou a governos equiparados a ela, ainda que eleitos pelo voto popular, podem causar.
Quem acha que a volta à ditadura iria extinguir a corrupção, coisa que os "donos da verdade absoluta" das redes sociais tentam convencer a qualquer preço, pode desistir.
A ditadura militar apenas abafava a corrupção. Prendia, torturava e matava quem a denunciasse.
Censores instalados nas redações e salas de produção nos veículos midiáticos impediam que reportagens investigativas e outras denúncias fossem publicadas.
Nem piadas criticando o regime militar eram autorizadas a serem lançadas pelos humoristas.
Dias depois de falecido Alberto Dines - corajoso jornalista que, de propósito, "emporcalhou" o Jornal do Brasil com anúncios de classificados grotescamente inseridos para chamar a atenção dos leitores sobre a censura ditatorial - , vieram denúncias novas sobre a ditadura militar.
NAVIO FRAGATA UNIÃO DEIXA NITERÓI PELA BAÍA DA GUANABARA, COM DESTINO AO LÍBANO, EM 2011. ERA UM DOS CONSTRUÍDOS COM EQUIPAMENTOS COMPRADOS DURANTE A DITADURA MILITAR.
São duas denúncias, uma trazida por telegrama da Embaixada dos EUA no Brasil enviado a Washington, outra revelada por documentos britânicos.
Vamos aos documentos britânicos. Eles datam de 1978 mas remetem a fatos ocorridos durante os governos dos generais Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) e Ernesto Geisel, então ainda corrente.
Eles revelam que o governo brasileiro, na época, estava ligado a um suposto esquema de superfaturamento na compra de equipamentos para a construção de navios de escolta, chamados de "fragatas".
O material era de tecnologia britânica, e o Reino Unido se dispôs a participar de uma investigação, que foi evitada pelos militares.
A monarquia se ofereceu até para indenizar o governo brasileiro, no valor de 500 mil libras, mas a oferta foi recusada, de maneira bastante estranha. Infiro que seja para não expor o escândalo.
Outro caso de corrupção foi referente ao governo do general João Figueiredo, cujo cenário era exemplificado num relatório sobre o "jeitinho brasileiro" (mencionado na expressão "jeito" incluída na frase "jeito is king" - "jeito é rei").
O "jeitinho brasileiro" nem é preciso ser explicado.
É uma prática capaz de, entre outras coisas, transformar um farsante fazedor de livros fake de Minas Gerais a um pretenso "símbolo maior de amor e dedicação ao próximo".
Tanques também podem deixar seus rastros em mares de lama, e quantas fardas podem se sujar pela sujeira política que fazem, mas que dizem combater.
O problema é que a corrupção ditatorial não pode ser denunciada, o que dá uma falsa impressão de que ela nunca existe nessas situações.
Mas em ambientes autoritários, a busca frenética pelo poder faz com que seus líderes, que alegam combater a corrupção e resgatar a honestidade pela austeridade, sejam os que mais pratiquem corrupção.
Na ditadura, generais puxavam tapetes de outros, havia uma disputa por protagonismo e comando.
Só para se ter uma ideia, o general que fez o golpe militar de 1964, Olímpio Mourão Filho, foi descartado, a ponto de ser chamado de "vaca fardada", em comparação às vacas de presépios natalinos, que só servem para enfeite.
E para quem acha que "com a família Bolsonaro é diferente", é bom lembrar que o patrimônio financeiro de Jair e seus filhos (Flávio, Carlos e Eduardo) multiplicou de maneira vertiginosa.
Por causa da posse de, pelo menos, 13 imóveis, a fortuna da autoritária família chegou ao patamar de, no mínimo, R$ 15 milhões.
E há ainda outros bens que, juntos, são avaliados em, pelo menos, R$ 1,7 milhão.
E Jair Bolsonaro ainda defende os projetos do governo Michel Temer, que ele ajudou a instalar.
Defende a reforma trabalhista de maneira ainda mais radical que seu colega de reacionarismo, o CEO de Engenho da RCHLO, Flávio Rocha.
Isso significa que quem apoiar Bolsonaro não pode esperar receber a tão sonhada recompensa na hipótese de seu ídolo chegar ao poder.
Os bolsonaristas terão que receber migalhas, e isso em se tratando dos que são de classe média. Já o "pobre de direita" que faça chorinho com o ronco de sua barriga faminta.
E não adianta pedir a tal remuneração. No raciocínio dos Bolsonaro, quem pede dinheiro é "vagabundo comunista" ou "petista".
Os bolsonaristas que quiserem receber a sonhada recompensa que trabalhem 16 horas por dia nas reservas de nióbio que o "mito" lhes indicar.
A ditadura militar não é a "ditamole" para os defensores da dita (desculpe o trocadilho) "intervenção militar".
Defender governos autoritários, mesmo sob o aparato do "voto livre", só vai dar no efeito "morsas do Alasca".
Como naquele documentário em que as morsas, em grupo, se aventuram a se jogarem no abismo, achando que vão cair no mar, e morrem feridas ao caírem no chão.
Os brasileiros estão nesse clima, sobretudo num Rio de Janeiro que não pode ver o sobrenome Bolsonaro que elege com uma enxurrada de votos.
Não se pode brincar com esse "tobogã da morte". O Brasil só tem a perder quando vier uma nova ditadura ou um governo "democrático" equiparado a ela.
Comentários
Postar um comentário