A queda de Pedro Parente, o "Peter Relative" dos sonhos do mercado financeiro e dos defensores da privatização da Petrobras, sinaliza a agonia do governo Michel Temer.
Parente foi um dos "notáveis" que cercaram o governo Temer, que mal trazia uma pálida ilusão de "racionalidade" depois de 13 anos de governos do Partido dos Trabalhadores (PT).
A queda foi dada quando Parente renunciou ao comando da estatal, admitindo que sua presença na estatal "não estava sendo positiva".
Parente, por ironia nascido no mesmo ano da Petrobras, mas com cerca de sete meses e meio antes (a Petrobras, de 1953, surgiu em 03 de outubro; Parente nasceu em 21 de fevereiro), era um confesso entreguista.
Ele desejava privatizar a Petrobras e era muito ligado ao mercado financeiro.
Pedro Parente é considerado, na plutocracia, um tecnocrata respeitável.
Mas, com a greve e a má repercussão de sua política de preços dos combustíveis, as ações da Petrobras sob a gestão Parente perderam, só na última semana, R$ 137 bilhões.
Parente já tem lugar reservado na BRF, empresa alimentícia de grande porte.
Já os brasileiros afetados com os aumentos dos combustíveis, os danos continuam. Os preços dos produtos estão caros, o abastecimento nos mercados mal começou a ensaiar alguma recuperação.
A greve dos caminhoneiros e, depois, dos petroleiros, mostraram que o Brasil está num momento delicado.
A pressão funcionou e "Peter Relative", o amigo do mercado financeiro, o gênio idolatrado pela mídia venal, esvaziou as gavetas e foi embora.
Na sua carta de despedida, definiu sua tarefa na Petrobras como "histórica contribuição" e "sem qualquer interferência política".
Sabemos que essas coisas não são verdade, vide a natureza do contexto governamental em que Parente se enquadrou.
A Petrobras está se encolhendo aos poucos, às vésperas de completar 65 anos.
A desculpa é que seus detratores reclamam contra o "monopólio mastodôntico da estatal", que impulsionou todo um discurso "contra a corrupção".
Até aceitam que o nome Petrobras permaneça, desde que privada e sob controle estrangeiro.
Mas a saída de Parente, pela instabilidade que a causou e dela se realimenta, favorecerá ainda mais os especuladores e rentistas, sempre surfando sobre os maremotos das bolsas de valores.
A saída de Parente se deu pela pressão dos grevistas e da opinião pública na Internet, e isso foi uma relativa vitória, como algumas outras pequenas.
Como figura estratégica do governo Temer, a saída de Parente, substituído interinamente por Ivan Monteiro, engenheiro visto com simpatia pelo "mercado", fragilizou ainda mais a figura impopular do presidente da República.
Fala-se que Michel Temer não se segurará por muito tempo. Sua imagem está cada vez mais fragilizada.
Antes da greve dos caminhoneiros, até parece que Temer não existia para os brasileiros. Ele estava politicamente mais isolado, hoje está pior.
Apesar dessa situação, prefiro duvidar que as forças progressistas retomem o protagonismo e o poder.
Fico preocupado com os eventuais carnavais em torno de uma suposta reabilitação das esquerdas.
Sobretudo quando pretensos esquerdistas vindos do entretenimento brega, da mídia "boazinha" ou de alguns outros porraloucas que mais espetacularizam do que valorizam os movimentos sociais.
A bregalização que estava sempre no lado dos plutocratas, do coronelismo à CIA, passando pela Rede Globo e Folha de São Paulo, tentou se vincular ao esquerdismo entre 2003 e 2016 em troca de umas verbas do Ministério da Cultura petista.
Ou então para parecer "bem na fita" diante de esquerdistas sérios. Como uma boa parcela da intelectualidade "bacana", que apesar de se achar "mais povo que o povo", difundia visões elitistas dissolvidas pelo açúcar do discurso pós-tropicalista.
Se é para esse bando de oportunistas e infiltrados que se pede a volta de Lula, o Brasil não irá para o verdadeiro progresso.
Rebaixar a cultura popular a caricaturas débeis do povo pobre, como se vê no brega, ou em provocatividades gratuitas como um fim em si mesmas, é praticamente assinar embaixo no culturalismo da intelectualidade elitista da nossa História.
Temos que respeitar o povo pobre não na forma cafona planejada e difundida nos corredores e escritórios do "mercado" do "popular demais", tão mercadológico quanto o mercado financeiro e tecnocratas como Pedro Parente e Henrique Meirelles.
Temos que respeitar o povo lembrando de sua história social de lutas e de sua história cultural de desenvolvimento de valores verdadeiros e dignos, que passam longe de estranhas apologias à pobreza, ignorância, alcoolismo, prostituição e drogas.
Faltou esse respeito. Mas eu não tive visibilidade suficiente para contestar em pouco tempo essas artimanhas promovidas pela intelectualidade "bacana".
Levei oito anos para mostrar o quanto essa intelectualidade infiltrada nas esquerdas estava fazendo, na verdade, o trabalho freelancer para os barões da grande mídia.
Quando se começou a reconhecer isso, foi tarde demais. O povo, subordinado à bregalização, escravo de sua própria caricatura, ficou de fora do debate público e assim abriu-se o caminho para o golpe que tivemos em 2016.
A intelectualidade "bacana" recuou de medo, mas nada impede que eles voltem como raposas famintas para se infiltrar num novo governo de esquerda, para abocanhar verbas da Lei Rouanet e, mais uma vez, empastelar a cultura brasileira.
Esse é o meu temor de quando Lula for solto, livre para ser eleito e retomar o governo.
Eu desejo que Lula volte a governar, mas devemos nos manter vigilantes contra os falsos progressistas que surgem dos porões da mídia venal, a rebaixar a cultura popular num engodo de duvidosas expressões que tratam o povo pobre de maneira caricata e idiotizada.
Chega dessa conversa de aceitar esse entretenimento popularesco. Não se combate preconceito aceitando abordagens que já tratam o povo pobre de maneira preconceituosa.
A bregalização desmobilizou o povo pobre e permitiu que o cenário político de 2016 para cá se firmasse.
Que as forças progressistas possam contestar e não aceitar essa espetacularização da pobreza, sob o preço da extrema-direita se aproveitar dos pobres que se insurgirem contra a caricatura cultural do brega.
Caso isso ocorrer, em outubro próximo, será ainda tarde demais. O Brasil está sombrio, mas pelo menos evitemos que se venham as trevas ainda piores.
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