Semana movimentada, no Brasil Temeroso, e não é por causa da Copa do Mundo.
Está nas tentativas, aqui e ali, de arrumação ou desarrumação do cenário político pós-golpe.
Teve o julgamento de Gleisi Hoffmann, sobre acusações contra ela, seu marido e um empresário de envolvimento em suposto esquema de propinas visando a eleição dela para o Senado, em 2010.
Ela foi inocentada dessas acusações, baseadas em delações que grosseiramente se contradiziam. Mas Fachin e Celso de Mello "plantaram" uma condenação por "falsidade ideológica" e caixa dois.
A absolvição das acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro atribuídas a ela e Paulo Bernardo trouxeram esperança para o julgamento do pedido de liberdade de Lula, previsto para a próxima terça-feira.
Prefiro estar cético, porque da segunda turma do Supremo Tribunal Federal, não há um que possa garantir com segurança o voto favorável à libertação de lula.
Se houver, serão, provavelmente, dois contra três, dos cinco ministros da turma.
Fora isso, temos o problema do reacionário presidente dos EUA, Donald Trump, no que se refere à sua ação rigidamente injusta com os imigrantes ilegais.
Dentro do programa de "tolerância zero" contra a entrada clandestina de imigrantes na fronteira entre México e EUA, Trump decidiu separar as crianças dos pais que eram detidos.
As crianças também foram aprisionadas, colocadas em celas improvisadas chamadas de "abrigos".
Isso causou uma grande indignação da opinião pública mundial e tornou-se o mais grave problema humanitário do momento.
No Brasil, de acordo com informação divulgada pelo cônsul-geral adjunto em Houston, no Texas, Felipe Santarosa, quarenta e nove crianças brasileiras estão nesta situação.
Até celebridades protestaram. Jennifer Lopez e os casais Chrissy Teigen e John Legend e George Clooney e Amal Clooney, além do próprio papa Francisco, protestaram contra a política de imigração de Trump.
Nem a primeira-dama, Melania Trump, que pelo jeito está demonstrando divergências sutis com o marido, gostou da decisão e pediu para o presidente recuar da medida.
A revista Time publicou uma edição em que, numa montagem, um fundo vermelho mostra Donald Trump olhando uma menina pequena chorando.
Apesar da repercussão, o Ministério das Relações Exteriores, cujo responsável é o tucano Aloysio Nunes Ferreira, com fama de agressivo, emitiu uma nota lacônica.
Limitou-se a dizer que a medida de separar crianças de pais que cometeram imigração ilegal é uma "prática cruel e em clara dissonância com instrumentos internacionais de proteção aos direitos da criança".
Não houve a ênfase que deveria haver em tais situações, sobretudo quando envolve famílias brasileiras entre os diversos latino-americanos detidos.
E olha que Aloysio não vai muito com a cara de Trump, conforme comentários que havia escrito antes nas redes sociais.
O chanceler disse que Trump "é o Partido Republicano de porre. É o que há de pior, de mais incontrolado, de mais exacerbado entre os integrantes de seu partido". E mais: "Agora é observar como é que ele se comporta na Presidência".
Mas Aloysio não deu a ênfase desejada no caso. Por outro lado, quando o presidente Nicolas Maduro foi reeleito na Venezuela, Aloysio disparava comentários bastante raivosos.
O governo popular venezuelano, tido como "autoritário" mas cujas decisões sempre são feitas sob a consulta da população, é hostilizado pela plutocracia que passou a comandar o Mercosul e a OEA.
Isso inclui presidentes direitistas que assumiram vários países latino-americanos, como o próprio Michel Temer, no Brasil, e Maurício Macri, na Argentina.
Venezuela tem petróleo, cobiçado pelos EUA, e por isso há a implicância com governos socialistas.
Cheguei a criticar e ironizar o governo do falecido Hugo Chaves, quando fazia O Kylocyclo, mas hoje reconheço o legado dele e seu sucessor, e as dificuldades que encontraram com as sabotagens econômicas e políticas das elites.
Falando em petróleo, a Petrobras foi proibida, pelo Tribunal Superior do Trabalho, de incluir no cálculo de sua base salarial, adicionais como periculosidade, trabalho noturno e horas extras.
Além disso, a estatal foi obrigada a desembolsar R$ 15 bilhões para complementar salários de trabalhadores ativos e aposentados e elevar a folha de pagamento anual em R$ 2 bilhões. A Petrobras, ultimamente sob administrações simpáticas ao golpe político, recorreu da sentença.
Outro fato político da semana foi o jantar de Ciro Gomes com lideranças do DEM.
Os políticos "democratas" deram uma condição ao apoio ao candidato do PDT.
A de que se priorizassem os interesses do DEM e não de partidos como o PT, no caso deste se aliar também ao político cearense.
Ciro sinalizou que o DEM poderá influir em decisões, caso o pedetista fosse eleito presidente.
A aliança não foi fechada oficialmente, mas se demonstra promissora.
Ainda é polêmica a relação de Ciro Gomes com as esquerdas, da mesma forma que o PSOL, que em parte sinaliza apoio ao Pacto pela Democracia, de tendência neoliberal.
O chamado "centro" se articula diante de um cenário em que, agora, paulistas revelam sua vocação suicida de morsas do Alasca, a transformar as urnas eletrônicas em sacos de vômito.
Segundo o Paraná Pesquisas, Jair Bolsonaro é o preferido até mesmo quando Lula é considerado nas hipóteses de corrida presidencial.
Dados divulgados pelo Jornal do Brasil, parceiro do Paraná Pesquisas, revelam essa tendência masoquista do eleitorado paulista, mencionando também o gaúcho, que compartilha da opção suicida:
"No cenário com Lula, São Paulo e Rio Grande do Sul são até agora os únicos estados que trazem Bolsonaro à frente. Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país com 33.037.166 eleitores, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro tem 21,4% contra 19,5% do ex-presidente. O estado tem 22,4% de todo o eleitorado nacional e nele, em terceiro lugar, aparece o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, com 16,7%, a ex-ministra Marina Silva, da Rede (9%), e o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, do PDT (5,6%).
No cenário sem Lula, mas com o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), Bolsonaro lidera a pesquisa com 21,4% dos votos. Os que não apontam candidato estão em segundo lugar, com 21%. Em terceiro está Alckmin, com 18,4%. Haddad aparece em sexto, com 5,1%, depois de Marina (11,7%) e Ciro (8,3%)".
Por outro lado, o ex-presidente uruguaio, Pepe Mujica, foi o mais recente visitante na prisão onde Lula está preso, na sede da Polícia Federal, em Curitiba.
Definindo Lula como "mais magro e com bom ânimo", Mujica elogiou a consideração que o ex-presidente teve com o Uruguai.
"Governei um pequeno país e ele foi presidente de um gigantesco. Ele tinha respeito pelos pequenos países da América Latina. O Brasil, com Lula, se comportou como uma espécie de 'irmão maior'", disse o ex-presidente uruguaio.
Diante desses dois lados, o "centro" (na verdade, a centro-direita) busca articular um líder viável, entre Geraldo Alckmin, Marina Silva, Álvaro Dias ou mesmo Ciro Gomes ou o que vier, para ao menos dar uma suavizada no golpe político de 2016.
Resta saber como se comportará o STF (que, recentemente, liberou sátiras políticas para as eleições deste ano) diante do julgamento do pedido de liberdade solicitado pela defesa de Lula.
É esperar para ver.
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