O machismo brasileiro que vigora nas redes sociais - que se comprovaram ser um lodo de reacionarismo e grosseria - repercutiu mal no Brasil e no mundo.
O vídeo foi divulgado na segunda-feira, mas o episódio teria ocorrido no sábado.
Um grupo de rapazes, na Rússia, estava assediando uma atraente jovem russa, que fazia reportagens, abordando a moça em aparente descontração.
Se aproveitando do fato da jovem não falar português, eles a obrigaram, naquela farra de cervejeiros tarados, a pronunciar o apelido dado à genitália feminina acrescido do adjetivo rosa.
A grosseria se deu em vários sentidos.
Os rapazes trataram a jovem como se fosse, para eles, uma loura burra, uma idiota.
Eles fizeram assédio sexual, se comportando como tarados diante de uma desconhecida.
E pronunciaram a genitália feminina e ainda forçaram a moça a repetir feito uma idiota o que eles diziam.
Puro sinal de desrespeito profundo e grave humilhação, sob o aparato da "descontração".
Três indivíduos foram reconhecidos pelo vídeo, de acordo com as denúncias.
Um é Diego Valença Jatobá, ex-secretário de Turismo da prefeitura de Ipojuca, em Pernambuco.
Ele já havia sido condenado pelo Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco por improbidade administrativa em 2012 e teve pedido de bloqueio de bens feito na Justiça estadual por dever pensão alimentícia.
Outro é Eduardo Nunes, policial militar de Lages, interior de Santa Catarina, que já tem aberto um processo disciplinar, pois, mesmo estando em férias, sua conduta é reconhecidamente desonrosa para a corporação.
O terceiro é o engenheiro civil Luciano Gil Mendes Coelho, do Piauí.
Luciano trabalhou como secretário de Saúde e, depois, de Educação no governo estadual.
Como engenheiro civil, registrado pelo CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) piauiense, Luciano também trabalhou para a prefeitura de Arapirina, também em Pernambuco.
A farra lembra muito os comerciais de cerveja, mas segue o hábito deplorável do machismo recreativo.
A grande mídia colabora com isso, principalmente com a veiculação de comerciais como estes, em que mauricinhos e valentões se passam por falsos nerds, criando aquele estereótipo que praticamente sepultou o nerd autêntico de filmes como Vingança dos Nerds (Revenge of the Nerds).
É aquele pseudo-nerd da linha "cervejão-ão-ão" ou "Se Beber Não Case" que agora virou o "paradigma de nerd" dos Campus Party da vida.
É aquele tipo de machista fanfarrão, que banca o desajeitado e confunde ser atrapalhado com ser nerd.
Há muito desses idiotas nas redes sociais, que, apesar de desajeitados, estão mais próximos dos valentões do que dos nerds que, de maneira hipócrita, dizem ser.
E eles criam um "protocolo", no qual a graça da mulher está em "não precisar ser inteligente".
Nos tempos do Orkut, eles chamavam de "homossexual" - levando em conta a imagem pejorativa que têm da causa LGBT - quem não topava namorar uma "mulher-fruta".
É um machismo sistemático, estimulado pela mídia, pelo menos, desde os tempos do É O Tchan, grupo baiano de triste memória que a mídia venal agora vende sob a falsa reputação de "relíquia cult".
Ele estimulou as mentes de muitos jovens e adolescentes na época, contaminando sobretudo quem nasceu do final dos anos 1970 em diante.
É esse pessoal que passou a disseminar o machismo recreativo nas redes sociais, tão fanfarrão que eles não admitem que machismo seja.
Pelo contrário. Houve até mesmo uma pegadinha trazida pelo "funk", subproduto da mídia hegemônica (blindado pela Globo e Folha, sobretudo), quando era empurrado para a mídia esquerdista.
Essa pegadinha consistia em vender as mulheres-objetos do "funk" - várias delas conhecidas como "mulheres-frutas" - como pretensos símbolos de empoderamento feminino.
Criou-se até a falácia de que a "hipersensualização" das mulheres-objetos seria uma forma de "jogar" maliciosamente com o imaginário machista masculino.
O "funk" sempre alegava que entrava no esquema da mídia hegemônica por "enfrentamento", mas isso não passava de conversa para bolivariano dormir.
E vendia o machismo como se fosse um "novo feminismo".
É irônico que, no portal IG, tenham "coexistido", na edição de hoje do portal de Internet, a denúncia sobre os machistas brasileiros na Copa da Rússia e uma nota "nostálgica" sobre as "mulheres-frutas".
Isso significa que a própria mídia realimenta o machismo que diz combater.
De que adianta publicar denúncias de assédio machista, se estimula esse mesmo assédio com esse "mercadão" de glúteos siliconados?
O mais grave é que as siliconadas, vendendo uma falsa imagem de expressão feminista, dão aos homens uma ilusão de que se pode tudo na suposta liberdade sexual e amorosa.
E aí a imagem da mulher é generalizada criminosamente, como se todas fossem "mulheres-frutas".
As esquerdas pecam pelo silêncio que dão às mulheres-objetos. Apesar de Solange Gomes, por exemplo, ter namorado Alexandre Frota (hoje bolsonarista) e a Renata Frisson, a Mulher Melão, ter apoiado a Operação Lava Jato.
Isso complicou a situação do feminismo brasileiro, que, como numa sinuca de bico, tem que negociar com o machismo.
A mulher que não quer seguir valores machistas deve ter sua emancipação "vigiada" pela "sombra" de um marido poderoso, ligado a uma posição de comando ou liderança.
Já a mulher que segue valores machistas e aceita bancar o brinquedo sexual do público masculino está dispensada até de ter um namorado e pode até brincar de paquera com afilhado ou sobrinho.
É esse cenário, promovido pela mídia venal e difundida pelo reacionarismo das redes sociais, que motivou a ação machista na arquibancada da Copa da Rússia.
Descontentes em humilhar brasileiras, machistas do nosso país foram humilhar uma estrangeira, aproveitando que ela não falava português.
E ver que alguns desses indivíduos possui um currículo que deveria ser respeitável é uma grande vergonha.
Com muita certeza, muitos homens corretos, como eu, se envergonham de grosserias desse tipo. Triste machismo, tristes machistas.
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