Há alguma esperança de Lula deixar a prisão na próxima semana?
É melhor haver cautela, e não ficar comemorando por antecipação a votação que se dará no próximo dia 26, do pedido de libertação do ex-presidente da República.
Setores das esquerdas ainda estão iludidos esperando alguma virada da situação imposta desde 2016, quando o petismo perdeu o protagonismo por causa do golpe político de 2016.
Motivos não faltam para isso.
Quem julgará o pedido será a segunda turma dos ministros do Supremo Tribunal Federal, aparentemente demonstrando alguma animosidade com os arbítrios de Sérgio Moro e da força-tarefa da Operação Lava Jato.
São cinco ministros: Edson Fachin, que solicitou o julgamento, Ricardo Lewandowski, Celso de Mello, Gilmar Mendes e Dias Toffoli.
Gilmar Mendes virou o "abridor de portas" para soltar alguns condenados da Lava Jato e demonstrou desavenças com o juiz Sérgio Moro.
Mendes virou alvo de piadas, sendo "recomendado" pelo anedotário popular até para deixar arroz mais solto.
Hoje há um teste de como se comportará o Supremo diante do caso de Lula, com o julgamento da presidenta do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann.
Ela é acusada, junto com o marido e ex-ministro do governo Lula, Paulo Bernardo, de envolvimento em suposto esquema de corrupção da Petrobras.
O casal é acusado de pedir e receber recursos de R$ 1 milhão para a campanha dela para senadora, em 2010.
A acusação é baseada em delações e não há provas concretas. Mas Gleisi está entre os políticos do PT hostilizados pela opinião pública.
Quanto ao julgamento do pedido, a probabilidade dos cinco ministros votarem pela libertação de Lula, no entanto, é pequena.
Meu palpite daria uma tendência de, quando muito, Celso e Gilmar votem pela soltura. Um placar e 2X3, ganhando a votação contrária à libertação.
Não creio que os demais possam votar por esta tendência. Eles são instáveis em votações de interesse ou não dos integrantes do golpe político, jurídico e midiático dos últimos anos.
Seria bom Lula ser solto, poder disputar eleições, ser eleito e, com o novo mandato, revogar todos os retrocessos político-econômicos lançados pelo Governo Federal desde 2016.
Mas as coisas não são simples como se imagina. O golpe político veio para ficar, infelizmente, e isso eu vejo observando o que os reacionários dizem.
Vivo em Niterói, uma cidade bastante conservadora, que tem gente protestando "contra tudo que está aí". São conservadores em ideias e têm uma ideia simplória e prosaica do "novo" na política.
O discurso dos conservadores é bem conhecido: são retrógrados em ideias, mas querem a aparência do "novo" na política.
Para gente assim, não existe diferença entre Lula, Paulo Maluf, Aécio Neves, José Dirceu, José Sarney, Fernando Collor, José Serra e Sérgio Cabral Filho.
Políticos veteranos são um "balaio de gatos" e os conservadores superestimam os convívios circunstanciais entre uns e outros.
Sob o ponto de vista dos conservadores, se trata de uma "política velha" que precisa ser expurgada.
O problema é a visão que esses conservadores têm: para alguns, até intervenção militar, eufemismo para a volta da ditadura militar, serve.
Se bem que a política que esses conservadores querem é até mais velha que a "política velha" da qual querem se livrar.
Analisemos o raciocínio do outro.
Para os conservadores, "novo" é política neoliberal, reforma trabalhista, reforma previdenciária, venda de nossas riquezas para empresas estrangeiras, enxugamento da máquina estatal, prevalência dos interesses de mercado.
Há toda uma rede articulada de empresários, universitários, religiosos, políticos, profissionais liberais e até os chamados "pobres de direita" e a classe média conservadora pedindo esse "novo" na política.
Eles não têm razão, mas possuem recursos dos mais volumosos para fazer prevalecer seus interesses.
As esquerdas, às vezes, têm um quê de ingenuidade.
Foram defender a tal "cultura do popular demais", o brega-popularesco, sem saber que ela segue rígidos interesses do mercado. A cultura popular foi rebaixada a um monte de mercadorias musicais e comportamentais.
As esquerdas achavam que o "popular demais" traria a revolução popular socialista. Eram capazes de guevarizar até a "dança do bumbum" do É O Tchan, creditada a um pretenso símbolo de empoderamento feminino.
Resultado. O "popular demais" foi jogado na pauta negativa dos comentaristas reaças, e, mesmo sem querer, as esquerdas, pegando carona nas pregações da intelectualidade "bacana", acabou plantando assunto nos comentaristas reacionários que nada tinham a dizer.
Resultado: os reaças surgiram levantando a bandeira da "cultura de verdade", as esquerdas caíram no ridículo ao apoiarem a bregalização (que no passado era instrumento estratégico da ditadura militar e de governos neoliberais na domesticação do povo pobre).
Daí para o golpe político foi muito fácil.
Hoje apelam para os arautos da mediocrização cultural, como Mário Kertèsz e Pedro Alexandre Sanches, para obter visibilidade, no desespero das ovelhas que recorrem às raposas para combater os lobos.
Não é boa ideia recorrer a gente de fora, com uma visão eminentemente mercadológica - apesar da suposta simpatia aos movimentos sociais - , servir de vitrine para os esquerdistas que perderam protagonismo.
Não se pode, como avisei, apelar para tudo. Nem todos os que dizem "Lula Livre" e "Fora Temer" podem ser confiáveis no âmbito do apoio às forças progressistas.
Como haver "Lula Livre" num mar de tubarões?
Não se deve subestimar os obstáculos.
Sabemos que os anti-petistas rasgam a Constituição, driblam leis e até caluniam Lula e Dilma Rousseff sem os escrúpulos que se medem até diante dos piores inimigos.
Eles não fizeram o golpe político para largar tudo e entregar o poder a Lula.
Não devemos agir de maneira imprudente, e talvez a sabedoria seria agir com cautela e sem precipitação.
Se as esquerdas perderam o protagonismo, não serão aventureiros que irão ajudar a recuperar, assim como também não será a ilusão das expectativas.
Tudo está imprevisível. E o STF já tem na prática barrar todos os recursos da defesa de Lula.
A animosidade com a Operação Lava Jato não é indício de que o STF necessariamente tenha passado a ficar ao lado dos petistas.
Há uma pressão muito grande para a permanência do golpe político, quando muito de maneira mais light.
A precipitação e o triunfalismo das esquerdas faz correr o risco da resposta fascista.
As forças progressistas devem parar de euforia, de fantasia e pensamento desejoso. E tomar cuidado com aqueles que embarcam no esquerdismo para tirar vantagem, porque são eles que abrem as portas para o direitismo.
Seria melhor que as esquerdas atuem como coadjuvantes prudentes e retomar seu protagonismo aos poucos, de maneira segura.
Batalhas dentro do âmbito da lei são válidas. As esquerdas devem, sim, aproveitar as condições que lhes são permitidas, como a defesa de Lula faz, aproveitando os recursos da lei.
O que não pode é achar que algum bloqueio será furado de repente, assim do nada, ou que algum aventureiro vindo da plutocracia em falsa solidariedade aos petistas irá garantir a volta das esquerdas ao poder.
As esquerdas devem atuar quando as situações permitem, e não quando elas impedem ou apresentam alguma armadilha.
É até mais realista e prudente que, se não for possível as esquerdas voltarem ao Executivo federal, que ao menos se possa eleger um Legislativo progressista e contar com a atuação dos movimentos sociais em protestos contra medidas plutocráticas.
A ideia não é buscar o protagonismo na marra. As esquerdas foram chamar os funqueiros para a manifestação em Copacabana, em 2016, e deu no efeito errado: a plutocracia se consagrou tanto que até os fascistas se animaram em buscar o poder.
A ideia é essa: as esquerdas devem se preocupar em se tornarem coadjuvantes políticos mais dignos e prudentes, buscando, nestas condições, desmontar aos poucos o projeto plutocrático que se impôs ao Brasil em 2016.
Deve-se usar a sabedoria, a prudência, agindo sem a busca obsessiva por protagonismo político.
É fazer protagonismo histórico mesmo fora do poder, bem mais prudente do que obter o protagonismo político nas condições adversas de hoje.
De que adianta Lula sair da prisão, concorrer às eleições, sair vitorioso, assumir o mandato se, pouco tempo depois, um levante militar vindo de repente vai expulsá-lo do poder?
Devemos pensar mais com cautela e menos com otimismo. E, de vez em quando, deixar a plutocracia vencer, talvez para sentir o sabor amargo de suas "vitórias de Pirro".
Porque a direita é boa de festa, mas é ruim de ressaca.
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