MC FIOTI, UM DOS NOMES DO "FUNK" OUVIDOS NO EXTERIOR.
"É o hit-parade, estúpido", eis o aviso que se deve dar a alguns deslumbrados das esquerdas médias.
Levantamento do Spotify, serviço de streaming de música, indica que o "funk" feito no Brasil atingiu um grande crescimento nacional, fora do eixo Rio-São Paulo, e internacional.
O crescimento foi no índice de 3.421% e atingiu, em 2018, o patamar de 4.694%.
Fora do Brasil, o "funk" brasileiro é ouvido nos EUA, em primeiro lugar, seguido de Portugal e Argentina. Reino Unido aparece em quinto lugar.
O sucesso mais ouvido no exterior é "Bum Bum Tam Tam", de MC Fioti, mas também nomes como Anitta, Nego do Borel, Ludmilla, MC Bin Laden, MC Livinho e MC G15 estão entre os mais tocados.
As parcerias com ídolos estrangeiros também influíram no sucesso, principalmente no cenário hip hop de ascendência hispano-americana, atual tendência do hit-parade ianque.
"Vai Malandra", de Anitta, é tocada internacionalmente na versão que conta com a participação de MC Zaac, Tropkillaz, DJ Yuri Martins e, de estrangeiro, o rapper estadunidense Maejor.
No Brasil, o Estado que teve maior crescimento em popularidade é o Paraná, berço da Operação Lava Jato e considerado um dos mais conservadores do país. O Paraná teve um crescimento de 135,1% de audições de "funk" pelo Spotify.
Também dentro do Brasil, o segundo maior sucesso no Spotify é "Amor Falso", do paraibano Aldair Playboy, e tem uma versão com MC Kevinho e Wesley Safadão. A música simboliza o crossover entre "funk" e arrocha no Nordeste brasileiro.
Dentro do contexto do governo Michel Temer e de um Brasil socialmente fragilizado, o sucesso do "funk" não representa o triunfo de uma rebelião progressista ou um movimento de vanguarda cultural.
Seria tolice acreditar nisso, embora essa perspectiva equivocada remete à narrativa pretensamente esquerdista que durante anos prevaleceu a respeito do "funk".
Afinal, o "funk" sempre foi um gênero comercial. Mesmo os "proibidões" e o "funk de raiz", tido como "de protesto", não fogem a essa regra.
A atual cena do "funk" remete ao ultracomercialismo da música brasileira hoje, nas quais há a supremacia de ídolos popularescos jovens, como Anitta, Nego do Borel, Wesley Safadão e Luan Santana.
O ultracomercialismo tornou-se a etapa final do plano de americanização da música brasileira, evidentemente não pelo viés da antropofagia cultural, mas pela mentalidade hit-parade que se inseriu no país de maneira explícita a partir do antigo ídolo cafona Orlando Dias, há seis décadas.
Passando pela música brega propriamente dita, nas gerações de Waldick Soriano e Odair José, pelos neo-bregas dos anos 80-90 (Sullivan & Massadas, Chitãozinho & Xororó, Alexandre Pires, Leandro & Leonardo etc), o chamado "popular demais" atingiu seu objetivo comercial pleno.
Embora oficialmente prevaleçam as narrativas de que o "popular demais" passa longe de interesses comerciais ou ideologicamente conservadores, o que se vê na realidade é a consagração desses interesses.
E agora que o Brasil corre o risco de perder a Eletrobras e a Petrobras, além de perder nossas riquezas para empresas estrangeiras, isso não escapa à música brasileira.
Ela agora chegou ao "formato ideal" que os empresários do entretenimento, que sempre apelavam para a pura imitação do produto estrangeiro, conquistaram.
Desde Orlando Dias, havia uma busca de um mínimo de contemporaneidade ao que se fazia no estrangeiro.
Era difícil acertar. Waldick Soriano, por exemplo, cantou arremedos de bolero e guarânias quando o Brasil respirava os frescores da Bossa Nova.
A média era de cinco a dez anos de atraso. Mesmo Odair José surgiu como um Pat Boone tardio, mas "atropelado" pela psicodelia e pela música de protesto.
O próprio Odair tentou fazer ópera-rock, depois de ser avisado que o Who fez uma e o Pink Floyd planejava outra. Não deu.
A contemporaneidade do brega-popularesco se aproximou um pouco com o cenário de 1977-1980, quando Gretchen, Sidney Magal, Genghis Khan (cópia do Boney M), José Augusto e outros tentavam uma proximidade com os modismos vigentes ou no auge.
Hoje, embora Anitta, no fundo, fizesse o que Britney Spears já fazia há uns 15 anos, consegue se inserir no atual contexto do pop dançante latino dos últimos meses.
A música brega-popularesca tentou ainda juntar imitação de pop americano com arremedos de brasilidade, com "sertanejo", "pagode romântico", "forró eletrônico" e outros.
O "funk" sempre foi americanizado, e surgido na Flórida anti-castrista, mas no Brasil houve quem apelasse até para o Quilombo do Palmares na narrativa sobre a trajetória do "funk" no país.
Era um discurso muito confuso, cheio de contradições e contaminado de pensamento desejoso (wishful thinking), mas procurava monopolizar a narrativa e fabricar consenso na opinião pública.
Agora, o que temos não é uma juventude sem preconceitos. Pelo contrário, a geração dos millenials, no Brasil, é a das mais preconceituosas da América Latina.
São pessoas que torcem o nariz para a música de qualidade e tratam o pop comercial (seja o do Brasil, dos EUA ou mesmo do Japão e Coreia do Sul) como "verdades absolutas".
O cenário musical brasileiro está lamentável, com a prevalência do ultracomercialismo que fez os jovens socialmente mais influentes perderem o interesse pela MPB.
Mas ele, ao menos, se insere no contexto em que vivemos, de enfraquecimento da autoestima brasileira, por conta de um cenário político frágil e perigoso.
Com as reservas de pré-sal do nosso petróleo entregues a escandinavos, orientais e ao G-8, a música brasileira dominante de hoje se pauta pelo pop dançante da Flórida, pelo country do Texas, pela "latinidade" de Porto Rico e pelo pop coreográfico do Japão e Coreia do Sul.
Pelo menos não dá mais para forçar a barra e tentar guevarizar esses modismos.
"É o hit-parade, estúpido", eis o aviso que se deve dar a alguns deslumbrados das esquerdas médias.
Levantamento do Spotify, serviço de streaming de música, indica que o "funk" feito no Brasil atingiu um grande crescimento nacional, fora do eixo Rio-São Paulo, e internacional.
O crescimento foi no índice de 3.421% e atingiu, em 2018, o patamar de 4.694%.
Fora do Brasil, o "funk" brasileiro é ouvido nos EUA, em primeiro lugar, seguido de Portugal e Argentina. Reino Unido aparece em quinto lugar.
O sucesso mais ouvido no exterior é "Bum Bum Tam Tam", de MC Fioti, mas também nomes como Anitta, Nego do Borel, Ludmilla, MC Bin Laden, MC Livinho e MC G15 estão entre os mais tocados.
As parcerias com ídolos estrangeiros também influíram no sucesso, principalmente no cenário hip hop de ascendência hispano-americana, atual tendência do hit-parade ianque.
"Vai Malandra", de Anitta, é tocada internacionalmente na versão que conta com a participação de MC Zaac, Tropkillaz, DJ Yuri Martins e, de estrangeiro, o rapper estadunidense Maejor.
No Brasil, o Estado que teve maior crescimento em popularidade é o Paraná, berço da Operação Lava Jato e considerado um dos mais conservadores do país. O Paraná teve um crescimento de 135,1% de audições de "funk" pelo Spotify.
Também dentro do Brasil, o segundo maior sucesso no Spotify é "Amor Falso", do paraibano Aldair Playboy, e tem uma versão com MC Kevinho e Wesley Safadão. A música simboliza o crossover entre "funk" e arrocha no Nordeste brasileiro.
Dentro do contexto do governo Michel Temer e de um Brasil socialmente fragilizado, o sucesso do "funk" não representa o triunfo de uma rebelião progressista ou um movimento de vanguarda cultural.
Seria tolice acreditar nisso, embora essa perspectiva equivocada remete à narrativa pretensamente esquerdista que durante anos prevaleceu a respeito do "funk".
Afinal, o "funk" sempre foi um gênero comercial. Mesmo os "proibidões" e o "funk de raiz", tido como "de protesto", não fogem a essa regra.
A atual cena do "funk" remete ao ultracomercialismo da música brasileira hoje, nas quais há a supremacia de ídolos popularescos jovens, como Anitta, Nego do Borel, Wesley Safadão e Luan Santana.
O ultracomercialismo tornou-se a etapa final do plano de americanização da música brasileira, evidentemente não pelo viés da antropofagia cultural, mas pela mentalidade hit-parade que se inseriu no país de maneira explícita a partir do antigo ídolo cafona Orlando Dias, há seis décadas.
Passando pela música brega propriamente dita, nas gerações de Waldick Soriano e Odair José, pelos neo-bregas dos anos 80-90 (Sullivan & Massadas, Chitãozinho & Xororó, Alexandre Pires, Leandro & Leonardo etc), o chamado "popular demais" atingiu seu objetivo comercial pleno.
Embora oficialmente prevaleçam as narrativas de que o "popular demais" passa longe de interesses comerciais ou ideologicamente conservadores, o que se vê na realidade é a consagração desses interesses.
E agora que o Brasil corre o risco de perder a Eletrobras e a Petrobras, além de perder nossas riquezas para empresas estrangeiras, isso não escapa à música brasileira.
Ela agora chegou ao "formato ideal" que os empresários do entretenimento, que sempre apelavam para a pura imitação do produto estrangeiro, conquistaram.
Desde Orlando Dias, havia uma busca de um mínimo de contemporaneidade ao que se fazia no estrangeiro.
Era difícil acertar. Waldick Soriano, por exemplo, cantou arremedos de bolero e guarânias quando o Brasil respirava os frescores da Bossa Nova.
A média era de cinco a dez anos de atraso. Mesmo Odair José surgiu como um Pat Boone tardio, mas "atropelado" pela psicodelia e pela música de protesto.
O próprio Odair tentou fazer ópera-rock, depois de ser avisado que o Who fez uma e o Pink Floyd planejava outra. Não deu.
A contemporaneidade do brega-popularesco se aproximou um pouco com o cenário de 1977-1980, quando Gretchen, Sidney Magal, Genghis Khan (cópia do Boney M), José Augusto e outros tentavam uma proximidade com os modismos vigentes ou no auge.
Hoje, embora Anitta, no fundo, fizesse o que Britney Spears já fazia há uns 15 anos, consegue se inserir no atual contexto do pop dançante latino dos últimos meses.
A música brega-popularesca tentou ainda juntar imitação de pop americano com arremedos de brasilidade, com "sertanejo", "pagode romântico", "forró eletrônico" e outros.
O "funk" sempre foi americanizado, e surgido na Flórida anti-castrista, mas no Brasil houve quem apelasse até para o Quilombo do Palmares na narrativa sobre a trajetória do "funk" no país.
Era um discurso muito confuso, cheio de contradições e contaminado de pensamento desejoso (wishful thinking), mas procurava monopolizar a narrativa e fabricar consenso na opinião pública.
Agora, o que temos não é uma juventude sem preconceitos. Pelo contrário, a geração dos millenials, no Brasil, é a das mais preconceituosas da América Latina.
São pessoas que torcem o nariz para a música de qualidade e tratam o pop comercial (seja o do Brasil, dos EUA ou mesmo do Japão e Coreia do Sul) como "verdades absolutas".
O cenário musical brasileiro está lamentável, com a prevalência do ultracomercialismo que fez os jovens socialmente mais influentes perderem o interesse pela MPB.
Mas ele, ao menos, se insere no contexto em que vivemos, de enfraquecimento da autoestima brasileira, por conta de um cenário político frágil e perigoso.
Com as reservas de pré-sal do nosso petróleo entregues a escandinavos, orientais e ao G-8, a música brasileira dominante de hoje se pauta pelo pop dançante da Flórida, pelo country do Texas, pela "latinidade" de Porto Rico e pelo pop coreográfico do Japão e Coreia do Sul.
Pelo menos não dá mais para forçar a barra e tentar guevarizar esses modismos.
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