Antigos aliados no golpe contra Dilma Rousseff, a Rede Globo e o hoje presidente Jair Bolsonaro entraram em guerra.
A Rede Globo diz "não ter inimigos", o que é bastante duvidoso, devido à campanha que fazia contra esquerdistas, mas com a direita bolsonarista ela deu um "presente" muito amargo.
Divulgou gravações de conversas entre Gustavo Bebianno, o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, nas quais a acusação de Bolsonaro de que Bebianno mentiu foi devolvida pelo ex-parceiro.
Tudo começou quando a revista Veja, também outrora apoiadora de Bolsonaro, resolveu embarcar nas denúncias que parte da mídia venal está fazendo contra o "mito".
O Jornal Nacional, da Globo, como de praxe, dinamiza a matéria de Veja, e joga para o grande público com maior repercussão.
Na gravação divulgada por Veja e dinamizada pela Globo, Bolsonaro disse o seguinte na conversa com Bebianno que foi vazada:
"Gustavo, o que eu acho desse cara da Globo dentro do Palácio do Planalto: eu não quero ele aí dentro. Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos se aproximando da Globo. Então não dá para ter esse tipo de relacionamento. Agora... Inimigo passivo, sim. Agora... Trazer o inimigo para dentro de casa é outra história. Pô, cê tem que ter essa visão, pelo amor de Deus, cara. Fica complicado a gente ter um relacionamento legal dessa forma porque cê tá trazendo o maior cara que me ferrou – antes, durante, agora e após a campanha – para dentro de casa. Me desculpa. Como presidente da República: cancela, não quero esse cara aí dentro, ponto final. Um abraço aí".
Mas o escândalo não parece representar uma crise do governo Jair Bolsonaro.
Parece uma pegadinha, como as pegadinhas da ministra Damares, que deixam as esquerdas desnorteadas.
Damares, com seus comentários "identitários" caricaturalmente reacionários, fez muitos esquerdistas morderem a isca pelo comentário banal sobre o "rosa" e o "azul".
Foi uma pedagogia irônica para as esquerdas que, anos atrás, morderam a isca do "ativismo padrão Cabo Anselmo" do "funk", através de um desvirtuamento das causas identitárias.
As esquerdas só perceberam as sutilezas das armadilhas armadas por falsos solidários depois que o golpe político de 2016 foi realizado.
Até lá, até a intelectualidade "bacana" que apelava para o ridículo defendendo a bregalização da cultura brasileira e, por isso, na verdade criou uma isca para as esquerdas enquanto abrir espaço para os pregadores do golpismo ideológico, não foram percebidos.
Pelo contrário. Intelectuais "bacanas" fingiam serem amigos das esquerdas chorando suas lágrimas de crocodilo com o esfacelamento gradual do Ministério da Cultura, enquanto abocanhavam seus últimos lucros com a Lei Rouanet.
Tanta "cortina de fumaça" foi feita e as esquerdas aceitaram sem críticas, apostando até numa emotividade infantil.
Ela ainda se manifesta em alguns resíduos, como na religião, onde o "Espiritismo" que existe no Brasil e seu maior ídolo é o reacionário "médium de peruca", ainda seduz os esquerdistas, em que pese sua pauta bolsonarista que só exclui pontos violentos.
As esquerdas ainda não conseguem ver sutilezas, armadilhas, e só agora começam a identificar algumas delas.
Não fosse Damares e o bolsonarismo, talvez as esquerdas se perdessem em criar festivas marchas "azul e rosa" em vez de lutar contra os retrocessos trabalhistas.
Agora temos o caso Globo X Bolsonaro que não requer maniqueísmos.
Isso mostra o quanto a Rede Record, conforme descrevi antes, não era como a TV Excelsior dos anos 1960.
A Record não era necessariamente progressista, apenas se aliou condicionalmente a Lula.
Era uma aliança por conveniências que nem os chamados "espíritas" fizeram, apesar das esquerdas ainda se sentirem seduzidas até pela peruca do falecido "médium" de Minas Gerais, que sempre foi um reacionário dos mais radicais.
O que ocorreu foi que a Record contratou alguns nomes progressistas, como Paulo Henrique Amorim, Rodrigo Vianna, Luiz Carlos Azenha e Heloísa Villela, entre outros.
Mas outros contratados da Record, como Heródoto Barbeiro e, fora do jornalismo, Gugu Liberato, não são necessariamente progressistas.
O "maniqueísmo" Globo X Record deixava muitos reacionários das redes sociais em posturas dúbias, porque ambas lhes "educaram" culturalmente.
Os reaças costumavam fazer seu apoio a Luciano Huck, Fausto Silva e Galvão Bueno à sua maneira, dizendo "odiá-los" mas seguindo suas determinações.
Se a gíria é "balada" e ela tem que substituir os verbetes "festa", "jantar" e "noitada", como na "noviíngua" da 1984 de George Orwell, e ela é determinada pela Rede Globo, a patota reaça das redes sociais (sobretudo dos tempos do Orkut ao WhatsApp) aceita de bom grado.
Claro que há nuances de reacionarismo. Há uns que puxam mais a Rede Globo, e outros que puxam mais a Record e o SBT.
Mas essencialmente, eles são os mesmos e não há maniqueísmo entre a Rede Globo, que hoje repudia Jair Bolsonaro, e a Rede Record, que apoia o "mito" incondicionalmente.
A situação é complexa, como num xadrez político, ideológico e midiático-cultural, no qual, anos atrás, teve o "funk" (um subproduto de paradigmas culturais da mídia venal difundidos na ditadura militar) como "cortina de fumaça" a desnortear os esquerdistas mais complacentes.
E agora temos a confusão do governo Jair Bolsonaro, na qual Paulo Guedes e Sérgio Moro saem de fininho, produzindo seu "holocausto tropical" que irá exterminar o povo pobre.
Há denúncias, que ainda estão sendo investigadas, de que policiais de elite na favela de Manguinhos, no Rio de Janeiro, estão praticando "tiro ao alvo". Isso mesmo. Como naquela cena do atirador do filme O Fantasma da Liberdade (La Fantòme de la Liberté), de Luís Buñuel, de 1974.
E vivemos num Brasil obscuro, tenebroso, incerto.
Enquanto isso, a briga de Jair Bolsonaro com a Rede Globo soa mais como um torneio de MMA para entreter o grande público.
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