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AINDA SOBRE TRAGÉDIAS E DESCASOS


Não custa falar sobre o descaso humano que causou tragédias no Sudeste brasileiro.

O desastre de Brumadinho, o temporal e o incêndio num alojamento do Flamengo no Rio de Janeiro e a morte do jornalista Ricardo Boechat.

Depois do golpe de 2016, o descaso no Sul e Sudeste se tornaram notórios.

Gente que nem percebe as tragédias que provoca, ou os problemas graves que vive.

Sua indignação, sua aflição e suas apreensões são seletivas.

Se aparece o rosto de Lula em algum lugar, a revolta é automática, o ódio, instintivo, saltando pelos olhares sombrios e zangados e pela boca espumando de raiva.

Mas quando se trata dos próprios problemas, até se ofendem quando são cobrados para percebê-los.

Ninguém exige condições para alojamentos de jogadores de futebol ou para deslocamento de jornalistas.

Onze jogadores do Flamengo e o jornalista Ricardo Boechat morreram vítimas do descaso, da falta de fiscalização, do improviso e de falta de condições e medidas de segurança.

No caso da novela da RJ-106, que virou "avenida de bairro" de Niterói porque dois bairros, Rio do Ouro e Várzea das Moças, não possuem acesso próprio de grande porte, a acomodação é geral.

Para piorar, quando se cobra nova avenida, apontando um terreno ocioso para isso - mas vulnerável à especulação imobiliária - , as pessoas não gostam.

Nem argumentando que esse problema é um problema de mobilidade urbana convence o pessoal, porque o niteroiense médio só entende da "mobilidade urbana" de levar o copo de cerveja posto sobre a mesa até a boca.

O "correspondente da Rua Cel. Moreira César" não vai reclamar da sobreposição de funções da RJ-106, que causa um sério problema de tráfego.

Veículos vão e vem por longas distâncias na rodovia estadual, incluindo caminhões de distribuição de produtos.

Eles disputam, entre Rio do Ouro e Várzea das Moças, com veículos que, sem necessidade, usam a rodovia só para se deslocar entre os dois bairros.

Até agora não ocorreu um acidente grave. Mas, e se ocorrer?

Nas proximidades, em 17 de dezembro de 1966, morreu, num desastre automobilístico, a genial cantora Sylvia Telles e seu namorado, Horácio de Carvalho Filho.

Foi na altura de Maricá. Mas se o acidente tivesse ocorrido em Várzea das Moças, num choque com um ônibus que vem de Várzea das Moças e disputa pista com os veículos que vão para Macaé?

É lamentável que cobrar uma nova avenida para Rio do Ouro e Várzea das Moças cause tenta indignação aos acomodados que preferem uma negligência confortável.

Eles estão esperando que não só congestionamentos aumentem no trecho "avenida de bairro" da RJ-106, mas talvez acidentes graves com alguma vítima fatal famosa.

Outros assuntos também revelam o comodismo que existe no Sul e Sudeste, sobretudo no eixo Rio-São Paulo e, também, em Niterói.

O pessoal de Niterói fuma adoidado, achando que isso é uma das melhores coisas da vida, sem saber que podem morrer em poucos dias.

Vejo muita gente lamentando mortes prematuras de amigos e familiares, sem perceber que o cigarro é responsável disso.

"Que? A fulana morreu aos 45 anos? Tadinha, parecia tão nova...", diria alguém, sem saber que a defunta era "jovem por fora" e "idosa por dentro".

É horrível ver tanta gente fumando e, como Niterói é uma cidade cujos cidadãos parecem bonecos de corda, porque a gente tem que mexer com eles para eles agirem alguma coisa, temos que pegar no pé o tempo todo.

Se não fizermos isso, em duas semanas Niterói vira uma fumaceira só, com tanta gente fumando em Icaraí, no Centro e por todo canto.

E os torcedores de futebol, tão fanáticos que, na hora de conhecer alguém, perguntam primeiro que time torcem para depois perguntarem o nome?

Eles gritam, insensíveis ao sono da vizinhança, durante jogos de futebol transmitidos de noite. O jogo pode ser às duas da manhã, se pinta gol o pessoal berra num coro ensurdecedor.

É o mesmo pessoal que ficou em silêncio diante das condições precárias de alojamentos de jovens jogadores de futebol. O Flamengo e o Bangu tiveram incêndios nesses alojamentos. O do Flamengo causou dez mortes.

Nem para defender os interesses os acomodados de plantão fazem. Nem para salvar suas vidas.

O pessoal do Sul e Sudeste é tão imprudente que, quando faz valentonismo digital (cyberbullying), montam blogues para caluniar desafetos.

Sem saber, acabam sendo denunciados criminalmente. E, se eles levam para a rua essas ameaças, em vez de encontrar seus desafetos, os valentões passam a serem visados por milicianos que se impressionam com a agressividade-ostentação confundida com a de milicianos rivais.

Daí que tantas imprudências e negligências transformam o Sul e Sudeste, e, ainda mais, o Rio de Janeiro, em palcos de tragédias.

São descasos que produzem tragédias e que fazem as pessoas chorarem lágrimas de crocodilos com as tragédias dos outros, até depois sofrerem as suas.

Os jovens jogadores do Flamengo que morreram sob as chamas cairão no esquecimento, enquanto cariocas e fluminenses fanáticos pelo time vão continuar gritando no fim de noite a cada gol do clube.

E quando muitos fumantes sulistas e sudestinos perceberem que fumar não é aquela coisa deliciosa nem saudável, seus corpos já estão apodrecendo no caixão.

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