Um calor insuportável sempre ocorre no verão do Grande Rio.
Morando em Niterói, falo mais especificamente sobre a cidade, mas é uma realidade que o Rio de Janeiro, São Gonçalo e a Baixada Fluminense também vivem. Maricá e Itaboraí também.
É um clima de sauna. Os cariocas conhecem como "temperatura 40 graus". E já se caminha para 44, 50 graus.
Isso não é bom. O clima está insuportável.
Mas o carioca médio e os demais fluminenses próximos que pensam parecido imaginam que ar condicionado pode substituir o ar puro e o clima fresco.
Ar condicionado é ótimo, sim, mas ele não pode substituir o ar puro. Pensar assim é ser isolacionista, fugir da rua e se isolar nos feudos de concreto dos estabelecimentos;
Infelizmente, a "cultura" da temperatura alta, que o imaginário carioca associa à praia, não é o sonho dourado do calor arrepiante que tanto se fala.
Não. É um pesadelo que revela o quanto o Rio de Janeiro é um dos locais afetados pelo aquecimento global, que existe e não é "delírio comunista" como havia dito o ministro olavete das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
A situação está terrível. Eu vivi em Salvador e lá também é um calorão no verão, mas lá há uma umidade e o clima é relativamente mais ameno.
No Rio de Janeiro, não. E, o que é pior, há dias com trovoada em que tem que se interromper tudo e voltar para casa correndo, quando se pode.
Verdadeiros "horizontes" de nuvens se formam, com "espumas" imponentes, que começam brancas, depois se azulam até se tornarem cinzas e quase grafite.
E aí cai a trovoada, que ressoa durante duas horas, aproximadamente.
É um verão estranho. E que já gerou tempestades, com tragédias que atingiram não somente o Rio de Janeiro, pelo menos desde quando era ainda Distrito Federal, mas as cidades fluminenses.
Em 1966, a então emergente TV Globo obteve, pela primeira vez, uma audiência crescente ao cobrir o temporal carioca de janeiro.
O Globo fotografou uma foto célebre de um ônibus da Braso Lisboa, linha 474, tentando passar pela Av. Francisco Bicalho alagada.
Fatores diversos contribuem para esse clima insuportável que os cariocas e fluminenses, hoje mais "pragmáticos" e conformistas, suportam de maneira surreal.
Um é a favelização que destruiu várias áreas verdes em todo o Rio de Janeiro.
A imprensa dos anos 1950 e 1960 via nas favelas, um subproduto da exclusão imobiliária, um problema que devia ser resolvido com oferta de moradias melhores e baratas para a população.
Nos últimos anos, porém, o "funk", esse "cavalo de Troia" da mídia venal que enganou as esquerdas, veio com um estranho "ufanismo" para as favelas, dentro daquele ideal "sem preconceitos", mas muitíssimo preconceituoso, da "pobreza linda" e da "periferia legal".
As favelas viraram "paisagem de consumo", terrenos do elitista e cinicamente paternalista "safári humano", em vez da "neo-etnografia modernista" prometida pela intelectualidade "bacana".
Outro é a questão das ervas de passarinho.
São parasitas que parecem plantas trepadeiras, e que os incautos pensam ser samambaias.
Só que as ervas de passarinho criam uma tragédia ambiental, enfraquecendo ou matando árvores, impossibilitando a fotossíntese que tornaria o nosso ar menos impuro e o clima mais ameno.
As pessoas passam por essas árvores tranquilas e felizes. É engraçado que são as mesmas pessoas que se revoltam quando veem o rosto de Lula em algum lugar.
É esse inconformismo seletivo, que faz cariocas e fluminenses ficarem até satisfeitos com os problemas graves que enfrentam, que está destruindo o Estado do Rio de Janeiro.
O terceiro fator são os fumantes.
Pessoas felizes e despreocupadas com sua saúde, tragando cigarro até nas horas vagas do trabalho, experimentando outros fumos, ignorando que estão ingerindo veneno nos seus organismos.
E ainda tem gente tirando onda "fumando com as mãos", desfilando segurando seus cigarros como se estivessem carregando um troféu.
E isso envolve o clima, que se torna cada vez mais insuportável, e não deve ser visto como folclore. Afinal, temperaturas exageradamente altas nada tem de Bossa Nova ou marchinha de Carnaval.
O Estado do Rio de Janeiro, antes uma referência para o país, tornou-se uma vergonha nacional.
Lançou modismos e fenômenos retrógrados, deu ao país os piores políticos envolvidos nos golpes recentes e anda também se destacando pela insegurança e pela violência.
E ainda tem Niterói, agora satisfeita com o fato de sua antiga condição de capital fluminense ser coisa do passado.
Niterói é a terra caipira que nenhum caipira gostaria de viver.
E o pessoal é tão conformado que perdeu a noção de tudo: de tempo, de sentidos (visão, olfato, nervos etc) e só se revolta quando é algo relacionado com o PT. De resto, aceita até injeção na testa.
Triste região. Vá entender uma "modernidade" dessas...
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