A máscara caiu para os dois supostos heróis da Operação Lava Jato, Sérgio Moro e Deltan Dallagnol.
Ambos juravam que não atuavam para fins políticos, mas para representar o "brasileiro indignado com tudo de errado que ocorre no Brasil".
Não eram muito convincentes, o então juiz e o procurador nem escondiam a cumplicidade que o Direito não recomenda aos dois magistrados, cujas atuações deveriam ser independentes.
Sérgio Moro, já sabemos, descumpriu sua promessa e foi ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, como prêmio de ter ordenado a prisão política do ex-presidente Lula.
Deltan Dallagnol parece que enlouqueceu com a fama, ficou tomado de estrelismo.
Queria fazer da Operação Lava Jato a sua "obra-prima", criar uma carreira de palestras lucrativas, montar sua fortuna, criar a Fundação Lava Jato para enriquecer sob o pretexto de "campanhas educativas" e "atividades docentes".
Reportagem da série da Vaza Jato pelo jornal The Intercept deu mais uma revelação.
A de que Deltan queria entrar para a vida política, assim como seu "mestre" Sérgio Moro.
Ele recebeu apoio de outros procuradores, como Vladimir Aras, que lhe sugeriu um cargo no Senado.
Deltan gostou da ideia, mas em princípio ficou receoso, achando que isso terá "muitos poréns".
Mas Aras lhe argumentou que o procurador ganharia fácil, tirando Gleisi Hoffmann e Roberto Requião, políticos progressistas do Paraná, do Senado na campanha de 2018.
Gleisi e Requião foram classificados por Aras como "inimigos", o que dá o tom do parcialismo da Operação Lava Jato.
Dallagnol, de início, até sugeriu que outros candidatos poderiam concorrer sob indicação dele. E disse que precisava de uma "saída maluca", senão ele e os colegas "estariam ferrados".
Aras citou, em seguida, Sérgio Moro, o próprio Deltan e o outro procurador da força-tarefa da OLJ, Carlos Fernando dos Santos Lima.
Nos diálogos divulgados recentemente, datados do começo de 2018, há a citação do empresário paranaense Joel Malucelli, banqueiro e dirigente esportivo denunciado pela Operação Lava Jato.
Malucelli é considerado "carrasco" pelos roqueiros paranaenses, por ter derrubado as rádios Estação Primeira e, depois, a 96 Rock, para botar, respectivamente, as noticiosas CBN e Band News. O magnata é presidente do partido Podemos no Paraná.
Malucelli havia procurado o procurador (vejam só as palavras!) Diogo Castor de Mattos para negociar a filiação de Dallagnol ao Podemos, para se candidatar ao senado.
A intenção ficou nas discussões e consultas, e acabou não rolando.
Em todo caso, Dallagnol adiou a intenção de abraçar a política partidária e deixou apenas o desejo "em aberto".
"Tenho apenas 37 anos. A terceira tentação de Jesus no deserto foi um atalho para o reinado. Posso traçar plano focado em fazer mudanças e que pode acabar tendo como efeito manter essa porta aberta", escreveu o procurador, em mensagem enviada para si mesmo.
Dallagnol fez um chat consigo mesmo só para refletir sobre o assunto. Adiou seu desejo para 2022.
A revelação se deu pouco depois do editor do The Intercept, Glenn Greenwald, participar do programa Roda Viva, da TV Cultura, ultimamente antro de jornalistas conservadores.
A maioria das perguntas foi sobre a atuação dele como jornalista, e não foi positiva. 32 perguntas só para intimidar o jornalista e advogado, e apenas seis sobre a Vaza Jato.
Os jornalistas queriam humilhar Glenn, mas este se manteve firme e respondeu dignamente.
Isso acabou expondo a mediocridade e o aparelhamento ideológico dos entrevistadores, que tentaram alegar que Glenn estava arruinando o "combate à corrupção".
Glenn desmentiu, evidentemente: ele não só está a favor do combate à corrupção como está justamente fazendo a cobertura da corrupção da Operação Lava Jato.
Paciência. Nem Sérgio Moro nem Deltan Dallagnol e companhia podem estar acima da lei. Se eles cometem desvios, é necessário que eles também sejam denunciados.
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