HOJE BOLSONARISTA, MAS SEMPRE CONSERVADOR, SÍLVIO SANTOS FOI UM DOS ARTÍFICES DA BREGALIZAÇÃO CULTURAL QUE ENGANOU AS ESQUERDAS.
Na ressaca da campanha pelo dito "combate ao preconceito" da bregalização cultural, quando é hora de lavar a "roupa suja" dessa farra intelectualoide, o golpismo político mostrou que o sonho brega se resultou num pesadelo direitista.
Queriam combater o tal "preconceito", que atribuíam à rejeição da sociedade à cultura popularesca, e o que combateram, na verdade, foi o Ministério da Cultura, a Lei Rouanet e a imprensa alternativa impressa.
Passado o verão da "pobreza linda", toda a retórica pseudo-progressista se revelou um culturalismo conservador.
A "santíssima trindade" da intelectualidade "bacana", São Pedro, São Paulo e Santo Hermano (Pedro Alexandre Sanches, Paulo César de Araújo e Hermano Vianna), canonizados pelas redes sociais e pelas esquerdas ludibriadas, abriram o caminho para o golpe de 2016.
Se foi ou não um propósito pessoal deles, ainda não se sabe, mas de certa forma eles colaboraram, e muito, com a deterioração de nossa cultura, crucial para desmobilizar o povo pobre e tirá-lo do protagonismo das mobilizações sociais.
Sem essa mobilização popular, as esquerdas se isolaram. O povo foi dançar o "funk", o tecnobrega, a música de Waldick e Odair, e os líderes esquerdistas, isolados, ficaram mais vulneráveis.
O "orgulho de ser pobre", o "ufanismo das favelas" do bordão "a favela é meu lugar" aprisionou o povo pobre nessas residências irregulares e perigosas, para que a repressão policial da direita pudesse praticar seu extermínio, com "balas" perdidas e tiros vindos de helicópteros, num lugar preciso.
E por que esse discurso da intelectualidade "bacana", que defendeu paradigmas culturais vindos da mídia reacionária - "muitíssimo popular", mas de interesse das oligarquias midiáticas nacionais e regionais (estas ligadas ao latifúndio) - , conseguiu enganar as esquerdas de todo o Brasil?
Simples. As gerações mais novas de esquerdistas, nascidas dos anos 1960 para cá, foram culturalmente educadas pela ditadura militar.
Desaforo? Não. É porque, nos anos 1970, o que prevalecia era justamente a mídia venal. E, com a supremacia absoluta da Rede Globo, até as decadentes TV Tupi e TV Record e a emergente TV Studios (depois SBT) pareciam "mídia alternativa".
Não havia contraponto. A MPB alternativa não alcançava muitos jovens de classe média, que tinham o veneno cultural do brega como única opção viável.
É só perceber a visão diferente dos esquerdistas mais velhos e os mais jovens (estes com menos de 60 anos de idade, hoje).
Os mais velhos conheceram os CPCs da UNE, a Bossa Nova, os grandes cancioneiros populares - só para citar dois, Luís Gonzaga e Jackson do Pandeiro - , o proto-bossanovista Dorival Caymmi, a geração literária de 1945, o Teatro Oficina etc.
Os mais jovens não tinham acesso a isso, por conta do AI-5. Ficando em casa, o que eles tinham em acesso era o Programa Sílvio Santos, o Show do Bolinha, o Programa Raul Gil.
Chacrinha e Flávio Cavalcânti tentaram beliscar a mediocridade cultural, um buzinando maus calouros, outro quebrando discos ruins. Mas o primeiro não foi levado a sério e o segundo, visto de maneira depreciativa.
Enquanto isso, crianças que, cuidadas por babás enquanto seus pais trabalhavam conforme o receituário do "milagre brasileiro", ficavam diante da TV, apreciavam com naturalidade a bregalização, que, ingenuamente, viam como "saudável provocatividade".
Claro que há exceções, mas a maioria dos esquerdistas mais jovens foram educados pela ditadura militar e pela influência que esta trouxe à mídia hegemônica nos últimos anos.
E aí vemos o contraste que foi simbolizado pela revista Caros Amigos, veículo da mídia alternativa que foi abatido justamente porque tentou defender a bregalização, porque seus leitores a boicotavam quando viam que compartilhava das mesmas pautas popularescas de Globo, SBT, Folha e Abril.
Víamos o editor de Caros Amigos, José Arbex Jr. falando mal do "funk", por exemplo, e seus contemporâneos falando que o "sertanejo", mesmo o de Chitãozinho & Xororó, nada tinha a ver com a música caipira de raiz.
Enquanto isso, os mais jovens acolheram o "funk" e Caros Amigos contratou MC Leonardo, apadrinhado pelo cineasta José Padilha (do Instituto Millenium) e sob um lobby liderado pela antropóloga Adriana Faccina, ligada a Fernando Henrique Cardoso.
Pedro Alexandre Sanches, o "príncipe" da intelectualidade "bacana" e seu pseudo-esquerdismo de "jogar para a plateia" através do forçado e patético codinome "Lula Alexandre Sanches" no Twitter, ficou muito tempo esculhambando Chico Buarque.
Xingado de "coronel da Fazenda Modelo", Chico Buarque era o artista que mais apoiava Lula e Dilma Rousseff nos momentos mais difíceis.
Falsos apoiadores do PT, os funqueiros, em contrapartida, nunca participaram de manifestações esquerdistas de verdade, a não ser por oportunismo. E apunhalavam as esquerdas pelas costas, comemorando suas vitórias na mídia venal.
A ignorância e o deslumbramento infantil das esquerdas mais jovens permitiu que o brega buscasse protagonismo às custas desses esquerdistas alucinados.
Eles imaginavam que Waldick Soriano e Tati Quebra-Barraco, além do depois declarado bolsonarista Zezé di Camargo, iriam trazer a revolução bolivariana para o Brasil.
Não trouxeram. E Zezé di Camargo nunca foi esquerdista. Ele havia composto uma música chamada "Meu País", que cairia bem no governo de Emílio Médici, e votou no ruralista Ronaldo Caiado, mesmo quando muitos enganosamente o viam como um "grande esquerdista".
Mas também Waldick havia apoiado a ditadura militar e o "funk", no seu todo, é um "Frankenstein" dotado de paradigmas culturais trazidos pelo SBT e pela Rede Globo, somados.
Os funqueiros se enrolavam para explicar o conservadorismo cultural do gênero como uma "imposição das elites". Não convenciam ao alegar que os funqueiros usavam esse "caldeirão cultural" como contra-ataque.
As esquerdas que hoje desconfiam de Tábata se esqueceram que MC Leonardo já representava esse mesmo "progressismo de fachada". Luciano Huck é o elo de ligação de Tábata e MC Leonardo.
Ver que as esquerdas - mesmo aquelas que ficam gritando "Lula Livre" aos berros na sua casa ou nas plateias diversas - aceitaram paradigmas culturais da mídia venal, é assustador.
"Médiuns espíritas" de ternos cafonas e, às vezes, perucas ridículas, mulheres-frutas, tabloides policialescos que noticiam aberrações (tipo "mulher cortou o 'pinto' do marido por se sentir traída"), cantores bregas com letras de dor-de-corno, tudo isso as esquerdas engoliram, tolamente.
Não queriam admitir que isso era vindo justamente da mídia venal que os esquerdistas esculhambavam apenas no âmbito do jornalístico político e, às vezes, dos humorísticos.
E foi tanto acolhimento da cultura de centro-direita, do popularesco que atendia aos interesses das oligarquias midiáticas mais retrógradas - e, em parte, hoje apoiadora do governo Jair Bolsonaro - , que as esquerdas perderam o protagonismo.
A intelectualidade "bacana" teve seus anos de visibilidade. Quanto cartaz teve, por exemplo, um Milton Moura, na Bahia, que achava que "cultura popular" era o É O Tchan e o Psirico, enquanto esnobava Cartola, julgando que ele fazia "música sofisticada" (no sentido pejorativo)?
Não fosse o meu blogue Mingau de Aço, espécie de "patinho feio" da mídia alternativa, a bregalização ocorreria e colocou as esquerdas em situação mais ridícula ainda.
Na ressaca da campanha pelo dito "combate ao preconceito" da bregalização cultural, quando é hora de lavar a "roupa suja" dessa farra intelectualoide, o golpismo político mostrou que o sonho brega se resultou num pesadelo direitista.
Queriam combater o tal "preconceito", que atribuíam à rejeição da sociedade à cultura popularesca, e o que combateram, na verdade, foi o Ministério da Cultura, a Lei Rouanet e a imprensa alternativa impressa.
Passado o verão da "pobreza linda", toda a retórica pseudo-progressista se revelou um culturalismo conservador.
A "santíssima trindade" da intelectualidade "bacana", São Pedro, São Paulo e Santo Hermano (Pedro Alexandre Sanches, Paulo César de Araújo e Hermano Vianna), canonizados pelas redes sociais e pelas esquerdas ludibriadas, abriram o caminho para o golpe de 2016.
Se foi ou não um propósito pessoal deles, ainda não se sabe, mas de certa forma eles colaboraram, e muito, com a deterioração de nossa cultura, crucial para desmobilizar o povo pobre e tirá-lo do protagonismo das mobilizações sociais.
Sem essa mobilização popular, as esquerdas se isolaram. O povo foi dançar o "funk", o tecnobrega, a música de Waldick e Odair, e os líderes esquerdistas, isolados, ficaram mais vulneráveis.
O "orgulho de ser pobre", o "ufanismo das favelas" do bordão "a favela é meu lugar" aprisionou o povo pobre nessas residências irregulares e perigosas, para que a repressão policial da direita pudesse praticar seu extermínio, com "balas" perdidas e tiros vindos de helicópteros, num lugar preciso.
E por que esse discurso da intelectualidade "bacana", que defendeu paradigmas culturais vindos da mídia reacionária - "muitíssimo popular", mas de interesse das oligarquias midiáticas nacionais e regionais (estas ligadas ao latifúndio) - , conseguiu enganar as esquerdas de todo o Brasil?
Simples. As gerações mais novas de esquerdistas, nascidas dos anos 1960 para cá, foram culturalmente educadas pela ditadura militar.
Desaforo? Não. É porque, nos anos 1970, o que prevalecia era justamente a mídia venal. E, com a supremacia absoluta da Rede Globo, até as decadentes TV Tupi e TV Record e a emergente TV Studios (depois SBT) pareciam "mídia alternativa".
Não havia contraponto. A MPB alternativa não alcançava muitos jovens de classe média, que tinham o veneno cultural do brega como única opção viável.
É só perceber a visão diferente dos esquerdistas mais velhos e os mais jovens (estes com menos de 60 anos de idade, hoje).
Os mais velhos conheceram os CPCs da UNE, a Bossa Nova, os grandes cancioneiros populares - só para citar dois, Luís Gonzaga e Jackson do Pandeiro - , o proto-bossanovista Dorival Caymmi, a geração literária de 1945, o Teatro Oficina etc.
Os mais jovens não tinham acesso a isso, por conta do AI-5. Ficando em casa, o que eles tinham em acesso era o Programa Sílvio Santos, o Show do Bolinha, o Programa Raul Gil.
Chacrinha e Flávio Cavalcânti tentaram beliscar a mediocridade cultural, um buzinando maus calouros, outro quebrando discos ruins. Mas o primeiro não foi levado a sério e o segundo, visto de maneira depreciativa.
Enquanto isso, crianças que, cuidadas por babás enquanto seus pais trabalhavam conforme o receituário do "milagre brasileiro", ficavam diante da TV, apreciavam com naturalidade a bregalização, que, ingenuamente, viam como "saudável provocatividade".
Claro que há exceções, mas a maioria dos esquerdistas mais jovens foram educados pela ditadura militar e pela influência que esta trouxe à mídia hegemônica nos últimos anos.
E aí vemos o contraste que foi simbolizado pela revista Caros Amigos, veículo da mídia alternativa que foi abatido justamente porque tentou defender a bregalização, porque seus leitores a boicotavam quando viam que compartilhava das mesmas pautas popularescas de Globo, SBT, Folha e Abril.
Víamos o editor de Caros Amigos, José Arbex Jr. falando mal do "funk", por exemplo, e seus contemporâneos falando que o "sertanejo", mesmo o de Chitãozinho & Xororó, nada tinha a ver com a música caipira de raiz.
Enquanto isso, os mais jovens acolheram o "funk" e Caros Amigos contratou MC Leonardo, apadrinhado pelo cineasta José Padilha (do Instituto Millenium) e sob um lobby liderado pela antropóloga Adriana Faccina, ligada a Fernando Henrique Cardoso.
Pedro Alexandre Sanches, o "príncipe" da intelectualidade "bacana" e seu pseudo-esquerdismo de "jogar para a plateia" através do forçado e patético codinome "Lula Alexandre Sanches" no Twitter, ficou muito tempo esculhambando Chico Buarque.
Xingado de "coronel da Fazenda Modelo", Chico Buarque era o artista que mais apoiava Lula e Dilma Rousseff nos momentos mais difíceis.
Falsos apoiadores do PT, os funqueiros, em contrapartida, nunca participaram de manifestações esquerdistas de verdade, a não ser por oportunismo. E apunhalavam as esquerdas pelas costas, comemorando suas vitórias na mídia venal.
A ignorância e o deslumbramento infantil das esquerdas mais jovens permitiu que o brega buscasse protagonismo às custas desses esquerdistas alucinados.
Eles imaginavam que Waldick Soriano e Tati Quebra-Barraco, além do depois declarado bolsonarista Zezé di Camargo, iriam trazer a revolução bolivariana para o Brasil.
Não trouxeram. E Zezé di Camargo nunca foi esquerdista. Ele havia composto uma música chamada "Meu País", que cairia bem no governo de Emílio Médici, e votou no ruralista Ronaldo Caiado, mesmo quando muitos enganosamente o viam como um "grande esquerdista".
Mas também Waldick havia apoiado a ditadura militar e o "funk", no seu todo, é um "Frankenstein" dotado de paradigmas culturais trazidos pelo SBT e pela Rede Globo, somados.
Os funqueiros se enrolavam para explicar o conservadorismo cultural do gênero como uma "imposição das elites". Não convenciam ao alegar que os funqueiros usavam esse "caldeirão cultural" como contra-ataque.
As esquerdas que hoje desconfiam de Tábata se esqueceram que MC Leonardo já representava esse mesmo "progressismo de fachada". Luciano Huck é o elo de ligação de Tábata e MC Leonardo.
Ver que as esquerdas - mesmo aquelas que ficam gritando "Lula Livre" aos berros na sua casa ou nas plateias diversas - aceitaram paradigmas culturais da mídia venal, é assustador.
"Médiuns espíritas" de ternos cafonas e, às vezes, perucas ridículas, mulheres-frutas, tabloides policialescos que noticiam aberrações (tipo "mulher cortou o 'pinto' do marido por se sentir traída"), cantores bregas com letras de dor-de-corno, tudo isso as esquerdas engoliram, tolamente.
Não queriam admitir que isso era vindo justamente da mídia venal que os esquerdistas esculhambavam apenas no âmbito do jornalístico político e, às vezes, dos humorísticos.
E foi tanto acolhimento da cultura de centro-direita, do popularesco que atendia aos interesses das oligarquias midiáticas mais retrógradas - e, em parte, hoje apoiadora do governo Jair Bolsonaro - , que as esquerdas perderam o protagonismo.
A intelectualidade "bacana" teve seus anos de visibilidade. Quanto cartaz teve, por exemplo, um Milton Moura, na Bahia, que achava que "cultura popular" era o É O Tchan e o Psirico, enquanto esnobava Cartola, julgando que ele fazia "música sofisticada" (no sentido pejorativo)?
Não fosse o meu blogue Mingau de Aço, espécie de "patinho feio" da mídia alternativa, a bregalização ocorreria e colocou as esquerdas em situação mais ridícula ainda.
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