O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva recebeu ontem o editor da revista Fórum, Renato Rovai, em mais uma das entrevistas que marcarão a nossa História.
Lula manteve o mesmo tom seguro das demais entrevistas e com a consciência ainda mais tranquila.
Afinal, os antigos "heróis" das elites, Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, é que estão desgastados. Moro está com as relações abaladas com Jair Bolsonaro, aliás.
Por outro lado, a Justiça de São Paulo não aceitou a denúncia de que Lula e seu irmão, Frei Chico, recebiam "mesadas" da Odebrecht, por entender que ela foi formulada por suposições.
A decisão foi dada pela 7ª Vara Federal Criminal em São Paulo-SP, através do juiz federal Ali Mazloum, para o qual os fatos da denúncia não têm todos os elementos legais exigidos configurar o delito, não havendo pressuposto processual nem justa causa para abrir uma ação penal.
"A denúncia é inepta. Não seria preciso ter aguçado senso de justiça, bastando de um pouco de bom senso para perceber que a acusação está lastreada em interpretações e um amontoado de suposições", diz o documento da decisão do juiz Mazloum.
Entre várias coisas, Lula chamou a atenção para que se tenha prudência quanto ao movimento Lula Livre.
Lula afirmou que existem coisas mais importantes que o "Lula Livre", embora tenha afirmado que "a luta por direitos não deve considerar a campanha em razão de sua liberdade como uma 'afronta'". Disse Lula:
“Eu nunca pedi, o PT nunca vai pedir para participar de um encontro em que possa defender o Lula Livre. Tem coisa mais importante neste país, sobretudo para os pobres. Não tem coisa mais importante que o emprego, que a educação, que o feijão, o arroz, o leite, o café, a manteiga, para as pessoas mais pobres. Não é Lula Livre que é a coisa principal, mas as pessoas não podem abdicar de um petista gritar Lula Livre. Isso não pode ser uma afronta”
Por outro lado, Lula também se manteve crítico em relação ao movimento Direitos Já, liderado por uma frente ampla de centro-direita com o apoio de setores das esquerdas.
Ele afirmou que o PT não pode participar de movimentos organizados por gente que liderou o golpe contra Dilma Rousseff e depois apoiou a perda de direitos sociais de 2016 para cá.
Lula pediu à presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, para ir com Dilma Rousseff para o encontro que lançou o movimento Direitos Já, mas com um objetivo bastante crítico.
A companhia de Dilma Rousseff seria imprescindível, no caso, porque a ex-presidenta iria questionar se o golpe de 2016 também fazia parte da luta por direitos. Disse Lula.
Eu vou lhe dizer uma coisa que eu nunca contei para ninguém, a Gleisi esteve comigo antes do encontro e eu sugeri para a Gleisi: você deve ir, leve o Aloízio Mercadante, leve o Haddad, convida o Boulos para ir e leva a Dilma. Entre naquele plenário com a Dilma para perguntar praquelas pessoas que estão lá se a briga por direitos pressupõe discutir o impeachment da Dilma. Porque não dá para você ficar achando que é o PT que não quer participar, democraticamente, com outras frentes".
Lula acrescentou: "O PT não vai aceitar isso. Não dá para você construir uma frente ampla, não dá para defender direitos com que tirou os direitos".
O mais irônico disso tudo é que o ex-governador da Bahia, Rui Costa, virou "vidraça" porque disse que o "Lula Livre" não é prioridade.
O próprio Lula sabe que são necessárias condições diversas para ele sair da prisão.
Não é uma questão do carcereiro com sua chave abrir a cela e liberar Lula.
É necessário que se recupere a moralidade institucional e o respeito às leis e ao interesse público, porque desde 2016, tudo isso ficou bastante fragilizado.
E devemos lembrar que Lula ainda é odiado por uma parcela elitista da população, muito minoritária mas que faz muito barulho (e robôs) na Internet.
É necessário que retomemos as condições legais e institucionais para pavimentarmos o caminho para Lula sair da prisão.
Ele não pode apenas ser solto num contexto de democracia sob risco. É preciso, em primeiro lugar, restabelecer a própria democracia, o clima de legalidade e também vigilância contra a violência dos bolsonaristas, hoje irritados por não aceitarem sua decadência.
O Brasil está ainda numa situação frágil, embora o cenário extremo-direitista que se desenhou em outubro do ano passado esteja passando por um perecimento avançado, agora com gente desembarcando do bolsonarismo.
Mas a situação ainda pede cautela.
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