A onda de violência que atinge as mulheres, ceifando muitas vidas a ponto de criar lacunas em várias atividades sociais, tem uma origem. Grande parte dos casais se une, sem afinidade, unidos na maioria das vezes apenas pela união temporária das noites de muito álcool, piadas e cardápios atraentes.
A cultura da falta de afinidade é a raiz de tudo, além das pressões que obrigam o homem a ter uma parceira de qualquer maneira. A solteirofobia também influi na ocorrência da violência de homens contra mulheres. Mas isso é assunto para outro texto mais para a frente.
É claro que o idiota da Internet vai achar que isso nada tem a ver. E o negacionista factual, o atleta isentão que tenta driblar a realidade, também. Vão dar uma de “humanistas” e apelar para o discurso poético falando em “superação das diferenças”, da “união entre opostos” que soa bonito no concerto das palavras, mas não tem aplicação real na realidade. De palavras bonitas, a biblioteca das mentiras e das ilusões está superlotada.
Na prática, a ilusão de bares e boates, incluindo o uso tóxico do álcool e, em outros contextos, desprezando a afinidade humana e priorizando o egoísmo individual, tudo isso se torna um coquetel perigoso que, num momento de atritos e tensões extremas, ocorre o feminicídio.
No último domingo houve uma série de manifestações dos movimentos sociais, sob o comando do Movimento Mulheres Vivas, contra a onda de feminicídios que ocorreram não somente na capital paulista, mas também em todo o Brasil. A iniciativa é muito mais do que válida, é urgente diante do fato de que a transformação do crime de feminicídio de homicídio doloso para hediondo, endurecendo suas sanções penais, não está desencorajando essa triste ação em todo o Brasil.
Com toda a certeza, devemos pedir medidas mais duras para os feminicidas, como aumentar a pena de prisão, em regime fechado, de 30 para 50 anos, com aumento para 60 ou mais para agravantes como cometer o crime na frente de familiares, principalmente filhos, ou então em ambientes públicos ou ao ar livre.
Mas devemos também cortar o mal pela raiz. Afinal, temos uma cultura que demoniza as afinidades pessoais, vendo mais graça nas relações sem afinidade que alimentam o voyeurismo social nas redes da Internet. Ou seja, o julgamento de valor dos outros também influi e glorifica mais os casais divergentes e sua relação “comercial de margarina” do que os casais afins, estes não obstante ridicularizados.
E há também o quase monopólio de bares e boates na busca de vida amorosa, estes que são ambientes sem muita confiabilidade, pois esses lugares são onde os estranhos se tornam estranhos, apesar da falsa intimidade e a falsa fraternidade que representam esses eventos.
Pelo interesse de lucro, os empresários de bares e boates, que, sob os desígnios da Faria Lima, comercializam o prazer etílico noturno a ponto de promoverem a gíria “balada” como uma mercadoria associada a um pretenso ideal de vida, impõem a supremacia da diversão noturna como único meio de arrumar a vida amorosa, coisa que só foi quebrada nos últimos anos pelos aplicativos de namoro nas redes sociais, estes oferecendo os mesmos riscos e ilusões das casas noturnas, só que num âmbito virtual.
Temos que combater o feminicídio de todas as frentes. Cortar o mal pelo caule não vai resolver o problema, é preciso rever a cultura de vida amorosa e deixar de medir o amor pela bebedeira noturna ou pelas divergências forçadamente unidas pelas conveniências. Se não houver essa revisão, a violência contra a mulher continuará ocorrendo, pouco importando os protestos e o repúdio da sociedade.
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