OS ESCRITORIOS SÃO EXEMPLOS DE QUE AS ELITES, NO BRASIL, IMPÕEM VALORES E CONCEITOS A PARTIR DESSES AMBIENTES FECHADOS.
Um fato tristemente surpreendente é que o Brasil, nos últimos tempos, virou a “sociedade das cavernas”, com o monopólio dos ambientes fechados que ditam as visões de mundo a prevalecer em no senso comum e, se possível, até sobre o próprio mundo em volta.
Tivemos uma ditadura militar que representou um governo fechado, com as decisões políticas feitas dos quartéis, a partir do arbítrio de velhos generais que, em primeiro instante, tentaram enganar a população impondo um modelo de “democracia” que não convenceu.
Depois, a chamada distensão da ditadura veio a partir dos escritórios da Faria Lima, que bolaram um modelo de “redemocratização” que era “lenta, gradual e segura”, dentro da tradição de procrastinação das classes dominantes, deixando para depois as mudanças para que não cause susto nos detentores do poder.
Até a cultura popular foi privatizada, pois a dita “expressão do povo pobre” não é mais do que falsos artistas do mundo popularescos e subcelebridades gerenciadas por empresas de entretenimento. As pessoas nas redes sociais não conseguem entender isso, o que é muito grave, pois o aspecto de show business da cultura brega-popularesca salta aos olhos.
Até na religião a influência dos ambientes fechados é evidente. No Espiritismo brasileiro, as ditas “psicografias”, mensagens falsamente creditadas a personalidades mortas, são forjadas nas salas secretas dos “centros espíritas”, com os “médiuns” e outros dirigentes consultando fontes bibliográficas referentes ao falecido de ocasião para produzir mensagens de puro propagandismo religioso.
Essas mensagens revelam uma atitude rejeitada pelo próprio Allan Kardec, que chamava a atenção do caráter leviano de textos que carregam nomes de “pessoas ilustres” (famosas) com o objetivo de promover mistificação. Sabemos o quanto o Brasil desenvolve um “kardecismo” que contraria o próprio precursor.
Na cultura rock, o yuppismo da rádio 89 FM - que deveria se chamar A Rádio Rockefeller - também mostra a supremacia dos ambientes fechados, sobretudo pelos escritórios da Faria Lima conectados pelos estúdios na Praça Osvaldo Cruz, no final da Avenida Paulista propriamente dita - pois no local a via passa a se chamar Rua Bernardino de Campos - , reduzindo a cultura roqueira a um mero negócio empresarial que aumentou o poder da família Camargo, algo tão condizente com o rock quanto Edir Macedo para o candomblé brasileiro.
O próprio radiojornalismo atual, cada vez mais conservador na sua função de tecnocrata da opinião, hierarquiza o debate público nas mãos de “especialistas” que, dentro das quatro paredes de um estúdio radiofônico, tentam fazer o mundo caber dentro dele. Sempre os ambientes fechados.
No ramo da estatística, vemos que o mito de “cidade-mulher” atribuído a Salvador, mesmo contrariando um quadro de êxodo rural que despeja milhares de homens para a capital da Bahia, o que impera não é a realidade dos fatos ocorrida a céu aberto, mas o que os gabinetes declaram.
O mais ridículo disso tudo é que, para confirmar esse mito de “cidade-mulher”, apela-se para a mesma ladainha da vida noturna nas boates, com uma elipse claramente preconceituosa: “Falta homem (bonito) em Salvador”. Sempre os ambientes fechados, neste caso bares e boates
No governo Lula, quem diria, os ambientes fechados também aparecem, através de dados de gabinetes que tentam se impor até mesmo ao cotidiano das classes populares. Sim, são os gabinetes do governo que, sob o pretexto de “informar o povo sobre as realizações de Lula”, coloca a imaginação dos relatórios acima da realidade vivida pela população. Vide os “recordes históricos” do “Efeito Lula” que o povo pobre da vida real não viu.
De repente, ambientes fechados passaram a valer mais que a realidade concreta dos fatos. Boates, escritórios, gabinetes, salas secretas, verdadeiros cativeiros de ideias que querem impor suas verdades nem tão verdadeiras assim.
E quem é que apoia isso tudo?
São os internautas médios, que também vivem em ambientes fechados. Vivem nos seus quartos, também buscando a posse da verdade, brigando com os fatos e lutando para ficar sempre com a palavra final. O negacionista factual surge como o vigilante dessa patota toda.
Esses ambientes fechados atuam como as formas modernas das cavernas analisadas pelo filósofo Platão. São diversos setores da sociedade que, sob quatro paredes, querem manar no mundo.
É assustador ver que essas “cavernas” no Brasil querem mandar no planeta sob a ilusão de que nosso país entrará no Primeiro Mundo através dessa elite do atraso repaginada. Uma prepotência surgida dentro dos escritórios do IPES-IBAD e que hoje sequestrou até as esquerdas brasileiras. Um cenário tenebroso disfarçado de “coisa boa”.
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