O nível de ingenuidade e complacência que existe no Brasil faz com que, no plano religioso, sejam criticadas e repudiadas religiões marcadas por pregadores rancorosos que, aos gritos, extorquem dinheiro dos fiéis, mesmo os mais pobres.
Sim, eles são ruins, malignos, nocivos e retrógrados, mas seria ingênuo saber que os males da fé traiçoeira se encerram por aí, pois as piores armadilhas são aquelas que são difíceis de serem identificadas. O mentiroso não é aquele que, com sorriso cínico, avisa para a multidão “Cuidado que eu minto, gente!”, mas aquele que, com voz suave, se passa por “defensor da verdade” com estórias pretensamente sublimes.
Pregadores da Teologia do Sofrimento, os vendilhões da esperança, verdadeiros varejistas da fé, se gabam de não serem do mesmo jeito histriônico dos neopenteques e sua cosmética do raivismo. Os vendilhões da esperança, presentes no Espiritismo brasileiro e em setores conservadores do Catolicismo e de seitas ecumênicas como a LBV, acham que podem ser absolvidos por adotarem um tom de fala dócil e manso e pelo tendencioso envolvimento no assistencialismo ao povo pobre.
Como vendedores de lojas, os vendilhões da esperança precisam da “matéria-prima” dos pobres, oprimidos e excluídos em geral para exercer sua tendenciosa caridade, visando obter as comissões para o Céu. Mal conseguem vibrar de alegria quando oprimidos contam suas dificuldades pesadas, já pensando nos prêmios celestiais do Alto.
No entanto, eles procuram disfarçar. Mas os olhares mostram a alegria. Mais um oprimido para ele investir sua solidariedade de fachada, e os vendilhões da esperança sonham com sua coleção de desgraçados para o marketing certeiro da filantropia para impressionar os outros.
Os vendilhões da esperança encantam a burguesia ilustrada que, metida a progressista, confunde a emancipadora Teologia da Libertação com a castradora Teologia do Sofrimento. Hipócrita, essa elite do privilégio pede para os pobres sofrerem calados, sem reclamar, em troca de lugares mais nobres no Céu.
Os vendilhões da esperança, no seu juízo de valor, julgam a vontade alheia conforme os pontos de vista desses exploradores da desgraça alheia. Para esses malabaristas das palavras, os oprimidos não têm desejos, só têm a obrigação de "obedecer os desígnios de Deus". Tudo isso é defendido pelo balé das palavras bonitas, das quais ninguém desconfia que sejam profundamente traiçoeiras.
A blindagem que os vendilhões da esperança - que não são conhecidos por este nome - recebem da "boa" sociedade é assustadora. A gente vê que, nas redes sociais, os únicos vilões são os neopentecostais, com seu discurso claramente raivoso. Tudo bem, eles são prejudiciais, mas devemos tomar cuidado com outros pregadores que, com suas vozes suaves e sorridentes, dizem que "sofrer é lindo". Estes oferecem um perigo maior ainda, convém ficarmos espertos.
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