Falecido de infecção pulmonar aos 85 anos no último sábado, o ídolo brega Lindomar Castilho, também conhecido por um feminicídio ocorrido no momento em que sua esposa Eliane de Grammont cantava música brasileira num palco, em 1981, foi alvo de fake news plantada pelo escritor e professor de História Paulo César de Araújo, no seu livro Eu Não Sou Cachorro Não, de 2000.
De acordo com o que eu pesquisei para o livro Esses Intelectuais Pertinentes... e também reproduzido no meu outro livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)..., Lindomar, conhecido por sucessos regravados pela dupla Leandro & Leonardo e por ter um sucesso, "Doida Demais", virado tema do seriado Os Normais, da Rede Globo, teria sido, segundo Araújo, "homenageado" pelo Movimento Popular de Libertação de Angola.
A narrativa "doida demais" de Paulo César de Araújo atribuía uma música do "rei dos boleros", o merengue "Eu Canto Que o Povo Quer" a um suposto sucesso radiofônico no país lusófono africano, no ano de 1974, ano da referida rebelião angolana que fez o país tornar-se independente de Portugal, que mal havia saído da ditadura salazarista com a Revolução dos Cravos naquele ano. O sucesso é de autoria de Manuel Rui, que fez a letra, e Rui Mingas, autor da música.
Araújo creditou a canção de Lindomar como o "hino" dos ativistas do MPLA, que supostamente teriam homenageado o ídolo cafona com a construção de uma estátua no Departamento de Cultura de Angola. Eu pesquisei no Google e não vi qualquer indício dessa homenagem. Os únicos artistas brasileiros homenageados pelo Departamento de Cultura de Angola foram Gilberto Gil e Martinho da Vila.
No calor do "combate ao preconceito", o livro de Paulo César de Araújo foi considerado "a Bíblia" por um bando de reacionários pseudo-progressistas na Internet, que se achavam no juízo de valor de classificar a "cultura popular" com seus pontos de vista etnocêntricos.
Foi essa onda de "combate ao preconceito", quando uma elite de intelectuais expressava o pretenso reconhecimento de valor da cultura brega-popularesca, que desmobilizou as classes populares, recomendadas a "permanecer" no divertimento popularesco, tido pela intelligentzia como "ativismo político" - antecipando os devaneios do discurso identitarista importado do neoliberalismo dos EUA - , deixando os debates públicos das esquerdas reduzidos a reuniões de cúpula.
O "combate ao preconceito" acabou abrindo caminho para o golpe jurídico de 2016 e permitiu a ascensão de Jair Bolsonaro ao poder. E isso apesar dos intelectuais pró-brega se passarem por "pensadores de esquerda". No fundo, porém, essa turma comandada pela "santíssima trindade" formada por Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna nunca passou de um IPES-IBAD com chapéu de frutas na cabeça, fazendo mais o serviço da direita neoliberal e da burguesia empresarial.
No fundo, todo esse falatório em favor da música brega-popularesca só serviu para uma coisa: consagrar os fenômenos popularescos como trilha sonora para bebedeiras nos bares e boates de todo o Brasil.
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