NOS MANDATOS ANTERIORES, O PRESIDENTE JÁ FOI MAIS GENEROSO NAS POLÍTICAS SALARIAIS. MAS LULA AGORA OBRIGA OS BRASILEIROS POBRES A "APERTAR O CINTO" E RACIONALIZAR O ORÇAMENTO.
O atual mandato de Lula nos ensina o que é a atuação de um pelego, termo muito comum nos movimentos sindicais para definir o representante dos trabalhadores que faz jogo duplo, atendendo aos interesses dos patrões, trazendo menos benefícios para os empregados. Atribuir peleguismo a Lula hoje desagrada muita gente, mas a realidade confirma essa prática infeliz.
Eu gastei cerca de duas horas e meia ouvindo as entrevistas de Lula quando estava preso. Eu mais do que acreditava que Lula fosse repetir e até ampliar sua atitude técnica em trabalhar pelo país. Achava que, com a reconstrução, Lula poderia trabalhar com frieza cirúrgica para evoluir a vida dos brasileiros.
Daí minha decepção. Lula voltou mais festivo, o presidente festejou antes de trabalhar, viajou antes de adotar medidas em favor dos brasileiros e ainda por cima se aliou ao empresariado mais mão-fechada sob a desculpa de promover a “democracia”. Lula voltou estranho e não é por ser Lula que eu vou passar pano nos seus erros.
É certo que Lula anunciou anteontem, a isenção de Imposto de Renda para pessoas que recebem até R$ 5 mil e que tal benefício foi apelidado pelo presidente como “14° Salário”, com um comentário desnecessário para os brasileiros comprarem uma “TV maior para assistir à Copa”.
Mas, em contrapartida, além de continuarem o IOF e os juros da dívida pública bastante altos, já se fala em reduzir a previsão do salário mínimo de 2026, de R$ 1.631 para R$ 1.627. A desculpa para tal recuo é porque a inflação, adotada como medida para cálculos salariais, ficou abaixo do esperado. Na prática, porém, Lula pretende apertar o cinto do povo pobre, pois os aumentos de preços terão um ritmo mais acelerado se comparado com o reajuste salarial agora previsto.
No entanto, é a lógica do pelego. Nos movimentos sindicais, um líder sindical leva consigo as reivindicações de sua categoria, que envolvem um expressivo índice de aumentos salariais, mais encargos e reposição de perdas salariais. Se o líder sindical, ao negociar, aparentemente, com os patrões, traz apenas conquistas parciais, como um pequeno reajuste sem encargos nem reposição de perdas, o sindicalista age como pelego, pois protege os interesses do empresariado.
Lula age assim. Eu noto o quanto ele não é assertivo nas suas decisões, se comportando como aquele que sai de casa sem dar aviso para quem vive com ele, se omitindo a responder para onde vai. O presidente brasileiro parece distante no seu olhar e nas suas posturas, parece falar do alto de seu pedestal.
E aí vemos o quanto o povo pobre da vida real - não os pobres "limpinhos", os "pobres de novela", do imaginário e da propaganda lulistas - está decepcionado com o presidente. Para a burguesia que aplaude Lula até quando ele tosse, tudo é maravilhoso, tanto faz baixar um valor já precário como R$ 1.631 para R$ 1.627, que é mais precário ainda, porque a nata de apoiadores de Lula, que fazem barulho nas redes sociais, ganha, no mínimo, mais de quatro salários mínimos.
Mas, para o povo pobre real, ganhar R$ 1.631 e alguns auxílios financeiros não lhe dará a prosperidade necessária para comprar "aquela TV maior para a Copa", pois ainda haverá dificuldade entre dividir a grana entre o pagamento de dívidas, a compra de comidas e a "vaquinha" para os remédios para manter algum familiar mais idoso vivo.
O mais irônico é que Lula já foi mais generoso com reajustes salariais, com um índice de aumento anual entre R$ 120 e R$ 140. Se for pelos padrões dos mandatos anteriores de Lula, o salário mínimo previsto para 2026 teria sido de R$ 1.936, um valor ainda bem inferior ao do que recomenda o DIEESE, mas seria algo próximo do minimamente decente.
E imaginar que, em outros tempos, um fazendeiro gaúcho criador de gados, que foi João Goulart, era mais ousado em aumentos salariais, chegando a dobrar o salário mínimo quando foi ministro de Trabalho de Getúlio Vargas, em 1954. Um ex-sindicalista mal consegue, agora, um pálido R$ 119 para somar ao salário de R$ 1.518 que mal dá para botar as contas do mês em dia sem apertar o orçamento de alimentos.
No pronunciamento de ontem, Lula criticou a concentração de renda dos super-ricos, dos quais pretende cobrar apenas 10% de taxas mensais. O problema é que os lulistas também têm seus "super-ricos de estimação", como os empresários de cervejas, cigarros, futebol e do entretenimento, para os quais despejam generosas quantias financeiras para seu lazer tóxico, obsessivo e consumista.
E aí vemos o quanto a burguesia ilustrada está exaltada com Lula, enquanto o povo pobre real está cada vez mais decepcionado. É um quadro surreal que muitos se recusam a admitir, mas é realista e verídico. Eu posso dizer isso porque, ao menos, vejo as vozes de quem está nas ruas e procuro ser mais honesto com os fatos.
Às vezes um ídolo pode cair, e Lula tornou-se uma estrela cadente nos olhos das classes populares. Somente os "pobres de novela" gostam do petista. Mas estes já não são pobres há um bom tempo.
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