Notaram que a cultura brasileira, em diversos aspectos, sucumbiu a um padrão degradante, que domestica o povo e garante poder maior ao empresariado? Expressões culturais de qualidade continuam existindo, mas elas tiveram seus espaços de manifestação reduzidos, colocados quase à margem da chamada opinião pública, tendo menos visibilidade e menos impacto de influência.
O Brasil está social e culturalmente degradado, acumulando retrocessos que se transformaram nos “novos normais” que passaram a ser aceitos dentro das zonas de conforto da complacência coletiva. Mesmo com a redemocratização, não recuperamos os parâmetros socioculturais que se desenhavam nos tempos de Juscelino Kubitschek e João Goulart. Ainda mantemos os resíduos dos tempos dos generais Emílio Médici e Ernesto Geisel, e, o que é pior, com vários desses entulhos promovidos a falsos tesouros nostálgicos.
E como é que muitos acreditam que o Brasil ainda vai chegar ao Primeiro Mundo com uma precarização sociocultural em níveis preocupantes? Isso se deve porque temos, também, uma cultura midiática e um sistema de valores que permite que se arrumem desculpas e outros artifícios para dar a impressão de que nosso país vive o melhor dos momentos em toda sua História.
E quem conduz esse sistema de valores é o think tank de empresários e publicitários que atuam nos escritórios da Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. Espécie de tradução pop do antigo IPES-IBAD que influiu no golpe militar de 1064 e do Illuminati internacional, a Faria Lima está por trás, de forma direta ou indireta, nos valores culturais, lúdicos, religiosos e morais que prevalecem desde 1974.
A multiplicidade de manobras da Faria Lima em promover um culturalismo conservador que, no entanto, estimule o hedonismo frenético entre os jovens, a beatitude assistencialista nos mais velhos e o consumismo impulsivo nas pessoas em geral, ocorre de forma tão sutil que quase ninguém se dá conta dessas armadilhas.
Fazendo parcerias com o coronelismo do Triângulo Mineiro que patrocina o Espiritismo brasileiro e com o empresariado baiano do Corredor da Vitória - institucionalmente, a “Faria Lima” de Salvador) mostram o poder da Faria Lima que montou a logística da “democracia” que não perturba o sono das elites.
Isso não é paranoia. A Faria Lima controla mesmo o inconsciente coletivo dos brasileiros. Chega mesmo a lançar gírias como "balada" e "galera", com o objetivo oculto de favorecer o enriquecimento de empresários de casas noturnas e dirigentes esportivos. E o padrão de entretenimento, entre o pop comercial estrangeiro e o brega-popularesco mais rasteiro, também sinaliza essa influência, na medida em que o consumismo está acima de qualquer necessidade de progresso humano.
Afinal, é um hedonismo que não investe na saúde mental humana nem no direito de escolhas. Vida amorosa tem que ser só pelas boates e pelos aplicativos de paqueras, apostando nos lucros dos empresários da "noite" e dos magnatas das big techs. E o "sabor" do açaí e do pistache não está neles em si, mas na simbologia social trazida pela Faria Lima.
A Faria Lima joga "funqueiros", "médiuns", ídolos cafonas, subcelebridades etc, joga o fanatismo pelo futebol em dimensões mais histéricas do que no Reino Unido, Argentina, França e Itália, impõe o consumismo e transforma o povo brasileiro num gado a ser manipulado pelos interesses privados de um empresariado situado num único bairro da Zona Sul de São Paulo, mas que é capaz de exercer tráfico de influência até nos confins de Belém do Pará.
E isso faz com que o pensamento crítico e outras formas de expressão alternativas sejam sufocados. Até a cultura rock está sob as rédeas da Faria Lima, vide as rádios 89 FM (SP) e Cidade (RJ) e os empresários que mexem com eventos de shows de rock, domesticando o público roqueiro e transformando a rebeldia numa formalidade sem alma.
Palestras? Só aquelas que envolvem o empresariado, pois as antigas palestras, com intelectuais de verdade, personalidades de valor e gente que tem o que dizer de relevante, se tornaram raras e difíceis de acontecer. Hoje o que vemos é a supremacia das "palestras" em que o coach e até o empresário palestrante fazem arremedos de comédia de estandape, contando mentiras e piadinhas para entreter o púbico.
Hoje o Brasil vive um quadro devastador, com a Faria Lima praticamente controlando os corações e as mentes dos brasileiros, sem que viva alma perceba. Quase todo mundo pensa que vive em plena liberdade, é dono do próprio nariz e vive os momentos mais felizes de sua vida.
Grande engano. Todos estão sendo controlados pelo think tank oculto de uma pequena elite paulistana que, infelizmente, demonstra querer ser a dona do Brasil. Uma "democracia" que não merece este nome, pois quem decide não é a maioria, mas uma pequenina minoria.
Comentários
Postar um comentário