A Faria lima se revela um poder alternativo que permitiu à ditadura militar diminuir sua função coercitiva diante da crise do “milagre brasileiro” - crise que não atingiu a burguesia - e do próprio desgaste do poder ditatorial. Era preciso algo mais habilidoso do que prender e/ou matar acusados de subversão e de ameaça à segurança nacional.
Daí toda a logística multifacetada de um grupo de empresários de um bairro de São Paulo que passou a “governar” paralelamente o Brasil. E a Faria Lima, com seus parceiros na mídia, na indústria do entretenimento, na religiosidade e nos esportes, entre outros setores, “desenhou” uma cara para o Brasil que não é a verdadeira, mas tornou-se definitiva através de um lobby e de uma logística que conseguiu dominar grande parte dos brasileiros.
Essa constatação é fato, apesar de chocar muitos. Para o internauta médio, tudo aquilo que durante anos significou sua felicidade não pode estar associado aos interesses de um grupo de empresários do Itaim Bibi.
Ele vai escrever textões achando isso “um absurdo” e seus quatrocentos seguidores estarão quase todos concordando com ele. Haverá até comentários irônicos do tipo “Só falta dizer que minha vida foi planejada pela Faria Lima. E os meus pais, o que fizeram?”
Mas os fatos contrariam toda essa coreografia de palavras, todo esse concerto de narrativas bem bonitinhas. Realmente a Faria Lima, em nome de interesses comerciais e socioeconômicos envolvidos, planejou todo o padrão de hábitos, costumes, ídolos e práticas aparentemente popular ou, ao menos, público.
O poder da Faria Lima é uma atualização da campanha do IPES-IBAD que derrubou João Goulart e que ganhou um aparato mais “isento” e pretensamente universal. O think tank da burguesia se tornou mais sofisticado e diversificado, com uma atuação que descartou o panfletarismo dos antigos “institutos” e buscou evitar expor um aparato institucional mais explícito.
A bregalização cultural, o vocabulário do poder (gíria “balada” e portinglês, incluindo derivativos como “boy lixo”, “foguinho” e “lovezinho”), o obscurantismo religioso (sobretudo sob a fachada do ecumenismo filantrópico) e o hedonismo desenfreado foram os meios da Faria Lima e seis parceiros nos vários cantos do país permitir a redemocratização tendo em troca a domesticação da sociedade, permitindo a manutenção dos privilégios das elites mesmo após o desgaste do projeto ditatorial.
É vergonhoso ver que a Faria Lima exerce controle direto na cultura rock, praticamente castrando a rebeldia do rock e enfraquecendo a mobilização juvenil. A 89 FM é de propriedade de uma família que defendeu a ditadura militar e é está entre as mais poderosas oligarquias empresariais do Brasil e, no entanto, tem muita gente fazendo vista grossa para esta triste realidade.
A logística da Faria Lima se dispõe de publicitários, comunicadores, psicólogos e canais midiáticos empenhados para manipular de modo emocional e inconsciente vários tipos de públicos. Tudo tem que ser feito para dar a falda impressão de que esse culturalismo flui naturalmente como o ar que respiramos, deixando milhares de pessoas contentes, para o bem dos empresários.
Esse poder da Faria Lima é comparável também aos Illuminati, a misteriosa elite que interfere no desenho social de uma população. E o mais grave é que poucos conseguem perceber tais armadilhas como tais.
Deveriam perceber, afinal a Faria Lima está por trás dos costumes e gostos que grande parte dos brasileiros passou a ter a partir do processo de condicionamento psicológico da grande mídia. O Brasil se deixa levar como se fosse marionete da Faria Lima, mas achando que está livre como anjos voando no paraíso.
É muita ingenuidade, muita credulidade, é isso não vai fazer o Brasil chegar ao Primeiro Mundo. Muito pelo contrário, mostrará um país ainda mais precarizado de tal forma que só lhe resta descer do pedestal global e arrumar a casa quieto.

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