Horrível ser pobre e negro e ter que ir a um estabelecimento comercial com muito medo. De repente, por motivo fútil, ser abordado por um segurança que tira sua vida, a sangue frio.
Meses após o caso George Floyd, parece que setores truculentos de policiais ou seguranças se sentem estimulados a fazer o que querem, exterminando pessoas honestas, boas, gente amiga e muito querida em suas comunidades.
O caso de João Beto, apelido de João Alberto Silveira Freitas, no entanto, é mais um dos milhares de casos de violência que mata negros e negras em todo o Brasil.
É apenas um dos poucos casos que ganham visibilidade e conseguem, com isso, ocupar as agendas noticiosas que tornam a revolta popular bastante visível.
João Beto, de 40 anos, era soldador de portas, e morava na comunidade de Vila Farrapos, na Zona Norte da capital gaúcha.
Ele foi agredido na noite do dia 19 de novembro, véspera do Dia da Consciência Negra, o que agrava ainda mais o sentido da brutalidade.
Segundo amigos, familiares e a própria viúva de João, Milena Borges Alves (que foi empurrada pelos agressores quando tentou socorrer o marido), a vítima era uma boa pessoa e organizava até churrascos para a vizinhança.
Os assassinos alegavam, vagamente, que João Beto era "acusado de violência doméstica, ameaça e porte ilegal de arma". Há dúvidas quanto a isso, mas mesmo que ele tivesse sido, não era razão para tamanho espancamento.
As imagens do vídeo foram reproduzidas na Internet e são muito chocantes. Dois homens espancando um outro até a morte, com gente gritando para encerrar a violência, avisando que a vítima estava morrendo.
Tudo em vão. Os seguranças só pararam quando João Beto estava agonizante, morrendo pouco depois. Depois de ter sido espancado, o soldador teria sido asfixiado.
Os dois seguranças foram detidos e identificados como Magno Braz Borges e Giovane Gaspar da Silva. Um dos dois era PM e outro não tinha autorização para trabalhar como segurança, mas não foi divulgado qual dos dois tinha uma situação e outra.
O episódio mancha a reputação do Carrefour, que é até uma boa rede de supermercados. Eu, meu irmão e meu pai falávamos que foi um erro terminar com a filial da rede francesa em Niterói.
No entanto, não se pode negar o caráter revoltante dos incidentes que ocorreram nas filiais do Carrefour.
Numa filial de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, um deficiente, Luís Carlos Gomes, em outubro de 2018, só por ter aberto uma lata de cerveja dentro do supermercado, foi perseguido e levado para um banheiro, onde sofreu violentas agressões.
Em dezembro de 2018, na filial de Osasco, um cachorro de rua foi envenenado e espancado por um segurança. O animal foi socorrido, mas morreu.
Em maio de 2019, funcionários da mesma filial de Osasco processaram a empresa por sofrerem condições degradantes e serem controlados até para uma simples ida ao banheiro para fazer necessidades físicas.
Em agosto de 2020, um promotor de vendas, Moisés Santos, de 53 anos, sofreu um ataque cardíaco numa filial de Recife e seu corpo foi coberto por um guarda-sol enquanto o supermercado funcionava normalmente.
Estes são os principais incidentes que mancham a rede de supermercados sediada na França.
A direção da rede manifestou repúdio ao crime que matou João Beto, e rompeu contrato com a empresa de segurança onde trabalharam os matadores do rapaz.
Mas será necessário uma reavaliação dos critérios de trabalho e tratamento humano da rede Carrefour no Brasil, porque os episódios acima citados desgastam completamente a empresa, sendo coisa digna até de fazê-la falir ou ter que cancelar sua presença no mercado brasileiro.
Afinal, o ato contra João Beto é extremamente revoltante e irritante, e está gerando muitos protestos que pressionam ainda mais as autoridades.
E aqui vemos o dado lamentável do vice-presidente, general Antônio Hamilton Mourão, dizer que o racismo não existe no Brasil.
Infelizmente o racismo existe, ele é muito forte, e está reduzindo a população das favelas que, no contexto do golpe de 2016 para cá, só diminuiu pela necropolítica de exterminar pobres todo ano.
Seja pela violência policial, seja pelo crime organizado, seja pela luta fratricida estimulada pela péssima educação midiática que os pobres recebem do veneno midiático popularesco.
E os negros e negras morrem em grande parte muito jovens, nesse sistema sórdido de valores em que ter uma cor de pele mais escura é considerado crime.
Devemos respeitar os negros, que já foram introduzidos no Brasil pela forma extremamente cruel da escravidão, cujo legado, lembra o sociólogo Jessé Souza, ainda continua e motivou o golpismo político dos últimos anos.
Recentemente, o sambista Martinho da Vila anunciou o lançamento de um disco voltado às raízes negras, ele que, aos 82 anos, ainda tem um vigor juvenil para transmitir informação cultural para a moçada.
Respeitemos, portanto, os negros brasileiros, e que sejam punidos aqueles que matem pessoas como João Beto e milhares e milhares de outros.
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