O modus operandi é o de um show de calouros fictício.
No palco, o cantor medíocre que, com sua voz desengonçada e seu jeito caricaturalmente pobre, procura algum lugar ao Sol na música popularesca.
Junto à plateia, antropólogos, cineastas documentaristas, jornalistas culturais e professores de História formam uma bancada, o júri do programa, e aprovam o ídolo medíocre.
Ao lado deles, um jornalista ranzinza reprova o calouro, não pela natural mediocridade, mas por valores elitistas e moralistas retrógrados, causando repulsa aos colegas de bancada.
Isso é uma metáfora para o que se resultou com a "campanha contra o preconceito" de intelectuais pró-brega, que pediam para que "não tenhamos preconceito" e aceitemos supostas expressões culturais populares que já nascem preconceituosas.
Vide, por exemplo, o mito da pobreza linda, da prostituição legal, da gourmetização da ignorância do povo pobre, da glorificação do alcoolismo para "consolar" homens miseráveis, da "modernidade pop" atribuída a uma fala de um pobre banguela etc etc.
Esse "mundo de cor e fantasia" que a "intelectualidade mais legal do país" - leiam meu livro Esses Intelectuais Pertinentes... onde tem mais detalhes - falava da bregalização cultural criou um indesejado "filho", o jornalista Rodrigo Constantino.
Afinal, se havia intelectuais patrocinados pela mídia venal (ou integrados a ela, como Pedro Alexandre Sanches, que se vendia como outsider jornalístico), falando de como a mediocrização cultural dos pobres era "maravilhosa", Constantino veio com o contraponto.
Rodrigo Constantino - cujo nome lembra o imperador Constantino, fundador do Catolicismo medieval, base doutrinária para o Espiritismo que aqui temos - não tinha o que dizer, de tão retrógrado e, sim, medieval, que ele era e continua sendo.
Mas aí enquanto intelectuais patrocinados pela Globo, Folha, Estadão, Caras e até RBS (de onde saiu a Denise Garcia que dirigiu Sou Feia Mas Tô Na Moda) iam fazer pregações na mídia esquerdista para aceitar a breguice popularesca, Rodrigo achou o gancho para se promover.
Conservador e elitista, ele fingiu que defendia uma "verdadeira cultura popular", para jogar aí seus preconceitos elitistas.
É claro que tudo virou um maniqueísmo maluco.
Sob o ponto de vista da direita raivosa, o "bem" era a intelectualidade culturalmente conservadora e "preocupada com os rumos do país", enquanto o "mal" estava na "esquerda em geral" que quis um Brasil totalmente bregalizado, com "bailes funk" chegando aos tapetes da sociedade rica nas mansões.
Sob o ponto de vista das esquerdas médias, o "bem" era a intelectualidade pró-brega, enquanto o "mal" estava nas hipotéticas elites que a "boa intelectualidade" não decidia se eram críticos musicais ou aristocratas golpistas.
Só que não há maniqueísmo. Paulo César de Araújo e Pedro Alexandre Sanches, por exemplo, eram, respectivamente, apadrinhado e integrante da mídia venal, e suas abordagens sobre cultura popular eram semelhantes ao que a mídia hegemônica transmitia.
Eles só cuidavam de não adotar um discurso raivoso. Tinham que narrar a imagem caricatural do povo pobre com um discurso "positivo" e idealizado, como se as periferias fossem "verdadeiros paraísos".
E, do nada, veio Rodrigo Constantino como um contraponto, justamente quando a intelectualidade pró-brega estava em crise, diante de episódios como a Crise do ECAD, o caso das biografias no Procure Saber etc.
Ver que Pedro Alexandre Sanches acabou, "por acidente", se unindo a Reinaldo Azevedo (então no seu intenso vigor "anti-petralha") e Rodrigo Constantino para combater Chico Buarque não deixou de ser curioso naquele 2014 em que surgiu a Operação Lava Jato, no calor das "jornadas de 2013").
Rodrigo Constantino foi o contraponto criado, pelos efeitos naturais e colaterais, pela intelectualidade que ia para as esquerdas pedir apoio à bregalização cultural.
E aí Constantino passou a defender a privatização de estatais, a derrubada do PT e outras causas obscurantistas e golpistas.
A última atitude de Constantino foi quando ele era contratado pela Jovem Pan (detentora da gíria "balada" e do padrão de locução de rádio seguido com fidelidade canina até pela 89 FM de São Paulo e Rádio Cidade do Rio de Janeiro).
Ao comentar o monstruoso caso do estupro da promotora de eventos e influenciadora digital Mariana Ferrer, cometido pelo canalha folgazão André Aranha, Rodrigo Constantino, com um jeito cínico de pretenso imparcial, passou pano nos estupradores ricos, apesar de "condenar" essa prática.
Com uma abordagem machista, Constantino falou que "existem mulheres que não são decentes" e tentou minimizar a gravidade do estupro, culpando as mulheres por isso.
Ele exemplificou a filha dele, que, se numa festa noturna fosse estuprada por alguns homens e confessasse isso ao pai, ela seria posta de castigo e Constantino não iria denunciar os estupradores.
Dizer um comentário desses contra a própria filha é aberrante. Até que ponto chegamos.
E a Jovem Pan, que é bolsonarista, e, portanto, não é um primor de humanismo, mesmo assim demitiu o rapaz, da mesma forma que, por um comentário racista, a CNN demitiu o amiguinho de Rodrigo, Leandro Narloch.
As esquerdas, entre 2002 e 2014, morderam a isca e aceitaram o papo furado de intelectuais apoiados pela mídia venal que desejavam bregalizar o Brasil, enfraquecendo o povo pobre pela cultura, para sabotar o projeto progressista dos dois governos Lula.
Diante disso, a intelectualidade pró-brega chocou a sociedade defendendo manifestações grotescas, sob a desculpa não só do "combate ao preconceito", mas supostamente contra a "ditadura do bom gosto".
Isso foi mais um gancho para irritar a sociedade e despertar seu reacionarismo. O golpe de 2016 começou quando uma geração de intelectuais decidiu defender a "cultura" brega-popularesca.
Ou seja, a intelectualidade pró-brega pariu Rodrigo Constantino. A "provocatividade" da defesa do "funk", dos ídolos cafonas etc, só provocou uma coisa: a raiva golpista das elites.
O dito "combate ao preconceito" só fez empoderar nulidades como Rodrigo Constantino.
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