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AS ESQUERDAS TÊM QUE SE UNIR, DE MANEIRA CONCRETA E OBJETIVA, SEM ILUSÕES

GUILHERME BOULOS, MARÍLIA ARRAES E MANUELA D'ÁVILA - As forças progressistas concorrendo às prefeituras, respectivamente, de São Paulo, Recife e Porto Alegre.

As esquerdas ainda não estão em bom momento. Muita calma nessa hora. A situação é ainda de muita cautela porque o golpe político de 2016 não se encerrou e o bolsonarismo apenas tende a ser um capítulo virado dessa tragicomédia golpista.

A volta das esquerdas ao poder, em 2022, só será possível quando se adotar medidas objetivas e concretas, com realismo e sem ilusões.

Não dá para sair nas redes sociais e sair comemorando só porque Jair Bolsonaro não conseguiu eleger boa parte dos candidatos que apoiou.

Só porque uma parcela das esquerdas conseguiu cargos no Legislativo municipal, como vereadores, é longe de considerar uma retomada das esquerdas.

Essa conquista é apenas um caminho possível, uma chance potencial, porém mais uma expectativa do que uma perspectiva.

O ponto positivo é em relação às prefeituras de capitais influentes como São Paulo, Recife e Porto Alegre, cuja disputa inclui os progressistas Guilherme Boulos (PSOL), Marília Arraes (PT), neta de Miguel Arraes, e Manuela d'Ávila (PC do B), ex-vice na chapa de Fernando Haddad em 2018.

Os três candidatos devem se interagir mais, porque dependerá isso para 2022 ser mais favorável às forças progressistas.

O PDT ameaçou não apoiar Manuela e chegou a fazê-lo, mas a repercussão negativa - que rendeu até charge de Carlos Latuff com o fantasma de Leonel Brizola puxando a orelha do presidente do partido, Carlos Lupi - , mas voltou atrás. E o partido também apoia Boulos em São Paulo.

Em Recife, porém, PDT e PC do B não estão com Marília Arraes, acusando-a de "receber apoio da direita", e foram apoiar o primo dela, João Campos, filho do falecido ex-governador Eduardo Campos, de tendência mais moderada.

É claro que se deve também furar a bolha e buscar alianças fora da esquerda. A interação que ACM Neto (DEM), prefeito de Salvador até o fim deste ano, e o governador baiano Rui Costa (PT), foram positivas para o desenvolvimento da capital baiana.

Neste caso, abre-se uma exceção ao ACM Neto, reconhecendo o ponto positivo de investir em obras de urbanização de Salvador.

Por outro lado, porém, é lamentável o caso do Rio de Janeiro, que agora repete a polarização Biden X Trump dos EUA, desta vez com Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Crivella (Republicanos).

Confirmando meus temores, as esquerdas, que não conseguiram eleger candidato próprio de tão divididas, agora querem se unir com Paes, o "Joe Biden carioca".

Assim como Biden foi visto como "esquerdista" de graça, embora tivesse sido apoiador da invasão das tropas dos EUA no Iraque e, como vice de Barack Obama, ter apoiado o golpe contra Dilma Rousseff, Paes também não deveria ser um "amigo das esquerdas".

Paes sucateou o Rio de Janeiro, em que pesem certas obras urbanísticas - como um dos seus poucos acertos, a derrubada da Perimetral - , nada fez pelo povo pobre e não me cheira bem seu discurso "desenvolvimentista", que mais parece neolibelês de magnatas do Vale do Silício.

Paes apoiou o golpe contra Dilma e, antes disso, queria tirar os pobres da Zona Sul e da Barra da Tijuca eliminando trajetos de ligação Zona Norte-Zona Sul. 

Pior: para compensar, criou um arremedo de praia, o "piscinão" do Parque Madureira, com horário de funcionamento limitado e anti-dermatológico (só abria a partir das nove da manhã, contrariando recomendações médicas).

Nessa "praia", segundo Paes, iria caber toda a demanda pobre destinada a ir para Copacabana, Leblon, Ipanema, Barra e Recreio e que não pôde ir ao consolo relativo da Praia do Flamengo, úmico espaço da Zona Sul para as classes populares segundo o projeto "higienista" do então prefeito carioca.

Eduardo Paes fala do mesmo jeito de Luciano Huck e ainda fez o inverso do apresentador, porque o sistema de ônibus, nas mãos do então prefeito carioca entre 2010 e 2015, virou uma verdadeira lata-velha com pintura padronizada para confundir os cariocas.

As esquerdas não perceberam isso e acham que Eduardo Paes irá recuperar o glamour perdido que o Rio de Janeiro dificilmente recuperará.

Foi uma grande burrice das esquerdas. Poderia haver uma aliança PT-PSOL, com PC do B, PDT e Rede solidários com uma candidatura única, mas as esquerdas preferiram se pulverizarem.

Agora, pelo menos parte das esquerdas está apoiando o pastiche carioca de Kubitschek (tal como Fernando Collor havia sido, presidindo o Brasil há trinta anos), sob a desculpa de que não aguentam mais Marcello Crivella.

De tanto pensar em pragmatismo, os cariocas estão derrubando o Rio de Janeiro e o Estado e sua Região Metropolitana estão decaindo a olhos vistos.

E aí as forças progressistas não se unem e, para recuperar o tempo perdido, vão apoiar um direitista moderado, que governa como se o Rio de Janeiro fosse só a Barra da Tijuca e a Zona Sul e o resto é tratado como lixo.

Também morriam pobres vítimas de "balas perdidas" sob a gestão de Eduardo Paes, tanto quanto houve na gestão de Marcello Crivella.

Não se busca união dessa forma, pelo caminho errado, e as esquerdas estão agindo, em relação a Eduardo Paes, assim como a direita moderada agiu em relação a Jair Bolsonaro, em 2018.

Com isso, as esquerdas no Rio de Janeiro, querendo furar a bolha pelo lado errado, acabarão sangrando feio. Afinal, 2002 acabou faz muito tempo.

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