Uma matéria da Quem Acontece tem o seguinte título: "Influencer se desculpa depois de desejar que Selena Gomez sofra 'bastante hate'".
De uma só tacada, duas palavras em portinglês: "influencer" e "hate".
Enquanto isso, maiô virou "body", o que, na hipótese de um futuro aportuguesamento, se torne "bode" ou "báre".
Imagine chamar maiô, que já é um estrangeirismo, de "bode". Vá entender.
Aí não temos mais bichinhos, temos "pets".
Bullying, que muitos acreditam ser invenção do Estado do Colorado, nos EUA - como se, no Brasil, nossos valentões que jogam colegas frágeis na lata de lixo, literalmente, e os xingam o tempo todo, fossem "uns amores de pessoas" - não pode ser conhecido aqui como "valentonismo".
Paciência. Não sou Luciano Huck para divulgar neologismos (ou talvez novilínguas) que alcançam até mesmo uma parcela de seus detratores.
E aí também não temos "odiadores", mas haters, e agora o "ódio" já tem sua sentença de morte, porque nosso portinglês já deve vir com "bastante hate".
Nossa mídia de entretenimento, que dita o que o jovem brasileiro médio tem que falar, vem com cada barbaridade. Querem desfigurar nosso idioma.
Daí o papelão da gíria "balada" (©Jovem Pan), cuja origem remete a um comprimido alucinógeno e virou a "gíria do Terceiro Reich", tentando se impor acima dos tempos e dos grupos sociais, coisa que nenhuma gíria naturalmente faz.
De castigo, essa gíria bolsomínion usada para definir tudo que é "vida noturna" e "curtição", agora virou um jargão de programas de fofocas e, talvez, algum dialeto mais apropriado para o vocabulário de um Paulo Kogos da vida.
Mas a mídia venal dedicada ao público jovem não desiste. Agora ela empurra o portinglês, porque acha o maior barato substituir palavras em português por expressões em inglês.
E aí a mulherada já não procura homens nem rapazes, mas os tais boys. Fala-se do tal "boy lixo", mas esse portinglês é que é o "idioma-lixo".
Daqui a pouco ninguém vai falar em 'amigos", mas em friends. Daí que o seriado com esse nome simplesmente não ganhou título em português.
Como será difícil pronunciar "um friend é para essas coisas". Mas se pode complicar, para que simplificar?
Daí, por exemplo, que o pessoal não fala "família", "equipe", "turma", mas "galera lá de casa", "galera do trabalho", "galera lá da rua" etc.
O problema é que esses jargões todos são ditados por uma "comissão" de produtores e publicitários do ramo do entretenimento.
Sim, são "tiozões" que decidem qual será a gíria do momento, qual será a linguagem "muderna" que a garotada irá falar no seu cotidiano.
Os jovens falam o que a mídia diz para falar e ainda ficam se achando. Tem gente que pensa que a gíria "balada" (©Jovem Pan) se espalhou como brisa entrando pela casa.
Infelizmente, temos uma "cultura de massa" manipuladora. Pode não ser a manipulação "mecanicista" da chamada Teoria Hipodérmica, mas, ainda que considere interesses e vontades do público jovem, este é alvo, de certa forma, de um processo de manipulação.
E aí vemos a colonização cultural - não confundir com antropofagia cultural - querendo desmontar o idioma português.
Que tenhamos perdido o tupi-guarani, antigo idioma brasileiro, vá lá, porque se foram mais de duzentos anos e o costume de falar português se consolidou faz muitíssimo tempo.
Mas agora querem que o Brasil fale inglês, substituindo palavras aos poucos, é um grande absurdo. Essa vibe não está trazendo uma energia muito boa, não.
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