O "MAIS NOVO COMUNISTA" SEGUNDO AS ESQUERDAS DESLUMBRADAS, EDUARDO PAES APARECE AO LADO DE SEU AFIM, LUCIANO HUCK, QUE LHE APOIOU NO CAMINHO DE VOLTA Á PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO.
Não foi desta vez.
Três capitais do país com destacadas figuras progressistas, São Paulo, Porto Alegre e Recife, tiveram vitórias nas corridas para a prefeitura por conservadores moderados.
Em São Paulo, o prefeito Bruno Covas, do PSDB, conseguiu se reeleger para o Executivo municipal da capital paulista, com 59,38% dos votos válidos, contra 40,62% dos votos do rival, Guilherme Boulos, do PSOL, cuja vice de chapa foi a ex-prefeita da cidade, Luíza Erundina.
Covas, ao comemorar a vitória, falou que ela simboliza a "moderação" e a "união" que venceram o "radicalismo" e o "confronto".
Boulos admitiu a derrota e fez um discurso de agradecimento na varanda de sua casa, onde cumpre isolamento social por ter contraído Covid-19.
Em Porto Alegre, Manuela d'Ávila, do PC do B, foi derrotada por Sebastião Melo, do MDB. Ela recebeu 45,37% dos votos válidos contra 54,63% do rival.
Em Recife, João Campos, do PSB, venceu a prima Marília Arraes, do PT, tendo ele conquistado 56,27% dos votos contra 43,73% da concorrente.
João Campos perdeu o pai, Eduardo Campos, num acidente de avião em 2014. Eduardo era presidenciável, também pelo PSB, naquele ano.
O prefeito eleito de Recife também é o mais jovem dos prefeitos eleitos, com 27 anos, e namora a deputada pedetista Tabata Amaral, de perfil neoliberal.
Nestas capitais estratégicas, as forças de esquerda não venceram, mas não será consoladora a vitória de Eduardo Paes, que com 64,07%, derrotou o atual prefeito, o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Marcello Crivella, com 35,93%.
A lógica, sabemos, é a de Donald Trump contra Joe Biden nos EUA. É a direita moderada contra a direita mais obscurantista, embora eu, pessoalmente, não considere Crivella um extremo-direitista.
Crivella apenas está inserido num contexto de articulações políticas com a extrema-direita. Ele apenas é um defensor da teocracia.
Mas também há dúvidas de que Trump seria um extremo-direitista. Em termos de operações bélicas no exterior aos EUA, Biden tende a ser até mais perverso que o atual presidente da prepotente nação.
Paes, tido como "esquerda" postiça depois que as esquerdas cariocas não conseguiram se unir por si mesmas, é na verdade um membro da direita neoliberal, mais perigosa, em certos aspectos, do que setores da direita quase extremista.
Esta direita quase extrema não é necessariamente bolsonarista mas se alia ao bolsonarismo pelas conveniências do jogo político.
As esquerdas apoiaram Paes de maneira inexplicável, e em última hora arrumaram uma desculpa esfarrapada, que é a do "voto de protesto" contra Crivella.
Mas ficou um saborzinho de vassalagem ideológica, bem no clima das esquerdas médias que adoram os "brinquedos culturais" da direita moderada.
Paes tem um discurso semelhante ao dos magnatas dos big techs que ajudaram a eleger Joe Biden. E um dos representantes desse discurso à brasileira, Luciano Huck (cuja esposa, Angélica, aniversaria hoje), manifestou pronto apoio ao ex-prefeito carioca que irá retornar ao cargo.
Infelizmente, há muita ilusão das esquerdas médias quanto ao Rio de Janeiro, que sucumbe a uma decadência vertiginosa e irrecuperável.
Isso porque o Rio de Janeiro passou a viver um provincianismo inimaginável, de uma população em grande parte ressentida e, tenhamos que admitir, cheia de si. Vale lembrar que existem exceções a essa regra.
Foi vergonhoso ver um considerável número de cariocas agredindo os outros nas redes sociais só porque estes discordavam e alertavam sobre muitas roubadas lançadas no Rio de Janeiro.
Rádios pseudo-roqueiras, ônibus com pintura padronizada, mulheres-frutas, políticos reaças como Jair Bolsonaro, tudo isso era vendido como "novidade" no Rio de Janeiro e quem discordava disso tudo recebia surra nas redes sociais.
O Rio de Janeiro sucumbiu ao pragmatismo, que é a mania de se contentar com pouco, de preferir as coisas que garantem satisfação imediatista, minimalista e paliativa.
Tudo pelas "necessidades básicas e práticas" da vida.
E aí o Rio de Janeiro caiu, porque foi com o pragmatismo que o crime organizado cresceu.
Primeiro, o tráfico de drogas, que garantia a "merenda" das elites hedonistas dos anos 1970.
Segundo, a loteria fácil do jogo-do-bicho, em que muitos pobres conseguem ganhar uns trocados por conta do bicho que escolheram em uma aposta.
Terceiro, as milícias, que, numa concorrência informal e ilegal com o Estado e a iniciativa privada, oferecem serviços que vão da segurança à imobiliária, passando por TVs por assinatura, transporte alternativo e venda de gás de cozinha.
Daí a decadência irrecuperável do Rio de Janeiro, que não acredito ser capaz de voltar aos tempos áureos.
Há uma "cultura" que o Rio de Janeiro contraiu de 1964 para cá, com maior intensidade e gravidade nos anos 1990, que sucumbe aos retrocessos de forma inevitável.
E, além disso, Eduardo Paes, que assumirá novamente a prefeitura em janeiro próximo, causou malefícios à cidade, dos ônibus padronizados às dificuldades que ameaçou impor ao direito de ir e vir de trabalhadores e da população pobre.
A única coisa realmente positiva foi a derrubada do Viaduto da Perimetral. Mas, por outro lado, Paes expulsou moradores de casas populares que foram demolidas para construir prédios olímpicos hoje abandonados, edifícios que também dependeram da demolição de parte de área ambiental.
E Paes defendeu o golpe contra Dilma Rousseff, vamos lembrar.
E agora Eduardo Paes promete até a paz mundial, com seu discurso de baixo teor de confiabilidade.
Realmente, o Brasil progressista é um sonho muito distante, apenas realizado pontualmente fora de áreas como o Rio de Janeiro. As elites não iriam mesmo renunciar do seu protagonismo pós-2016.
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