Derrotado na campanha presidencial - apesar de não aceitar essa realidade - , Donald Trump deveria tirar umas férias no Rio de Janeiro, aqui no Brasil.
O Rio de Janeiro está decadente. E isso reflete até na natureza, pois no momento em que escrevo estas breves linhas, ocorre uma trovoada.
São tempestades causadas pela poluição, pelo tabagismo dos cariocas, pelo desmatamento que propicia a favelização crescente, e tudo isso com o povo local acreditando que o mito do Rio 40 Graus é pura alegria. Só que não. Rio 40 Graus é tragédia, é catástrofe.
A decadência do Rio de Janeiro salta aos olhos. E não é pela agenda temática que se vê na grande imprensa: violência, milícias, crianças morrendo de balas perdidas, caos na saúde pública etc.
É em tudo. E tudo por culpa do pragmatismo carioca que virou a religião fundamentalista dos últimos 30 anos.
Se tiver um freguês, num restaurante, que em vez de pedir um prato específico (tipo picanha ao molho pardo com vinagrete e fritas), pedir apenas "um prato qualquer com arroz, feijão e alguma salada, porque se matar fome já está bom demais", pode crer, é um carioca.
Ou, quando muito, um niteroiense, que virou uma espécie de "vira-lata" dos cariocas.
A música supostamente de vanguarda é o "funk". A maior musa do momento, Aline Riscado, é insossa.
Tivemos, na capital, ônibus padronizados confundindo os passageiros e escondendo corrupção político-empresarial. Mas cidades como Niterói, São Gonçalo, Campos e Nova Iguaçu continuam investindo nessa mesmice sobre rodas.
Não temos mais um cenário forte de MPB no Rio de Janeiro. O que temos é a receptividade, antes inimaginável, dos ritmos popularescos, ou então um cenário pop comercial de nomes como Iza, Vítor Kley, Jão e os carneirinhos da MPB discípulos do brasiliense Tiago Iorc.
O pessoal fica babando com a canastrice radiofônica da Rádio Cidade - até a "massa falida" da Flu FM (Maldita 3.0, Cult FM e Kiss FM Rio) andam passando pano na aberrante FM (cujo nome Cidade é simplesmente HORRÍVEL para rádio de rock) - , e isso mostra o quanto até o rock decaiu aqui.
Exaltar uma rádio hit-parade com vitrolão roqueiro e locutores que parecem ter sido sobras da antiga Jovem Pan Rio dos anos 1990 e que, no exterior, passaria vergonha até diante de rádios rock medíocres de alguma ilha perdida no Pacífico, mostra o quanto carioca passou a se contentar com pouco.
E os internautas que moram no Rio de Janeiro ficam se achando e toda a mediocridade que acreditam e apreciam têm que ser aceita por outras pessoas, sob pena de violentos ataques virtuais, com direito ao "gado" antes silencioso fazer coro aos valentões da ocasião.
Os cariocas, vendo argueiro nos olhos dos baianos, ficam rindo deles da suposta preguiça (a verdade é que os baianos são muito trabalhadores e até ágeis e caprichados em suas tarefas) e na obsessão pelo Carnaval, que o pessoal do Rio de Janeiro não enxerga as traves dos seus olhos.
Por sinal, traves que só servem para abrir caminho para o gol de um time carioca, pois os cariocas se esquecem que sua obsessão pelo futebol é estratosférica e emocionalmente tóxica, influindo até mesmo nos assédios morais nos ambientes de trabalho.
É tanta decadência que os cariocas foram responsáveis diretos pelo golpe político de 2016.
Claro que Curitiba contribuiu para o golpe a partir das ações juridicamente promíscuas do juiz Sérgio Moro e do procurador Deltan Dallagnol, mas foi o Rio que abriu as portas, mais do que a Operação Lava Jato. A Lava Jato entrou, mas foi o Rio que abriu com chave as portas de acesso.
Foi o Rio que elegeu Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro. O primeiro chantageou Dilma Rousseff e, recusado por ela, armou os caminhos parlamentares para o golpe. E Bolsonaro foi reeleito deputado federal, o que favoreceu sua ascensão à Presidência da República.
Agora muitos cariocas reaças tentam negar o bolsonarismo que, dois anos atrás, era mais aberto e convicto. Mas, quando lhes foi possível, eles fizeram o golpe e deixaram o Brasil como está hoje.
O Rio de Janeiro virou um Estado falido, tanto que passou a ser dominado por organizações paramilitares (o que é condenado pela Constituição Federal), chamadas milícias, que já comandam 57% do território.
E o Rio ainda vai eleger novamente Eduardo Paes como prefeito da capital, ele que havia promovido uma destruição da cidade em dimensões olímpicas.
Se o Rio de Janeiro de hoje é um "paraíso", só para pessoas ressentidas como Donald Trump. Afinal, o Rio de Janeiro, que nunca se contentou com a perda do status de capital do país, tornou-se um "paraíso" para ressentidos em geral.
Comentários
Postar um comentário