O último fim de semana é uma amostra de como o Brasil está se transformando num grande parque de diversões, com o empresariado do entretenimento e de produtos associados - como cerveja, televisão, cigarro e automóvel - já se figurando no topo dos super-ricos que, pelo jeito, não vão ter que tirar do bolso muita coisa a ponto de comprometer suas fortunas estratosféricas.
Numa festa em plena madrugada em uma residência na Casa Verde, em São Paulo, mostrou coros de jovens embriagados gritando feito loucos, cantando sucessos brega-popularescos com uma histeria assustadora. Mas isso é só um exemplo, pois o que se vê nas grandes cidades em geral é uma ensandecida onda de hedonismo consumista, de jovens ao mesmo tempo infantilizados e paranoicamente lúdicos.
Não se trata de felicidade real nem alegria de viver, mas de um apetite voraz e exagerado em consumir bens supérfluos e emoções baratas, o que faz com que o consumo de cervejas e cigarros tivesse prioridade num país em que os brasileiros mais pobres não têm o necessário para sobreviver dignamente.
A loucura consumista é tão grande que já pode ser comparada com os roaring twenties dos EUA, a década de 1920 do consumo clandestino e cada vez mais afoito do álcool, proibido naquele país pela Lei Seca da época. Mas no Brasil a loucura é maior, pois as pessoas, na obsessão pela agregação social e pela lacração, já não percebem mais olfatos nem paladares, pois tudo o que consomem mais parece guiado pela espiral do silêncio.
As pessoas já nem sentem o gosto de uma bebida como açaí. Até a cerveja que, dizem, passou a ter gosto de urina fermentada, as pessoas já nem conseguem sentir o sabor direito, apesar da esperteza de uns fazer com que eles troquem as marcas nacionais pelas franquias de marcas estrangeiras, das quais a Heineken é a mais popular.
São pessoas que não sabem o que é respeito humano nem altruísmo. Não respeitam o sono noturno de quem precisa descansar, não têm dinheiro para ajudar a quem pede auxílio, mas têm grana de sobra para comprar maços de cigarros e engradados de cerveja. E não estamos falando de gente bolsonarista, mas da tal "sociedade do amor" que acha que democracia é só para fazer festa e não para lutar por uma vida melhor e mais justa.
É gente contando piadas sem graça, dando risadas escandalosas e se comportando como se fossem crianças de 12 anos de idade. É gente comprando bens sem olhar o preço, numa euforia consumista voraz e agressiva, mostrando o quanto existe uma elite escondida entre o povo comum que já está obtendo privilégios abusivos, até mesmo na hora de obter um emprego.
Trata-se de uma epidemia do egoísmo, uma histeria que atinge níveis de desequilíbrio psicológico, com pessoas querendo comparecer ao maior número de eventos de entretenimento possíveis, torrando grana como bem entender (se é que "entender" é um verbo existente no vocabulário dessa patota).
Pouco importa se os festivais de música são muito caros e os produtos vendidos estão com preços exorbitantes. A diversão tóxica e compulsiva impele ao lazer mais obsessivo, à festividade tóxica neste Brasil transformado em parque de diversões no qual até a antes admirável esquerda política se converteu numa "esquerda chapeuzinho vermelho", e isso não resulta em dignidade, mas numa euforia perigosa.
A gritaria dos festeiros do casarão da Casa Verde, competindo na poluição sonora das madrugadas com vizinhos que, também barulhentos, gritam bordões como "Bebe! Bebe! Bebe!", são apenas exemplos desse clima ensandecido e neurótico de quem acha que pode se divertir de maneira abusiva e sem limites, como verdadeiros animais consumistas, que de tão impulsivos deixaram de ser humanos, já que tudo o que eles querem na vida é consumir seus instintos, suas emoções baratas e tudo o que vier de supérfluo que seu rico dinheirinho pode comprar.
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