Extremamente lamentável o show de pretensiosismo da dupla de canastrões Chitãozinho & Xororó - que eu tive que aguentar no Reveillon da Avenida Paulista, aqui em São Paulo, na espera da contagem para a virada do ano de 2023 para 2024 - , em relação à canção "Evidências", que não é de autoria da dupla, mas do cantor brega-bolsonarista José Augusto com letra do emepebista Paulo Sérgio Valle (que nesta tarefa visava reforçar as finanças pessoais).
Nas redes sociais, a dupla demonstrou uma completa falta de noção, ao definir a música "Evidências" como "atemporal" e, sem a menor necessidade, mérito nem conhecimento de causa, resolveu "aconselhar" as novas gerações a priorizar" uma música não só para fazer lacração nas redes sociais.
Temos que reproduzir as mensagens da dupla, com o respectivo membro autor das frases entre parênteses, só para perceber o pretensiosismo e a falta de noção:
"A música Evidências é muito especial. A gente gravou essa música já há mais de 30 anos, a gente não esperava. Esperava o sucesso dela, mas, a cada a ano, ela foi se espalhando ainda mais, atravessando fronteiras, especialmente de gerações. A gente fica muito feliz, porque é muito legal ver várias gerações cantando essa canção, que é uma música romântica". (Chitãozinho)
"Eu digo para a nova geração que deixe o coração falar mais alto sempre". (Chitãozinho)
"Procurar a qualidade, melodia, harmonia, arranjos. A música não pode ser só uma música pensando somente no imediato, em subir nas plataformas, viralizar e fazer uma outra na sequência. Acho que tem que se preocupar com a qualidade da música, letra, melodia e arranjo, só assim, ela pode atravessar fronteiras e gerações". (Xororó)
Em primeiro lugar, "Evidências" é uma canção comercial, e, por sinal, muito ruim. Paciência, sou um jornalista conhecedor de música e tenho que acompanhar, de maneira crítica, a trajetória da música brega, que é a música comercial feita no Brasil.
Não vejo qualidade musical em "Evidências", e considero uma grande perda de tempo a dupla recorrer a um textão para pedir para que a música seja lembrada na posteridade e não seja valorizada apenas pela finalidade de lacrar e viralizar nas redes sociais.
A dupla, que nem arranjadora é - é prática na música popularesca que os intérpretes não sejam arranjadores, pois os próprios produtores dos discos arrumam músicos para fazerem os arranjos - , deveria evitar recomendações tão pedantes quanto à "qualidade musical, melodia e arranjos". Chitãozinho & Xororó deveriam somente agradecer os fãs pelo sucesso da música e ponto final, em vez de constranger com tamanho pedantismo.
A dupla nem é ligada à música caipira de raiz, pois mesmo quando surgiu, em 1970, já trilhava no caminho da diluição comercial da então considerada música sertaneja, através de fórmulas comerciais do tex-mex - o som que juntava country do Texas e mariachi do México - e do romantismo conservador dos Bee Gees (que, depois, gravaram um dueto com a dupla paranaense).
Muita gente pensa que Chitãozinho & Xororó fazem a verdadeira música do campo, mas isso é papo furado. Eles não são os últimos da música caipira de raiz, mas os primeiros deturpadores do gênero. Canastrão de primeira viagem não é gênio.
Eu posso dizer que o repertório de Chitãozinho & Xororó é muito ruim porque já ouvi várias vezes: nos anos 90, quando a vizinhança, no bairro Resgate, em Salvador, tocava os discos da dupla, há poucos anos, quando num ônibus de volta aqui em São Paulo tocou uma coletânea da dupla e, no Reveillon da Paulista, quando tive que aturar a apresentação dos dois. É um repertório piegas, conservador, deturpado com sua música caipira fake, cheia de pretensiosismo artístico tão fajuto.
Esse pretensiosismo lembra o auto-tributo que outro canastrão musical, Michael Sullivan, produziu para bajular e usurpar a MPB que o cantor-produtor quis destruir nos anos 1980. Com muita arrogância, Sullivan intitulou seu tributo como "Mais Forte que o Tempo".
São demonstrações de pura arrogância, pois Chitãozinho & Xororó e Michael Sullivan se acham "acima dos tempos". Em vez de criar um pedestal para a posteridade, esses ídolos comerciais deveriam aproveitar o sucesso presente e usufruir da época em que estão em alta, já que suas canções horríveis e constrangedoras vão cair no esquecimento daqui a décadas.
As futuras gerações nem se lembrarão desses nomes, pois essa onda do brega-vintage e sua nostalgia de mentirinha é apenas um modismo para fazer enriquecer executivos de televisão, da indústria fonográfica, das redes sociais, dos festivais de música e outros envolvidos. Nada de gourmetizar meros sucessos radiofônicos, como "Evidências" ou "Um Dia de Domingo", que nada tem a ver com "música de qualidade" e são apenas sucessos para "subir nas plataformas e viralizar".
Portanto, parem com esse pretensiosismo e se contentem em ver suas músicas apenas "subirem nas plataformas e viralizarem" e aproveitar esses bons momentos sem falar besteiras preciosistas.
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