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AFASTAMENTO DE LULA A NICOLÁS MADURO SERVE DE AVISO PARA O PRÓPRIO LULA


O afastamento que Lula faz em relação ao político Nicolas Maduro vai mais além de uma atitude que o presidente brasileiro faz para desmentir a fama de "amigo do ditador". É uma forma do petista ficar bem na foto em relação ao Ocidente e favorecer sua imagem de "símbolo da democracia", palavra que Lula está usando como se fosse seu patrimônio pessoal. Uma "democracia" de um homem só?

Cobrando as atas da votação presidencial da Venezuela, Lula, endossado pelo seu assessor especial Celso Amorim, seu ex-ministro das Relações Anteriores, sinaliza um rompimento com Nicolás Maduro, que demonstra ter sido traído pelo ex-amigo, chegando mesmo a dizer que "ninguém questionou os resultados eleitorais de 2022 no Brasil". Maduro convocou o embaixador venezuelano no Brasil, Manuel Vadell, para retornar ao país de origem.

Lula vetou a Venezuela na reunião dos BRICS na Rússia. O presidente brasileiro iria participar presencialmente do encontro, mas sofreu um grave acidente doméstico e teve que ficar em casa. Apesar do acidente, Lula teve condições de falar por videoconferência, na sua obsessão em parecer líder mundial e promover mais a sua imagem de "salvador do planeta", interferindo em assuntos alheios como o conflito entre Rússia e Ucrânia e a violência do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu contra o povo palestino.

No caso de Maduro, a meu ver o presidente venezuelano, que já teve uma conduta mais democrática antes (ele promovia consultas populares para avaliar decisões do governo), surtou quando pensou em se perpetuar no poder e arriscou em mais uma reeleição presidencial que, sem divulgar provas documentais, alegou mais uma vitória para o chefe do Executivo da Venezuela.

Aparentemente, Lula manifesta neutralidade em relação ao caso Nicolás Maduro, mas tudo indica que há um afastamento gradual que pode gerar uma formalização de um rompimento entre os dois líderes políticos latino-americanos. Maduro já percebe isso com muita antecedência.

Isso se deve porque Lula, querendo ser o "paladino da democracia" - lembremos que "democracia" é um eufemismo para o petista fazer concessões à centro-direita - , busca uma aproximação com o Ocidente, com os EUA, em que pese algumas "críticas" do presidente brasileiro que, hoje, mais parecem um apelo para o petista lacrar entre a pequena burguesia "de esquerda" que praticamente monopoliza as narrativas nas principais plataformas das redes sociais.

Daí que Vladimir Putin também é alvo de críticas de Lula, já que o presidente russo é famoso por sua conduta autoritária e estranha até para os padrões militantes do antigo socialismo burocrático soviético. O chefe do Executivo russo também é suspeito de matar, por envenenamento, personalidades que se opuseram ao seu poder de ferro.

Voltando ao Maduro, o não-reconhecimento de Lula à suposta vitória eleitoral do venezuelano serve, por ironia, contra o próprio petista, que havia garantido que "seria reeleito umas dez vezes". As chances do petista ser reeleito em 2026 já receberam o sinal amarelo quando as esquerdas perderam as eleições para prefeitos no segundo turno, conforme as votações no último domingo.

A própria escolha de Lula, um idoso de ideias velhas e visões tradicionalistas - até mesmo a sua busca pela reputação de "líder mundial" segue os antigos clichês da historiografia das enciclopédias dos anos 1950 - , em ser o "líder das esquerdas", é uma péssima estratégia, que faz o PT envelhecer mal na sua recusa em procurar um herdeiro político, alguém mais novo para seguir o legado lulista.

Com os fatos mais recentes, o lulismo começa a perder o clima de empolgação de 2023, que estimulava o negacionismo factual dos seguidores de Lula, boicotando, com certa arrogância, textos que apresentem narrativas divergentes ao imaginário lulista.

Havia, no ano passado, uma ilusão de que o Brasil, com "certeza absoluta", se tornaria um "país desenvolvido" apenas com a mágica dos relatórios, com o analgésico das opiniões de Lula e com promessas e cerimônias que temperam um estranho clima de "reconstrução com festa".

Hoje, porém, o negativismo da "sociedade democrática" começa a pagar o preço dessa conta festeira, quando o Brasil que foi excluído da bolha lulista deu seu primeiro grito nas urnas, descrente do esquerdismo e votando na direita mais por uma questão de desabafo do que de confiança.

Afinal, as esquerdas é que pagam a conta por terem investido numa "frente ampla demais", flertando com medidas, instituições e personalidades neoliberais, com Lula esbanjando peleguismo explícito, dando muito dinheiro para os deputados federais votarem a favor dele, enquanto só aumenta, anualmente, míseros R$ 90 no reajuste do salário mínimo.

Dessa forma, Lula, que se encolhe a cada dia, começa a ver como possível o risco de não ser reeleito na campanha presidencial de 2026. E esse risco aumenta cada vez mais.

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