Um dos grandes erros da sociedade brasileira é não entender as coisas com atenção. Depois de chamar Cid Moreira de "jornalista", quando ele era apenas um mero leitor de notícias - um genial e grandioso leitor, mas apenas um leitor, tecnicamente conhecido como "locutor noticiarista" - , agora temos uma interpretação equivocada que atribui o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, como "prefeito reeleito".
Sim, somos tentados a pensar nessa ideia porque Nunes era o prefeito da capital paulista e obteve continuidade para comandar a maior capital do Brasil. E aí vamos, até mesmo por instinto, considerar que Nunes foi "reeleito" porque estava no cargo e venceu no segundo turno, com 59% dos votos válidos, contra 40% do psolista Guilherme Boulos, apoiado pelo presidente Lula.
Mas devemos prestar atenção aos fatos e tomar cuidado com esse grande mal-entendido. Afinal, Ricardo Nunes não foi reeleito prefeito de São Paulo. Ele foi eleito para continuar no cargo, mas ele havia sido vice-prefeito quando sua chapa foi eleita em 2020.
Isso porque o antigo titular, o tucano Bruno Covas, neto do membro-fundador do PSDB Mário Covas, faleceu em 2021 por câncer, mesma doença que encerrou a vida de seu avô. Bruno é que foi eleito, e Ricardo Nunes, pouco conhecido, apenas era um vice na chapa, e sua influência na captação de votos já foi mínima.
Se Ricardo Nunes fosse reeleito, ele teria sido eleito antes. Não foi o caso. Ele integrava a chapa que ganhou as eleições para a Prefeitura de São Paulo, é verdade, mas não foi ele quem foi eleito, mas Bruno Covas. Com a morte do titular, Nunes tornou-se o prefeito de São Paulo. Mas sob o status de prefeito em exercício, diga-se de passagem.
Portanto, a campanha de Nunes é a primeira na qual ele se candidatou ao cargo de titular para o Executivo municipal paulistano. Sendo a primeira, ele não pode ser reeleito, porque ele não foi eleito antes. Quem foi eleito foi Bruno Covas, pois Nunes não era sequer um chamariz, era praticamente um desconhecido, não custa repetir isso.
Infelizmente, nosso jornalismo, que sucumbiu à precarização profissional depois que jornalistas de grande talento faleceram ou foram demitidos, está contribuindo para desinformações e mal-entendidos. Ver o próprio jornal O Globo chamar Cid Moreira de "jornalista" é uma incoerência e uma inverdade, pois Cid, com todo o talento que teve como locutor, era apenas um leitor de textos. Não vamos criar qualidade que não existe, por mais admirável que tivesse sido uma personalidade.
Agora temos um prefeito "reeleito" que não foi eleito antes. Nunes foi apenas um vice que a tragédia o fez titular. Nunes fez a primeira campanha para a Prefeitura de São Paulo e não poderia ser reeleito. O que ocorreu é que ele ganhou continuidade para o cargo, o que não é o mesmo que "reeleição".
Vamos tomar cuidado com as informações, pessoal, para ajudarmos a construir um Brasil menos burro e menos confuso?
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