O governo Lula - cujo presidente, hoje, se recupera de um acidente doméstico no fim de semana que o fez cancelar sua participação na reunião dos BRICS, na Rússia - está desagradando as classes populares que, aos poucos, manifestam sua indignação considerada "impensável" pelos lulistas.
Depois dos funcionários do IBGE protestarem contra Márcio Pochmann, agora são os movimentos negros, incluindo os centros de candomblé, que protestam contra a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, por não dar a devida atenção a esses grupos.
E isso, como se não bastasse, ocorre quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pensa em ampliar os cortes nos gastos, visando o "arcabouço fiscal", ou seja, todo o processo para manter o "déficit zero".
A realidade do decepcionante governo Lula salta aos olhos dos internautas das redes sociais, do "Brasil-Instagram" e das bolhas da classe média abastada, da pequena burguesia que se acha "a mais legal do planeta" e, por isso, odeia ler textos questionadores. É aquela coisa solipsista do tipo "Se eu estou bem, tudo está bem, o resto que se vire".
Lula tentou, no seu discurso, meses atrás, quando lançou a refiliação de Marta Suplicy ao PT - o antigo Partido dos Trabalhadores que, na prática, mais parece o "Partido dos Tucanos" - , tentou criticar o identitarismo, declarando "estar errado" que um candidato se lance porque "é negro, mulher ou indígena", e alegando que uma "liderança real" tem que estar comprometida com os movimentos sociais.
Falar é fácil.
O problema é que vivemos um verdadeiro "balé Bolshoi" das palavras e narrativas, onde tudo tem que ser "positivo" e "de acordo", e tudo que representar um questionamento real, mesmo que tenha fundamento lógico, se comprometa com os fatos e aponta uma visão crítica da realidade, é boicotado pela "cultura do cancelamento" que, infelizmente, atinge blogues como o nosso.
O fenômeno woke remete a um combo ideológico que envolve positividade tóxica e cultura do cancelamento. É uma espécie de "DOI-CODI" do "poder suave" (soft power) à brasileira. O woke à brasileira age para defender o mundo do faz-de-conta, de uma sociedade politicamente correta que aponta que a elite do atraso, no contexto pós-Bolsonaro e pós-pandemia, se repaginou e agora se vende como "democrática".
Temos que acreditar que Lula continua tão esquerdista quanto antes e que nossa classe média abastada, a pequena burguesia que ganha, pelo menos, R$ 10 mil por mês, representaria o proletariado, com sua "gente bonita" de garotões barbudos e mulheres empoderadas.
Essa burguesia quer parecer bem na foto falando de futebol, tomando cerveja, dançando o trap, cantando "Evidências" e falando gírias como "balada", além do "portinglês nosso de cada dia" (boy, bike, body, flat, friends, delivery, bullying etc), que faz diferença junto ao português errado que põe quase sempre no singular os substantivos com artigos no plural ("os cara", por exemplo").
As redes sociais são monopolizadas por esse pessoal woke brasileiro, que tenta abafar o Brasil real, que precisa se isolar nos fatos verídicos que não possuem respaldo textual. Não se pode falar de realidade na blogosfera, nas redes sociais. Temos que passar pano nos absurdos e mentiras quando estes garantem o sono tranquilo da elite "mais legal do planeta", que é a burguesia de chinelos brasileira.
Camponeses e proletários autênticos - estes do chão de fábrica, "feios" e "sujos", diferente do "proletário bonitão e descolado" que se acha "pobre" porque fala português errado - são tratados como "inexistentes", porque "antigos e obsoletos", assim como quem não está na bolha festiva dos lulistas, que desejam que o sonho prevaleça sobre a realidade, sobretudo nos supostos "recordes históricos" trazidos pela coreografia de palavras, números e imagens dos relatórios.
O Brasil real grita, mas não é ouvido, e mal consegue ser lido por uns poucos bons samaritanos. A barriga do operário ronca, mas esse ronco não é ouvido pelos "bacanas" que dominam as narrativas prevalecentes na Internet. O barulho do trap, de "Evidências", dos fãs histéricos de Lula, das risadas da juventude identitária, tudo isso abafa o grito dos famintos de verdade.
Os preços dos produtos estão caros. Os azeites de oliva se tornaram caros, como os leites do governo Bolsonaro, e o azeite de oliva não é só um tempero que dá sabor às saladas, mas também é saudável para a circulação sanguínea, previne contra doenças cardíacas, protege os ossos e combate o mau colesterol.
Mas não podemos dizer isso. A turma do boicote não quer saber da verdade. Jornalismo virou cringe e falar de fatos não lacra a Internet. Para todo efeito, temos que acreditar que o pequeno burguês que ganha mais de R$ 10 mil reais é um "pobretão" e que pobre ganhando R$ 1,4 mil de salário tem vida "cheia de fartura".
A verdade é que quem trabalha tem pouco tempo para ver redes sociais. Não vai passar horas vendo os reels do Instagram com seus vídeos de comédia, de pieguice familiar, de sucessos popularescos, de casais felizes se beijando ao som de "Evidências" (apesar desta música falar de frustrações amorosas, mas fazer o quê?), de trechos de jogos recentes de futebol.
Por isso, servidores públicos, professores, quilombolas, centros de candomblé, operários de chão de fábrica, trabalhadores informais, camponeses, enfim todos aqueles que não fazem parte da "festa da democracia" lulista, não podem ser ouvidos. Seus gritos aparecem na Internet, mas, uma vez ressoados, recebem a réplica da cultura do cancelamento.
A cultura do cancelamento é a arma da sociedade "democrática" que, no Brasil de Lula 3.0, precisa repaginar o "milagre brasileiro" combinando o privilégio dos abastados com o carnaval identitário do desbunde pós-moderno, que faz do nosso Brasil um gigantesco parque de diversões.
Somente o parque de diversões interessa. Com festa, consumismo e muita fantasia. O resto não presta. A realidade que encare o silêncio do cancelamento. Este é o Brasil do AI-SIMco, o woke à brasileira.
Comentários
Postar um comentário