GUILHERME BOULOS, LULA, E O NEOLIBERAL VICE-PRESIDENTE GERALDO ALCKMIN AO FUNDO.
Frente ampla demais, reconstrução em clima de festa e uma mal-disfarçada ênfase no identitarismo hedonista são alguns dos fatores que fizeram o esquerdismo decair, com o agravamento e a ampliação dos vícios que fizeram o petismo ser derrubado em 2016, na época com a "pequena ajuda" do "filho da Folha" Pedro Alexandre Sanches, que foi vender para as esquerdas uma linha de pensamento cultural concebida pelo finado Otávio Frias Filho.
Lula voltou ao poder com jeitão de pelego, sem manifestar autocrítica nem tirar satisfações com o povo. Até agora Lula não esclareceu a respeito dos fatores que o levaram ser acusado de corrupto. E seu governo atual não trouxe melhorias reais, se alimentando apenas pela ficção quantitativa dos relatórios.
Nem adiantou o negacionismo factual dos lulistas e dos "democráticos" em geral - a burguesia de chinelos que se atreve a querer ser "mais povo que o povo" - , boicotando textos que contestassem os atos de Lula no começo do terceiro mandato. Até a equivocada ênfase na política externa em detrimento da necessidade de se concentrar internamente na reconstrução do Brasil foi considerada um "acerto" pelos lulistas extasiados.
Fora da bolha lulista, o grito de dor veio dos pobres decepcionados com as esquerdas, irritados com a ênfase no identitarismo, que na campanha para a Prefeitura de São Paulo mostrava o esquerdismo em clima carnavalesco, como eu mesmo pude ver, na Avenida Paulista, nas campanhas de rua do PSOL, cujo candidato era Guilherme Boulos, derrotado por Ricardo Nunes, um direitista moderado.
As esquerdas tentaram minimizar as derrotas - que fizeram o PSOL perder todo o espaço das prefeituras brasileiras, subtraindo as cinco prefeituras da eleição anterior (Belém no Pará, Jarduís no Rio Grande do Norte, Potengi no Ceará, Ribas do Rio Pardo no Mato Grosso do Sul e Marabá Paulista em São Paulo) - chegando a fazer crer que "perderam com a cabeça erguida", quando nos bastidores o clima é de tensão e conflitos, como lembrou o portal Galãs Feios.
Intelectuais renomados como Jessé Souza e Vladimir Safatle - este esnobado por setores das esquerdas médias - fizeram suas críticas contundentes ao esquerdismo, com várias frases, das quais selecionamos as mais impactantes.
Disse Jessé Souza, citando a ênfase do identitarismo hedonista no imaginário das esquerdas lulistas que deram o tom da campanha de Boulos:
"Sim. Foi um erro completo. E Boulos está pagando o preço desse equívoco agora em São Paulo. Não basta essa esquerda “legal”, que discute gênero e raça. Ainda importa contar ao eleitor por que um cidadão ganha R$ 100 mil enquanto outro R$ 100, por que há pessoas tão diferentemente aparelhadas para a competição social, para além das diferenças de gênero e raça. Se não perceber isso logo, a esquerda deixar este pobre na direita".
Sobre a campanha de Boulos, destacou Vladimir Safatle sobre a estratégia "suicida" do psolista se aproximar do eleitorado do extremo-direitista Pablo Marçal:
"Entre outros erros brutais, [Boulos] fazer uma live com o Pablo Marçal, normalizando o Pablo Marçal, dando uma avenida para ele crescer posteriormente, e quando a gente teve, eu vi a pesquisa, 1% dos eleitores dele, mas com um preço impagável".
O cientista político Renato Janine Ribeiro, que chegou a ser ministro da Educação do governo Dilma Rousseff, lembrou do esgotamento da teoria da inclusão social pelo consumo, o que dialoga com a queixa de Jessé sobre a visão economicista das esquerdas brasileiras.
A sociedade brasileira mostra sua complexidade que as esquerdas médias, ao retomar, por empréstimo, o relativo poder liberado pelas brechas do Poder Judiciário, não conseguem compreender. A linha do tempo do golpismo de 2016 foi muito forte para Lula querer reverter, e, querendo repetir como farsa as realizações dos dois mandatos anteriores, a grandeza do presidente da República tornou-se artificial, pois a verdade é que Lula encolhe a cada dia diante das classes populares que se sentem traídas e frustradas com o petista.
Mais do que o recente acidente doméstico, a derrota das esquerdas em todo o país e, sobretudo, na vitrine da capital paulista, sangrou muito mais na cabeça de Lula, que pode botar a perder a possibilidade de se reeleger em 2026.
Comentários
Postar um comentário