23 de março deveria ser feriado em Goiânia. Aos patrões e autoridades que desejam que a referida data, correspondente à transformação da cidade goiana em capital estadual, em uma "máquina de fazer dinheiro", deveriam se contentar em apenas evitar, nas empresas e repartições públicas, o enforcamento do feriado no caso do 23 de março cair numa quarta-feira ou quinta-feira, e se resignar com parte essencial do comércio, como farmácias e supermercados, funcionando no referido dia.
A uma semana de Goiânia comemorar mais um ano de sua fundação, que foi em 24 de outubro de 1933, nota-se que a referida data, importantíssima para a história da cidade, pela razão óbvia de seu "nascimento", é superestimada como se fosse a data da capital de Goiás.
Mas o dia 24 de outubro nada diz quanto ao status da capital goiana, mas somente à fundação da cidade, durante anos sendo apenas um município, enquanto a cidade de Goiás, popularmente apelidada de "Goiás Velho", continuava capital estadual.
O Jornal Opção, em matéria de 24 de outubro de 2023, referente aos 90 anos não da capital de Goiás, mas da fundação de Goiânia como mera cidade estadual, explica, não sem esconder um certo tom de lamento, os motivos do atual desprezo do 23 de março de 1937 como data histórica de Goiânia. Vejamos esse trecho:
"Mas há outras datas de igual relevância simbólica para a comemoração do nascimento da cidade. Uma delas é o 23 de março, uma referência ao dia da transferência oficial da capital para Goiânia no ano de 1937. Pensando em termos práticos, a transferência da capital é uma data de mais consequência política do que a do lançamento da pedra fundamental, pois muitas cidades são fundadas, mas poucas são escolhidas com capital. Mas a data da transferência ficou manchada pela ignominia, pois, como ressaltou o historiador Jales Coelho Mendonça, no livro “A Invenção de Goiânia”, o fato não se fundamentou juridicamente num projeto de lei, votado na assembleia estadual, como seria natural numa democracia, mas num decreto unilateral do Executivo.
É que Pedro Ludovico estava enfrentando dificuldades em convencer os deputados a fazer a transferência da capital, sem fazer as devidas compensações à Cidade de Goiás. Nesta situação, preferiu “o direito da força” à “força do direito” para promover a transferência da capital. Por tudo isso, o 23 de março perdeu o seu potencial de ser a principal efeméride comemorativa de Goiânia".
É certo que Pedro Ludovico tentou conduzir de forma autoritária o decreto que transformaria Goiânia em capital de Goiás, mas isso não é desculpa para que os goianenses reajam com profunda ingratidão ao dia 23 de março que, para o bem e para o mal, foi um dia crucial para o fortalecimento da região Centro-Oeste, pois a mudança de capital para Goiânia abriu caminhos para a construção de Brasília.
Há coisas impostas de maneira mais autoritária que se tornaram pretensas tradições e o pessoal, infelizmente, nestes casos leva numa boa, como a escolha de um "médium" picareta e reacionário (foi o religioso que mais apoiou a ditadura, a ponto de ser condecorado pela Escola Superior de Guerra) de Minas Gerais como "símbolo da caridade", um factoide plantado pela ditadura militar como cortina de fumaça contra a Teologia da Libertação.
Outro caso é a escolha da rádio 89 FM como "a maior rádio de rock do Brasil", uma escolha arbitrária do empresariado da Faria Lima, a partir de uma emissora de rádio dos 89,1 mhz do dial FM paulistano cujos donos eram apoiadores da ditadura militar, ligados a Paulo Maluf, financiados por Fernando Collor em 1992 (a época do esquema Collor-PC Farias foi quando a 89 FM mais recebeu subsídios para sua propaganda) e cujo CEO atual, João Ernesto Camargo, é defensor aberto das grandes fortunas.
Portanto, por coisas mais graves, se deixou passar a consagração artificial de certos fenômenos como se eles tivessem tido o apoio universal da humanidade. E nunca tiveram, pois receberam mais a complacência e a credulidade dos incautos, a aceitar tudo que receba o rótulo de "oficial" e o aparato de visibilidade plena.
Defendemos a ideia de que o 23 de Março se torne feriado em Goiânia. Se o empresariado e as autoridades não gostam, eles é que façam o trabalho de seus empregados, pois o dia deveria ser de descanso ou de relaxamento na hora do lazer. Que Goiânia respeite sua própria história pois, bem ou mal, se não fosse o 23 de Março, até hoje Goiás Velho seria a capital do Estado de Goiás e Goiânia, apenas uma das principais cidades estaduais, com papel subalterno comparado a Niterói e Santos hoje em dia.
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