As supostas pesquisas de opinião agora assumem o que já ocorria há tempos: a queda de popularidade do presidente Lula, que atinge níveis crônicos e pode se agravar cada vez mais. Institutos como o Datafolha, o PoderData (do portal Poder 360) e IPEC já apontam o momento crítico da baixa popularidade do petista, a ponto de apontar que 62% dos entrevistados seriam contra a reeleição do presidente.
Este dado foi divulgado pelo IPEC, que sugere também que Lula perde um de cada três de seus eleitores. Os dados dramáticos seriam, oficialmente, motivados pela crise do Pix - alvo de rumores de que o governo Lula iria taxar compras pagas através desse modo de transferência monetária - , a alta do dólar e a alta nos preços dos alimentos.
Mas quem acompanha este blogue, que chegou a ser alvo de campanhas de boicotes de negacionistas factuais - um subproduto da "cultura do cancelamento" equivalente, no contexto lulista, aos "isentões" do período bolsonarista - , o governo Lula decaiu por uma infinidade de erros, dos quais não dá para enumerar todos aqui, mas eles já foram aos poucos mencionados na nossa publicação.
O que podemos resumir é que Lula preferiu o espetáculo à gestão. Depois de implorar para os brasileiros votarem nele pela "urgência do combate à fome", Lula, ao tomar posse, foi logo em seguida viajar, dando uma ênfase necessária na política externa, sob a desculpa de "trazer investimentos" e "fazer acordos multilaterais" com outras nações. Chegou-se a comemorar essas viagens com o bordão "O Brasil voltou".
Mas essas viagens já eram vistas pelas classes populares - o povo excluído até mesmo da "bolha democrática" que domina as narrativas nas mídias sociais - como "uso indevido de dinheiro público", além de sinalizar que Lula abandonou o povo brasileiro.
Durante um ano prevaleceu a narrativa de que essas viagens ao exterior eram "um acerto", uma desculpa que só colou quando as narrativas eram monopolizadas pela bolha lulista. Quando outras vozes dissonantes começaram a "sair da toca", mostrando que não eram só os bolsonaristas que criticavam os erros de Lula, notou-se que as viagens foram um grande equívoco, tanto que, recentemente, foi o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que viajou para o Oriente Médio na última sexta-feira para negociar parcerias e investimentos.
Até a prática que inspirou o sentimento antipetista, a compra de votos do Congresso Nacional para os parlamentares votarem de acordo com os interesses do presidente Lula, voltaram à tona, agora sob o nome "técnico" de "verbas para emendas parlamentares", com direito a "comissões" a serem dadas para ministérios e ONGs no caso das votações saírem a favor do presidente.
Os tais "recordes históricos", denominações dadas a relatórios que apresentavam dados tão fantásticos que se duvidava que fossem realmente reais, também influíram na crise. Afinal, eram "façanhas" do governo Lula, principalmente na área econômica, que eram fáceis, rápidas e fabulosas demais para serem reais, e que o povo brasileiro não sentia ocorrer na realidade vivida do cotidiano.
A supremacia de uma narrativa oficial da "democracia" lulista tentava renegar esses questionamentos. Defendia-se até a confiança cega nos relatórios, nas instituições. O que escapava do horizonte valorativo do lulismo era desprezado, e toda a Comunicação do governo Lula e das forças sociais que o apoiavam tentavam fazer prevalecer uma narrativa fantástica, a ponto de virar um dogma a delirante tese de que o Brasil entraria no Primeiro Mundo.
A troca do ministro da Secretaria de Comunicação do governo Lula, substituindo Paulo Pimenta por Sidônio Palmeira, serviu apenas como conversa para boi dormir, quando o presidente alegou que sua queda de popularidade se deveu apenas a um "problema na comunicação" do Governo Federal em "enumerar suas realizações" para o grande público.
Mas isso acabou sendo apenas uma desculpa que caiu no ridículo, pois Lula queria que a realidade cotidiana, em si, obedecesse aos caprichos pessoais do presidente, como se o nosso dia a dia girasse em torno dos devaneios, sonhos e crenças pessoais do chefe do Executivo federal.
O maior erro de Lula pode ser resumido pelo fato de que o presidente queria fazer a reconstrução do Brasil criando um clima de festa. O presidente não sabia dizer se a reconstrução estava para ocorrer, que ela foi concluída, se ainda tinha muito para fazer ou se o Brasil já estava pronto para ser potência. Os discursos se contradiziam, mesmo usados conforme as conveniências do momento.
Se era para avaliar os feitos do governo Lula, dizia-se que a reconstrução "estava em boa parte concluída" e que o Brasil está "perto de virar um país desenvolvido". Mas se era para pedir para que os brasileiros reelegessem o petista, falava-se que "havia muita coisa para se fazer" depois de um país devastado pelo governo Jair Bolsonaro (e por Michel Temer, cujos estragos são subestimados por Lula).
O desprezo de Lula pela autocrítica, o caráter impulsivo de suas decisões e seu caráter dissimulado até para disfarçar doenças - como no caso de uma estranha "dor no quadril" que não apresentava sintomas neste sentido e que indicam ser uma desculpa para a volta de um câncer que o presidente sofreu em 2011 - , juntamente com as alianças flexíveis demais com a direita moderada, fizeram também aumentar a revolta por parte das classes populares.
Lula ficou surpreso quando viu que as classes mais pobres, os menos escolarizados e o povo nordestino são os que mais estão rejeitando o presidente. Os lulistas tentam manter fora de moda a expressão do movimento sindical "pelego", termo dado a um líder do proletariado que se "vende" para o patronato e desiste de reivindicar grandes melhorias para os trabalhadores. Mas a realidade só mostra o quanto Lula se esbaldou no peleguismo, mesmo quando fazia falsos ataques à "classe média" e à "Faria Lima".
A situação tende a se agravar, pois Lula, bastante teimoso em suas convicções, tem muita dificuldade de reconhecer seus próprios erros, só admitindo quando os efeitos foram drásticos demais. Mesmo assim, ele inventa culpas externas para evitar que o próprio presidente seja o responsável, pois somente em última instância Lula admite qualquer culpa em algum erro cometido por ele.
Existe até a narrativa de que Lula, quando erra, comete "estratégia", quando esses erros apresentam, em tese, resultados positivos para ele, seus parceiros e seus apoiadores. Mas como o povo brasileiro da vida real, excluído da festa "democrática" do lulismo, não é ingênuo, Lula tende a agravar ainda mais sua queda de popularidade, na medida em que seu governo não vai mudar drasticamente, até pelas dívidas que o presidente tem com a direita moderada e, sobretudo, com o tucanato raiz, pela recuperação dos direitos políticos obtida há cinco anos.
Um sinal disso foi quando Lula tentou solucionar a crise dos alimentos caros - sobretudo café e azeite de oliva, mas também com outros produtos sofrendo alta nos preços - através do paliativo e altamente burocrático crédito consignado para compra de alimentos, quando o presidente deveria ter feito uma política agressiva de redução de preços, fornecendo subsídios aos produtores e fornecedores e evitando a comercialização por atravessadores. Se o presidente pode comprar votos de parlamentares, por que ele não poderia pagar as classes produtoras para reduzir custos dos alimentos?
Que colheita é essa que Lula tanto falou no seu "governo da reconstrução"? A iniciativa acovardada de criar créditos para o povo pobre comprar alimentos, enfrentando muita burocracia e pagando em prestações, diz muito à falta de pulso firme do presidente. E isso tem, para o presidente, um sabor tão amargo quanto o de uma fruta podre, e torna-se gravíssimo para um líder que usava o combate à fome como sua maior plataforma eleitoral.
Daí que, com essa crise de popularidade, até mesmo a gulosa vontade de Lula de se reeleger para mais três mandatos deu lugar ao reconhecimento do risco de não poder mais concorrer à reeleição. O apetite político de Lula começa a diminuir e o presidente já sente nas costas o mesmo drama de Joe Biden.
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