APESAR DO ELEVADO PRESTÍGIO, A UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FOI MARCADA PELA DEFESA DE INTERESSES NEO-CONSERVADORES CULTIVADOS APÓS O FRACASSO DO "MILAGRE BRASILEIRO".
Uma tese acadêmica, de caráter tendencioso, sensacionalista e meramente especulativa, foi divulgada em um pretenso estudo coordenado pela Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), baseado numa pesquisa de campo.
A tese é bastante duvidosa, nesse estudo coordenado pelo professor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), Wagner Farid Gattaz. Ela consiste em atribuir "diferenças genéticas" entre os supostos "médiuns" e seus parentes de primeiro grau, ou seja, os familiares mais próximos em sua árvore genealógica.
O levantamento envolveu os autoproclamados "médiuns" ligados à Umbanda e ao Espiritismo brasileiro. Realizado entre 2020 e 2021, 54 desses supostos paranormais foram observados, enquanto 53 parentes de primeiro grau sem a suposta habilidade também foram vislumbrados pelo pretenso estudo. O critério seria aproximar os "médiuns" de familiares com semelhante convívio sociocultural.
No questionário, 92,7% dos participantes diziam "falar com os espíritos". 70,9% diziam se comunicar com os mortos através da escrita. Outros 52,7% disseram que viram espíritos, 50,9% que entraram em incorporação e 47,3% terem experimentado sensações de estar fora do corpo.
Supostamente foram encontrados 16 mil variações genéticas que teriam sido encontradas nos autoproclamados "médiuns", ligados às áreas de imunidade e inflamação. Estariam relacionados à glândula pineal, responsável pela conexão entre o cérebro e a mente.
O estudo é meramente especulativo e a tese é bastante duvidosa e equivocada. Não há garantias de que a diferença genética exista realmente ou esteja relacionada à "mediunidade". O resultado obtido é bastante duvidoso e nada diz para reforçar cientificamente o suposto fenômeno dos "médiuns" no Brasil.
EXPLICANDO O PROBLEMA
A suposta alteração genética, se houver, pode ser uma mera coincidência. Com toda certeza, posso garantir, como um ex-seguidor do Espiritismo brasileiro, que isso nada diz quanto ao pretenso caráter extraordinário dos "médiuns", incapazes de traduzir integralmente as personalidades dos mortos que dizem se comunicar.
Como atribuir diferença genética, por exemplo, a um festejado "médium da peruca" (com as iniciais sendo as consoantes da palavra "caixa"), incapaz de traduzir fielmente os estilos originais de Humberto de Campos, Olavo Bilac e até a coitada da Auta de Souza, que "psicograficamente" perdeu todo o estilo ao mesmo tempo infantil e feminino de sua obra original para "retornar" com a linguagem grosseiramente masculina e medieval do suposto filantropo? Impossível.
A tese universitária tem sérias falhas. Primeiro, a atribuição de "médium" já em si é duvidosa e as atividades expressam irregularidades grotescas. Ponto a menos para a tese coordenada pela USP. Segundo, o método de pesquisa já aponta para a entrevista, que traz em si o aspecto especulativo da declaração autoproclamada do entrevistado, que pode mentir. Terceiro, a própria atribuição de mudanças genéticas à "mediunidade" é meramente especulativa, pois os genes não necessariamente indicariam a atividade mediúnica.
Isso significa, portanto, que a tese da relação dos ditos "médiuns" com as mudanças genéticas não tem o menor fundamento científico, sendo um trabalho meramente especulativo, desprovido de objetividade e que só serve para alimentar a idolatria a esses mistificadores religiosos.
Os chamados "médiuns", no Brasil, são grosseiras e deploráveis aberrações que, na verdade, refletem o uso abusivo dos nomes dos mortos para obras que soam escancaradamente fake. Diferentes dos paranormais dos tempos de Allan Kardec, os "médiuns" brasileiros são dotados de vergonhoso culto à personalidade, aliados a uma pretensa filantropia que em nada resolveu para combater a miséria humana.
Na época da Codificação, no Século XIX, o autêntico médium era um desconhecido, de tal forma que era conhecido apenas pelo sobrenome. No Brasil, o dito "médium" tem prenome, nome do meio e sobrenome, e é alvo de uma idolatria tóxica com base no culto à farsante Madre Teresa de Calcutá (cosplei em carne e osso da vilã Bruxa do Mar, das estórias do marinheiro Popeye). Essa idolatria é guiada por ideias da Teologia do Sofrimento, corrente radical do Catolicismo medieval que se tornou a maior base doutrinária do Espiritismo brasileiro, influenciada pelo Jesuitismo do período colonial.
Os "médiuns" no Brasil invertem o processo de Comunicação no Brasil, onde o "médium" deixa de ser o intermediário, na medida em que é o centro das atenções. Em vez da relação do emissor (espírito), canal (médium) e receptor (público), os "espíritos" é que se tornam os "canais", pois sua hipotética atribuição de contato serve mais para a idolatria tóxica que idiotizou milhares e milhares de brasileiros. Na prática, são os "médiuns" emissores das mensagens que põem no crédito mentiroso da "autoria dos mortos".
Escândalos envolvem os supostos "médiuns", que incluem desde suspeitas de assassinato - o caso Amauri Pena, sobrinho do festejado "médium", morto em circunstâncias estranhas em 1961 após denunciar o tio e ser alvo de campanha caluniosa do "meio espírita" - , defesa radical da ditadura militar (a ponto de receber homenagens da Escola Superior de Guerra), invasão de terrenos para construção, sem alvará, de "cidades da luz" e juízos de valor que criminalizam as vítimas e passam pano nos culpados.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CONTA COM INSTITUIÇÃO RELIGIOSA TRAVESTIDA DE "LINHA DE PESQUISA ACADÊMICA", CONTRARIANDO O CARÁTER LAICO DO ENSINO SUPERIOR.
JOGOS DE INTERESSES
Inicialmente tratados como fenômenos pitorescos, os "médiuns" teriam virado "símbolos da fraternidade" nos anos 1970 quando, baseada no que o católico conservador inglês e colaborador da CIA, o jornalista Malcolm Muggeridge, fez com Madre Teresa de Calcutá, a ditadura militar decidiu patrocinar religiões emergentes para enfraquecer a força oposicionista da Teologia da Libertação, que fez a Igreja Católica se tornar a maior força de combate ao poder ditatorial, denunciando os crimes da repressão aos órgãos humanistas internacionais.
A suposta caridade dos "médiuns", que nunca tirou o povo pobre da inferioridade social a que está condenado, foi também um artifício para tentar abafar as acusações de práticas de charlatanismo tão evidentes. E o obscurantismo religioso dos "médiuns" é travestido de uma roupagem "moderna" que evoca de clichês da religiosidade oriental até crendices ligadas à Ufologia. Para um país atrasado como o Brasil, isso permitiu atrair trouxas com facilidade mil vezes maior do que tirar doce de criança.
O direitismo dos "médiuns" chegou a enganar as esquerdas, por exemplo. E isso é preocupante, diante de avisos trazidos por jornalistas sérios como José Hamilton Ribeiro (Realidade e Globo Rural) e Léo Gilson Ribeiro (um dos fundadores de Carta Capital), que desmascararam o festejado "médium". Léo falou, sobre as "psicografias", falou por ironia que "o espírito sobe, o talento desce". Recomendo a leitura de Manchete de 09 de agosto de 1958 e Realidade de novembro de 1971, para entender a farsa dos "médiuns" que faz o caso João de Deus parecer brincadeira de criança de três anos.
O "estudo" coordenado pela USP foi publicado pela Brazilian Journal of Psychiatry, uma publicação considerada de baixo fator de impacto. Considera-se que uma publicação tem baixo fator de impacto quando seu papel na comunidade científica se torna inexpressivo e pouco influente, possuindo baixa credibilidade entre intelectuais e cientistas sérios.
Quanto às universidades envolvidas, a Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, comete grave erro de manter um "centro espírita" disfarçado de linha de pesquisa universitária, o Departamento de Saúde e Espiritualidade, indo contra a necessidade de abordagem laica nas universidades públicas.
Já a Universidade de São Paulo, em que pese seu elevado prestígio institucional, foi, durante o governo Ernesto Geisel, um laboratório de manobras ideológicas que fizeram o legado ditatorial durar mesmo após o fim do AI-5 e da Censura Federal.
A USP virou uma arena, um think tank de projetos político-econômicos neoliberais, de defesa da degradação da cultura popular - vide a campanha do "combate ao preconceito" de intelectuais pró-brega a partir dos anos 1990, mas de maneira intensa entre 2002 e 2016 - e, eventualmente, da gourmetização do obscurantismo religioso do Espiritismo brasileiro. Tudo isso sob um verniz pretensamente científico herdado das pregações dos "institutos" IPES-IBAD nos anos 1960.
A principal divulgadora dessa notícia da "tese genética" da USP é a Folha de São Paulo, envolvida na repressão ditatorial e, depois, no think tank da direita moderada da USP. A Folha enviou seu capataz jornalístico Pedro Alexandre Sanches para forçar a imprensa de esquerda para pensar a cultura popular com os "olhos da Folha". E o principal chefão da FSP, Luís Frias, diz a lenda que estaria adotando a "causa espírita" na esperança de receber uma "psicografia" do irmão Otávio Frias Filho lhe nomeando herdeiro natural da propriedade do Grupo Folha.
Concluindo esta postagem, tornou-se uma perda de tempo a tese universitária sob supostas mudanças genéticas atribuídas aos "médiuns". Deve ser somente uma mera coincidência. A tese, quando foi divulgada, gerou repercussão tão forte quanto um fogo de palha. Passado o impacto da notícia, o factoide morreu, o que diz muito no caráter duvidoso dessa atribuição, pois "médiuns" que não conseguem reproduzir a personalidade dos mortos não poderiam apresentar mudanças genéticas.
A referida tese universitária é mais um dos trabalhos que só repercutem no momento em que são lançados, se tornando meras monografias a se perderem no desprezo do tempo, condenados a se servirem à única demanda que lhes resta: baratas, traças e fungos. Triste sina de trabalhos que as universidades brasileiras, túmulos do senso crítico, autorizam produzir, teses inúteis que se perdem após quinze minutos de fama acadêmica.
Daqui a pouco vão atribuir como "poliglotas" os pastores neopentecostais que "falam em línguas", atribuindo a eles uma "gramática" que "seria de conhecimento exclusivo de Deus". Madachúria Kovanai!! Brrrrlllllll...
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