É ASSUSTADOR QUE OS VALORES SOCIOCULTURAIS ATUAIS VENHAM NÃO DO AR PURO DO CONVÍVIO NATURAL HUMANO, MAS DO AR REFRIGERADO DOS ESCRITÓRIOS EMPRESARIAIS.
Há setores da burguesia que detém o controle e o tráfico e tráfego de influência dos valores socioculturais que eles concebem ou autorizam. Em grande parte empresários do entretenimento, eles regulam o comportamento, os hábitos, crenças e costumes compartilhados por um grande número de brasileiros, principalmente jovens.
Com um nível de conscientização social comparável ao de um Mark Zuckerberg, mas acrescido de um tom politicamente correto de um Bill Gates, a Faria Lima “lúdica” segue invisível circulando nos bastidores e nos coquetéis de luxo vendendo a imagem de uma elite “moderna”, “ilustrada e esclarecida”, supostamente versátil e pretensamente generosa.
Descendente das velhas elites cujo maior grito contemporâneo foi a Marcha da Família de 18 de março de 1964, que pediu a ditadura militar para combater o “governo da aventura” de João Goulart, hoje eles se passam por "bons esquerdistas" ou como "isentos democráticos", não porque mudaram na essência, mas porque precisam sobreviver através de um bom mocismo adaptado aos novos contextos.
Para reforçar a imagem dos "novos tempos", os burgueses modernos aprenderam a usar camisetas t-shirt, jeans rasgados e sapatênis, como uniformes modernos que fizeram com que os velhos ternos e os desconfortáveis sapatos de couro fossem aposentados até do vestiário cotidiano de empresários com mais de 60 anos. Estes são agora pressionados a usar até tênis de caminhada em reuniões como as do Iate Clube do Brasil. Os velhos ternos e sapatos cada vez mais se restringem ao rigor dos velhos eventos formais de gala, viraram verdadeiros “trajes a rigor”.
Com uma média etária entre os 45 e 65 anos, a burguesia lúdica moderna tenta moldar um consenso social, um padrão de valores para os mais diversos segmentos sociais. Da juventude infantilizada ao pobre abobalhado, passando pelo roqueiro boa praça e pelo tiozão com saudades dos desenhos animados do passado, um padrão de comportamentos é estabelecido através de uma combinação de propaganda, estímulos psicológicos e outras recompensas sociais mesmo num país desigual como o Brasil.
Nota-se que os vários segmentos culturais estão sendo pasteurizados um a um, da bregalização cultural ao yuppismo roqueiro da 89 FM. É como se a Faria Lima fosse dona do país e concebesse um modelo de Brasil com uma diversidade fake negociada e planejada nas reuniões de negócios. Uma diversidade resignada e feliz com as imposições meritocráticas do status quo.
Os novos donos do poder querem transformar o Brasil num parque de diversões. A Faria Lima difunde sua linguagem que força a barra para soar "universal" e "perene", com gírias já surradas como "balada" - a única gíria dotada de departamento comercial e de marketing na História do Brasil - e o "dialeto" portinglês, com seus "dog", "body" e a nunca traduzida bullying (apesar do nosso corajoso blogue sugerir o termo "valentonismo").
Transformar a juventude ou mesmo os adultos infantilizados em marionetes dos interesses da Faria Lima lúdica, que vive no seu mimetismo casual da informalidade comportamental, torna-se um fenômeno perigoso que contagia boa parte da população brasileira. É assustador ver os brasileiros falando o "idioma" que não surgiu nas comunidades, mas das mesas de negócios paulistanas!
Essa burguesia acaba contribuindo para a deterioração cultural do Brasil dentro de condições que permitam a pretensa paz socioeconômica que interessa ao empresariado, como o conformismo da sociedade mediante um cenário de falsa felicidade e de uma prosperidade que não vai além da aparência. Tudo para manter os ricos na sua fortuna, agora sob o disfarce de “gente simples”, a única e maior fantasia de Carnaval dessa burguesia bronzeada.
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