
Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, advogado que era defensor de Lula, fez duras críticas ao governo, no sentido que o presidente não faz política, não recebe mais seus antigos aliados nem se dispõe a ouvir críticas, avisos e sugestões. Lula também perdeu, segundo o advogado, a antiga capacidade de cativar os multidões, antiga caraterística dos tempos de sindicalista.
Devemos perceber que Kakay é amigo de Lula e um dos maiores apoiadores do presidente. Se ele está fazendo essas críticas, com que moral os negacionistas factuais, que não suportavam críticas muito mais suaves ao petista, têm agora para demonizar o senso crítico, que para eles é frescura de europeus existencialistas?
Lula se isolou no seu mundo. Isso o fez menosprezar a gravidade da ditadura militar, cancelando as homenagens às vítimas da repressão. Só se apropriou da memória triste dos anos de chumbo depois da repercussão do filme Eu Ainda Estou Aqui, de Walter Salles. E mesmo assim sob a ideia simbólica de que Rubens Paiva “foi morto” por Jair Bolsonaro, um meninote de ainda 15 anos na época em que o deputado paulista faleceu, em 1971.
Querendo ser o dono da democracia, Lula queria apenas se consagrar pessoalmente. Na ironia de eu adaptar um termo da revista Melody Maker sobre o subestimado cenário do rock britânico de 1989-1992 - the scene that celebrates itself - , podemos definir Lula como “o presidente que celebra a si mesmo”.
Lula sinalizou abandonar os brasileiros quando, após tomar posse em 2023, decidiu viajar para fazer política externa e intervir ingenuamente em pautas estrangeiras. Queria bancar o guardião da paz mundial e brincou de ser anfitrião na reunião do G-7, num desempenho ao mesmo tempo grandiloquente e constrangedor, com os jornalistas da mídia alternativa brincando de serem historiadores. Mas a “historiografia de véspera” se demonstrou frágil, como imponentes castelos de areia destruídos pelas águas do mar.
O que chama a atenção é que Lula tornou-se um político impulsivo, imprudente e intransigente. Virou alguém que só quer ver suas vontades atendidas, o que faz falar o que não deve, e queroa ser o centro de tudo, talvez sonhando com um Sistema Lular no qual os planetas, principalmente a Terra, se rebaixam a satélites submissos à força cósmica do Planeta Lula.
Tornou-se vergonhosa a divinização do presidente Lula. O presidente fez menos pelo país, prometendo mil maravilhas e cumprindo muito pouco. O governo Lula era mais espetáculo e menos crescimento, com o presidente mais parecendo um ídolo pop do que um gestor político. E os tais “recordes históricos” não foram mais do que relatórios plantados por constrangidos funcionários de um IBGE gerido de forma prepotente por Márcio Pochmann.
De que adianta as invertidas de Gleisi Hoffmann para defender o Lula até diante dos erros deste? Decepcionante uma boa parlamentar, que lutou contra os pacotes pavorosos de Temer enviados ao Congresso Nacional, hoje soar como uma Barbie das esquerdas e fazer o triste papel de papagaio de pirata do presidente Lula. Ver ela apostando no triunfalismo, hoje cada vez mais distante, do chefe da Nação, é lastimável.
Lula queria fazer o Brasil um país de contos de fadas. Não trabalhou a reconstrução do Brasil, que hoje mantém as mesmas crises e tensões dos tempos de Temer e Bolsonaro. O presidente Lula parecia alheio a esse processo de reconstrução, parecendo mais alguém que comandava, à distância, os festejos para uma sonhada vitória eleitoral de 2026.
Preferindo a festa ao trabalho, Lula errou ao transformar seu terceiro mandato num mero preparativo para o quarto. Grande erro. Daí a decadência de sua imagem política. E o isolamento de Lula é ainda pior pois, mais do que se isolar dentro da bolha de seus aliados e apoiadores, Lula se isola mais no mundinho de suas vontades pessoais e suas falas indevidas.
Triste ver que haja quem considere Lula o centro de tudo. Quem pensa assim está isolado no mundinho do Facebook, do Instagram e do Tik Tok, por mais seguidores que consiga para concordar com suas delirantes convicções. A realidade é que vive afastada desse mundo de lacração, como o universo em relação às cavernas perdidas nas florestas.
A decadência de Lula já pode ser considerada irreversível, pois o presidente criou um problema gravíssimo, ao não cuidar dos preços dos alimentos. Para quem usava o combate à fome como sua prioridade e maior promessa eleitoral, seu descaso posterior, alimentado (desculpe o trocadilho) pelas viagens ao exterior, fizeram o povo se sentir traído e abandonado. Vai ser difícil Lula, “democraticamente” abraçado aos mais ricos, reconquistar as classes populares, que perderam de vez a confiança no antigo “companheiro”.
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