Pular para o conteúdo principal

IMPRENSA, SENSACIONALISMO ESTATÍSTICO E A CIDADE 'DO' SALVADOR

O SENSACIONALISMO ESTATÍSTICO, QUE ENUMERA SALVADOR COMO "CIDADE-MULHER" PARA FINS TURÍSTICOS, É DIFUNDIDO PELA GRANDE IMPRENSA PARA FINS TENDENCIOSOS.

Combater fake news não significa aceitar de bandeja o que a imprensa empresarial e as instituições divulgam e que soam bastante agradáveis. De repente, mentiras vergonhosas se tornam "verdades indiscutíveis" por causa do prestígio de quem divulga e pela quantidade grande de compartilhamentos e apoios. 

É algo que, por ironia, já foi anunciado por um publicitário fascista no passado, como uma realidade perversa defendida por ele, mas que expressa profundo realismo. Afinal, a mentira quando é transmitida várias e sucessivas vezes vira "verdade", e quando o prestígio de quem produz ou difunde tais lorotas é notável, essa pretensa verdade se torna assustadoramente "indiscutível".

Nos meus 18 anos morando em Salvador e passeando por vários bairros - eu aproveitava a baldeação, gratuita na época, na Estação Pirajá, para passear por várias linhas de ônibus, conhecendo Cajazeiras, Pirajá, Marechal Rondon, Pau da Lima, Vila Rui Barbosa, Ribeira etc - , percorrendo tudo quanto é bairro na capital baiana, conhecendo toda a orla de Salvador, eu posso garantir que o mito de "cidade feminina" que a Cidade DO Salvador carrega é uma mentira descarada.

Com todo respeito e apreço às mulheres soteropolitanas, infelizmente não posso esconder a maioria de homens na população de Salvador que eu via constantemente no cotidiano. A realidade vivida, por mais desagradável e dolorosa que seja, vale muito mais do que uma fantasia compartilhada não só por centenas de milhares de pessoas, mas difundida por pessoas e instituições que se dizem "gabaritadas", mas que em dado momento agem de forma inconveniente e tendenciosa.

Tenho que refletir muito, usando como critérios a confrontação de dados históricos, dados jornalísticos e a realidade vivida. Não posso aceitar uma notícia que é "ventilada" por aí e, por parecer agradável, dormir tranquilo acreditando cegamente no que foi noticiado.

Paciência. A herança da ditadura militar é tão forte que, durante décadas, brasileiros são convidados a dormirem tranquilos por conta das mentiras agradáveis transmitidas pela TV, pelo rádio e por jornais. A "pedagogia" do Jornal Nacional da Rede Globo, durante o período ditatorial, "educou" muita gente que passou a medir a "veracidade" da notícia pela posição de poder e prestígio de quem noticia.

A IMAGEM DE SALVADOR COMO "A BAHIA"

Não existe lógica da Salvador ser considerada "cidade feminina" porque o contexto do Estado da Bahia sempre apontou um grande êxodo de homens do interior baiano - marcado por um coronelismo violento e pela falta de opções de vida em qualquer sentido - para a capital, com a promessa de, mesmo através do trabalho braçal, obter algum tipo de prosperidade.

Há uma tradição de que, diante de um interior baiano profundamente atrasado, a cidade de Salvador sempre foi considerada como "a Bahia". Hoje temos alguns municípios com expressivo grau de progresso urbano, como Vitória da Conquista, Irecê, Barreiras e Ilhéus, mas durante décadas a Bahia, na sua simbologia cultural, era reconhecida apenas como a "Cidade do Salvador", prestando atenção na preposição masculina.

O êxodo rural sempre foi uma rotina que transportava milhares de homens do interior baiano para a capital. Isso fez com que o Censo de 1960 reconhecesse que a capital da Bahia tinha maioria masculina em sua população, algo que deveria ser reafirmado e não negado, por conta da natureza dos fatos.

O problema é que, a partir da ditadura militar e da versão local do ufanismo ditatorial da Era Médici, desenvolvido pelo então governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, associado ao contexto da reprise de uma novela baseada na obra de Jorge Amado, Gabriela, autoridades passaram a cultivar a mentira da "cidade-mulher" através da personificação do mito de Gabriela Cravo e Canela, da baiana "fogosa, bela e sensual".

Com a finalidade "cenográfica" de combinar paisagem tropical com a figura da "mulher sensual" , o mito da "cidade-mulher" de Salvador foi plantado visando o turismo sexual ou, quando muito, usando a sensualidade vinculada a um cenário veraneio para atrair homens com mais facilidade.

Plantando mentiras fabricadas sob um consenso dos agentes envolvidos (políticos, fazendeiros, empresários, publicitários etc), o sensacionalismo estatístico visa chamar a atenção de um público masculino para reforçar a mão-de-obra local. 

Daí criar apelos como a "cidade barata" atribuída a Uberaba e a "cidade-mulher" de Salvador. No caso de Uberaba, assim que nosso blogue desmascarou a imagem de "quarta cidade mais barata do Brasil", a mídia agora trabalha as mesmas mentiras com a vizinha Uberlândia.

A publicidade enganosa da "Salvador-mulher" foi um recurso criado pela ditadura militar sob o qual um truque é feito para esconder a maioria masculina na população soteropolitana: como a grande parte desses homens vêm do interior, eles continuam creditados às suas cidades de origem. Dificuldades são montadas para esse povo de maioria masculina, que é pobre, negra, índia ou mestiça e considerada "feia", se estabilizar na vida da capital baiana.

O êxodo rural aumentou durante o período ditatorial. Isso quer dizer que deveria haver o contrário dos dados oficiais, com Salvador figurando entre as capitais com maior população masculina do Brasil. Isso por causa da violência no campo em que as cidades do interior, no momento em que os grandes proprietários de terras eram os que mais apoiavam a opressão ditatorial, ameaçavam os camponeses, obrigados a migrar para a capital não apenas pela violência, mas pela substituição do trabalho humano pela tecnologia de máquinas, equipamentos e veículos.

São poucas as mulheres que migram do interior baiano para Salvador. Na maioria das vezes, elas acompanham os familiares, no caso maridos ou irmãos. Dificilmente se vê uma mulher migrando sozinha nesse processo, ainda mais adolescentes que mal haviam largado o hábito de brincar com bonecas.

Chegando na capital baiana, a maioria masculina passa a destoar da imagem "relaxante" de Salvador. São "feios" e "repugnantes" para os olhos das elites, mas são muito trabalhadores. Aliás, o mito do "baiano preguiçoso" tem mais a ver com a elite abastada, esta sim preguiçosa, seja em Salvador, Niterói ou em Florianópolis. 

O niteroiense abastado, na sua zona de conforto da burrice preguiçosa, nem sabe da necessidade de construir uma rodovia ligando Rio do Ouro a Várzea das Moças, cuja falta de acesso rebaixa um trecho de uma rodovia estadual, a RJ-106, a uma "avenida de bairro", atrapalhando o tráfego de quem vai e vem de longe, da Região dos Lagos, o que já fez causar congestionamentos até nas altas horas da noite ou durante revoltas de moradores pobres.

BAIANOS DE "LUGAR NENHUM"

O baiano trabalha muito, e eu pude testemunhar isso quando morei em Salvador. O problema é que a grande parte desses homens, presentes em áreas que vão do trabalho formal à construção civil, é considerada "pouco atraente" para a propaganda turística de Salvador, cuja elite não só é preguiçosa como é estúpida, ignorante e cínica, além de profundamente racista.

Admitindo apenas a divulgação de uma imagem "limpa" do "nego bonito" e da "mulata faceira", a propaganda turística de Salvador é em sua essência higienista, atendendo aos interesses das elites que precisam trabalhar a imagem "acolhedora" de uma cidade tropical, marcada por sua orla marítima que, de fato, é lindíssima, mas que é subestimada pelos próprios baianos. Em certos horários, o calçadão da orla soteropolitana parece terminal rodoviário, só tem gente esperando ônibus nos pontos.

Daí que os negros de aparência "pouco atrativa" não têm direito sequer a serem números estatísticos na capital da Bahia. A atribuição às cidades de origem é tão marcante que, às vezes, um indivíduo recebe como apelido a cidade de onde veio, como Guanambi, por exemplo.

Vemos, portanto, o que a burguesia baiana, que controla as narrativas oficiais, traduzindo a antiga herança culturalista de ACM para um contexto "mais positivo", precisa jogar, com base no seu racismo "cordial" e politicamente correto, a "sujeira preta" debaixo do tapete estatístico. 

Portanto, o homem baiano vindo do interior e que passa a residir, mesmo de maneira informal, na capital da Bahia, principalmente ocupando as favelas cada vez mais degradantes e perigosas, é um homem "sem lugar". E é irônico falarmos em baianos de "lugar nenhum", lembrando a música "Lugar Nenhum", dos Titãs, cujo vocalista e um dos autores, Arnaldo Antunes, é o mesmo que integrou o grupo Tribalistas, cujo um dos integrantes é o destacado artista e compositor baiano Carlinhos Brown.

Para uma cidade que precisa exibir uma imagem de "sensualidade", mesmo dentro de um senso politicamente correto, o mesmo hoje trabalhado pela propaganda lulista dos últimos tempos, soa desagradável dizer que a maioria dos habitantes é masculina e, sobretudo, "feia". Vai contra a narrativa "cenográfica" da "cidade-mulher", que aposta numa montagem simbólica que combine uma paisagem tropical com a da mulher sensual.

Mas o irônico disso tudo é que até no outro lado da pirâmide social a Cidade DO Salvador atrai mais homens. Quando mais se difunde o mito da "cidade-mulher", mais aumenta a população masculina, e mesmo os homens de situação econômica mais próspera também se encaixam nos homens de "lugar nenhum", pois estes, em boa parte empresários e profissionais liberais, oficialmente "residem" nas constantes viagens aéreas a negócios.

Eu considero o mito da "cidade feminina" atribuído a Salvador como uma grande estória de pescador travestida de dado estatístico. Vai que um recenseador tenha entrevistado um pescador da orla soteropolitana e este tenha falado que "havia pescado uma sereia bem bonita". Embora a imaginária sereia vivesse nos distantes redutos do Oceano Atlântico, ela acabou sendo registrada como "habitante de Salvador". 

E assim o sensacionalismo estatístico, herdado dos tempos do carlismo, prevalece como uma grande conversa para bois, boys e "minas" dormirem tranquilos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

DOUTORADO SOBRE "FUNK" É CHEIO DE EQUÍVOCOS

Não ia escrever mais um texto consecutivo sobre "funk", ocupado com tantas coisas - estou começando a vida em São Paulo - , mas uma matéria me obrigou a comentar mais o assunto. Uma reportagem do Splash , portal de entretenimento do UOL, narrou a iniciativa de Thiago de Souza, o Thiagson, músico formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) que resolveu estudar o "funk". Thiagson é autor de uma tese de doutorado sobre o gênero para a Universidade de São Paulo (USP) e já começa com um erro: o de dizer que o "funk" é o ritmo menos aceito pelos meios acadêmicos. Relaxe, rapaz: a USP, nos anos 1990, mostrou que se formou uma intelectualidade bem "bacaninha", que é a que mais defende o "funk", vide a campanha "contra o preconceito" que eu escrevi no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes... . O meu livro, paciência, foi desenvolvido combinando pesquisa e senso crítico que se tornam raros nas teses de pós-graduação que, em s...

A PROFUNDA FALTA DE VISÃO DOS EMPREGADORES

A questão do emprego ainda ocorre de maneira viciada, com muita exigência para trabalhos simples e de pouco salário ou, quando função e remuneração valem a pena, a competência é o que menos importa, pois se leva em conta o status social, a aparência e até a visibilidade e contatos influentes. Neste caso, tivemos a onda de influenciadores digitais e comediantes de estandape invadindo mercados referentes a Jornalismo e Análise de Mídias Sociais. E a ilusão da aparência nos cargos de assistente administrativo, onde são contratados pessoas com “cara” de administrador, mas sem “espírito” para a função. Profundamente atrasado, o Brasil ainda tem dificuldade para achar o profissional certo. Talento só serve para patrões incompetentes se promoverem às cistas de alguém talentoso, quando seu interesse é se destacar nos negócios. Mas até isso é um processo raro, pois na maioria dos casos um patrão ruim contrata um empregado pior, mas de boa aparência e comportamento maleável. Muitas empresas cont...

“COMBATE AO PRECONCEITO” TRAVOU A RENOVAÇÃO REAL DA MPB

O falecimento do cantor e compositor carioca Jards Macalé aos 82 anos, duas semanas após a de Lô Borges, mostra o quanto a MPB anda perdendo seus mestres um a um, sem que haja uma renovação artística que reúna talento e visibilidade. Macalé, que por sorte se apresentou em Belém, no Pará, no Festival Se Rasgum, em 2024. Jards foi escalado porque o convidado original, Tom Zé, não teve condições de tocar no evento. A apresentação de Macalé acabou sendo uma despedida, um dos últimos shows  do artista em sua vida. Belém é capital do Estado da Região Norte de domínio coronelista, fechado para a MPB - apesar da fama internacional dos mestres João Do ato e Billy Blanco - e impondo a música brega-popularesca, sobretudo forró-brega, breganejo e tecnobrega, como mercado único. A MPB que arrume um dueto com um ídolo popularesco de plantão para penetrar nesses locais. Jards, ao que tudo indica, não precisou de dueto com um popularesco de plantão, seja um piseiro ou um axezeiro, para tocar num f...

BURGUESIA ILUSTRADA E SEU VIRALATISMO

ESSA É A "FELICIDADE" DA BURGUESIA ILUSTRADA. A burguesia ilustrada, que agora se faz de “progressista, democrática e de esquerda”, tenta esconder sua herança das velhas oligarquias das quais descendem. Acionam seus “isentões”, os negacionistas factuais, que atuam como valentões que brigam com os fatos. Precisam manter o faz-de-conta e se passar pela “mais moderna sociedade humana do planeta”, tendo agora o presidente Lula como fiador. A burguesia ilustrada vive sentimentos confusos. Está cheia de dinheiro, mas jura que é “pobre”, criando pretextos tão patéticos quanto pagar IPVA, fazer autoatendimento em certos postos de gasolina, se embriagar nas madrugadas e falar sempre de futebol. Isso fora os artifícios como falar português errado, quase sempre falando verbos no singular para os substantivos do plural. Ao mesmo tempo megalomaníaca e auto-depreciativa, a burguesia ilustrada criou o termo “gente como a gente” como uma forma caricata da simplicidade humana. É capaz de cele...

MASSACRE NOS COMPLEXOS DO ALEMÃO E DA PENHA E A HIPOCRISIA DO “COMBATE AO PRECONCEITO”

A chacina ocorrida nos Complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, mostram o caráter de hipocrisia da burguesia ilustrada e de seus representantes da intelectualidade, que durante anos apelaram para a campanha do “combate ao preconceito” como forma de forçar a permanência da degradação sociocultural do povo pobre. A ideia de fazer apologia à bregalização, glamourizando a pobreza, passando pano na baixa escolaridade e no trabalho precário, incluindo o comércio clandestino e a prostituição, vinda de intelectuais badalados que se elogiavam uns aos outros, fazia com que as favelas virassem cenários definitivos, como se fossem habitats naturais do povo pobre. Tudo era feito para “prender” os pobres na sua inferioridade social e essa ideologia do dito “combate ao preconceito” enganou e sabotou as esquerdas. A ideia da “pobreza linda”, as favelas vistas como “paraísos da gente humilde” fazia antropólogos, cineastas, historiadores, músicos e críticos musicais despejarem seu elitismo cul...

LULA ESTÁ CANSANDO COMO ORADOR DE CÚPULA

Qualquer semelhança com a Rio-92 não é mera coincidência. Hoje o presidente Lula está mais próximo da figura espetaculosa de Fernando Collor do que do antigo líder sindical. E vemos o quanto anda repetitivo o ato de Lula discursar, na ânsia de buscar o reconhecimento mundial, enquanto o presidente brasileiro deveria ter falado menos, evitado a priorização da política externa no começo do terceiro mandato e focasse nos assuntos trabalhistas e na resolução de outros problemas brasileiros. Diante do aquecimento para a COP30, Lula participa da cúpula da CELAC, Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, na Colômbia, mais preocupado em ser presidente do mundo do que do Brasil. Eleito para combater a fome dos brasileiros, Lula desviou o foco e mais parece empenhado em montar o Sul Global do que em trabalhar nas pautas brasileiras, que ele deixa para última hora. Pouco importa o juízo de valor da burguesia de chinelos que acha que foi um “acerto” Lula priorizar a política externa. O...