Pular para o conteúdo principal

O EGOÍSMO EXTREMO E TÓXICO DOS ABASTADOS

 A "BOA" SOCIEDADE, INSENSÍVEL, NÃO MEDE HORA SEQUER PARA CONTAR PIADAS E RIR ALTO, PERTURBANDO A VIZINHANÇA.

Vivemos uma pandemia do egoísmo humano, motivada pela ganância das pessoas abastadas, dos super-ricos aos ex-pobres "fabricados" por loterias e promoções de produtos, criando um momento tóxico de suposta prosperidade social, algo comparável aos Anos Loucos (Roaring Twenties) dos EUA de 100 anos atrás.

Os ganhos e benefícios dados a quem não tem necessidade dos mesmos faz desnortear seus beneficiados que, movidos pela surpresa do ganho inesperado, tanto no âmbito dos sorteios quanto dos concursos e ofertas de empregos, criam um sentimento tóxico de ganância e egoísmo, mergulhando nos gastos supérfluos e nos privilégios abusivos.

Isso traz sentimentos de puras tensões, quando essas pessoas despreparadas para a prosperidade econômica chegam a criar ou fazer criar momentos de conflitos e incidentes negativos, que em vários casos atraem até a ação de assaltantes. Não raro a burguesia também enfrenta tragédias devido aos latrocínios, o preço caro cobrado pela sua ganância e que produziram uma gigantesca onda de assaltos após a crise do "milagre brasileiro".

Mas as tensões também residem em situações como a briga do pai de família com os filhos que, em vez de ajudar a arrumar a bagagem para a viagem para Bariloche ou Cancun, estão vendo bobagens no celular. Ou aquelas festas de fins de semana fantasiadas de "festas de aniversário" para justificar os sucessivos aluguéis de salões de festas, que terminam em brigas entre a esposa do anfitrião e a amante do mesmo.

A insensibilidade que atinge os prósperos, mergulhados na sua obsessão pelo supérfluo, motivada pelo "ineditismo" do ganho repentino, reflete não só através de loterias, promoções de produtos e outros sorteios, mas também quando são aprovados em concursos públicos e ofertas de empregos.

Há o "atleta de concursos" que realiza uma prova só para "se atirar na plateia", muitas vezes um servidor estável que quer se aventurar em uma autarquia (tipo um técnico do Tribunal de Contas que arrisca uma prova para Técnico de Ciências Sociais do IPHAN). Só sabe 50% da prova, mas busca a lógica do "chutômetro" calculado, como entender que não existem três questões objetivas sucessivas com uma mesma letra como alternativa correta, e fica entre os aprovados.

Há também o comediante de cerca de 45 anos, membro e empresário de um grupo de humor, que inventa uma carreira profissional "simultânea", falando demais numa entrevista de emprego, a respeito, por exemplo, de uma hipotética "longa experiência" no Jornalismo, alegando ter passado em "todas as editorias". E tudo isso para trabalhar como Analista de Redes Sociais com um salário de R$ 2.500, que só servem para a pensão alimentícia para o filho que o comediante teve com a ex-mulher, liberando a fortuna pessoal do humorista para seus interesses pessoais.

Mas é nas loterias e promoções de produtos que fazem com que o ditado popular "quem nunca comeu doce, quando come, se lambuza", se aplica. Famílias que moram em áreas como Pirituba, Brasilândia e até Jardim Damasceno, quando ganham nas loterias, acabam querendo parecer como se fosse a burguesia dos Jardins, apenas dando um tom popularesco às suas vidas nababescas, ao seu modo.

São pessoas que acabam, assim como a classe média abastada, se esbaldando não só de supérfluos, como também de artigos nocivos, como cerveja e cigarros. Enchem suas casas de televisões instaladas em vários compartimentos. Compram carros aos montes, para cada membro da família. E adotam vários cachorros, como se suas casas fossem canis domésticos.

É gente sem noção de ver preços das mercadorias, gastando impulsivamente movida pelo prestígio das marcas. É gente sem noção de que a vizinhança precisa dormir cedo para trabalhar nos dias de semana ou para acordar cedo para caminhar, fazer viagens e rever familiares nos fins de semana. Gente sem sensibilidade que só quer a "liberdade" para si, embora essas pessoas "bem de vida" sejam, na verdade, escravas de seus instintos e impulsos.

E temos também gente irresponsável que gasta mais de R$ 30 para um pratarrão de comida para só comer umas cinco garfadas e jogar o resto no lixo. Esse pessoal não só ofende o povo pobre que passa fome como ofende os cozinheiros que lutam para deixar as refeições prontas para serem oferecidas por determinado preço a custear, em parte, os salários desses sofridos empregados a enfrentar o calor escaldante de fornos, fogões e grelhas.

Tudo isso se dá quando, em contrapartida, outras pessoas contraem dívidas de condomínios, por não terem dinheiro para pagar. Lutam para ter empregos, mas a cegueira dos empregadores não consegue ver os candidatos pelos seus talentos, mas pelos seus carismas, como na recente onda de influenciadores e comediantes que, com talentos para produzir somente duas campanhas fajutas por dia na Internet em seis horas de expediente, abocanharam funções como Analistas de Redes Sociais.

Muitos abastados alegam "não terem dinheiro" para darem a quem mais necessita, e, com suas mãos de vaca, sonegam as campanhas de "vaquinhas" para ajudar internautas a pagar as dívidas pessoais contraídas, pensando que essas campanhas são "fraudes". Mas esses abastados são os mesmos que compram cigarros e cervejas aos montes, às escondidas. 

Se recusam a dar R$ 5 para ajudar um miserável a comprar comida, mas depois vão gastar R$ 500 para o engradado de cerveja para o próximo fim de semana. Os abastados dizem que não ajudam os pobres porque eles vão usar o dinheiro para "comprar cachaça", mas são os próprios abastados que vão usar seu "merecido dinheirinho" para encher suas casas de tudo quanto é bebida alcoólica para seus divertimentos.

Trata-se de um Brasil tóxico, egoísta e que gera até figuras neuróticas, como aquele pai de família com mania de "cumpridor de obrigações", metido a se sentir "escravo de tudo", sempre atendendo às exigências da esposa e dos filhos e mergulhado nos negócios até durante os dias de folga. Um sujeito paranoico, apesar de rico e abastado, que se estressa com tudo e vive com sisudez e mau humor. 

Eu tive a infelicidade de ver um sujeito assim no Shopping Eldorado, em Pinheiros, depois que eu saí de um evento realizado por uma incorporadora de imóveis. Um sujeito ao mesmo tempo bem de vida mas com um semblante pesado, de um sujeito com mania de dizer que só cumpre "obrigações" e nem parece ter um pingo de alegria de viver. O sujeito nada tinha a ver com esse evento, era um frequentador do shopping que estava almoçando com sua mulher e seus filhos.

Esse é o Brasil que, com um século de atraso, imita os "anos loucos" dos EUA dos anos 1920, com a ganância de uma parcela da sociedade que ganha demais sem necessidade, não sabe gastar e cultiva um egoísmo que se torna bastante tóxico, criando uma crise social que ameaça fazer repetir as tragédias latrocidas do "milagre brasileiro", a cobrar as contas de uma sociedade desigual que parece personificar outro ditado popular: "Deus dá asas a quem não sabe nem quer voar".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"ANIMAIS CONSUMISTAS"AJUDAM A ENCARECER PRODUTOS

O consumismo voraz dos "bem de vida" mostra o quanto o impulso de comprar, sem ver o preço, ajuda a tornar os produtos ainda mais caros. Mesmo no Brasil de Lula, que promete melhorias no poder aquisitivo da população, a carestia é um perigo constante e ameaçador. A "boa" sociedade dos que se acham "melhores do que todo mundo", que sonha com um protagonismo mundial quase totalitário, entrou no auge no período do declínio da pandemia e do bolsonarismo, agora como uma elite pretensamente esclarecida pronta a realizar seu desejo de "substituir" o povo brasileiro traçado desde o golpe de 1964. Vemos também que a “boa” sociedade brasileira tem um apetite voraz pelo consumo. São animais consumistas porque sua primeira razão é ter dinheiro e consumir, atendendo ao que seus instintos e impulsos, que estão no lugar de emoções e razões, ordenam.  Para eles, ter vale mais do que ser. Eles só “são” quando têm. Preferem acumular dinheiro sem motivo e fazer de ...

A SOCIEDADE HIPERMERCANTIL E HIPERMIDIÁTICA

CONSUMISMO, DIVERSÃO E HEDONISMO OBSESSIVOS SÃO AS NORMAS NO BRASIL ATUAL. As pessoas mais jovens, em especial a geração Z mas incluindo também a gente mais velha nascida a partir de 1978, não percebe que vive numa sociedade hipermercantilizada e hipermidiatizada. Pensa que o atual cenário sociocultural é tão fluente como as leis da natureza e sua rotina supostamente livre esconde uma realidade nada livre que muitos ignoram ou renegam. Difícil explicar para gente desinformada, sobretudo na flor da juventude, que vivemos numa sociedade marcada pelas imposições do mercado e da mídia. Tudo para essa geração parece novo e espontâneo, como se uma gíria fabricada como “balada” e a supervalorização de um ídolo mediano como Michael Jackson fossem fenômenos surgidos como um sopro da Mãe Natureza. Não são. Os comportamentos “espontâneos” e as gírias “naturais” são condicionados por um processo de estímulos psicológicos planejados pela mídia sob encomenda do mercado, visando criar uma legião de c...

LULA OFENDE O POVO POBRE COM PIADA DA "VARANDA DE PUM"

Em cerimônia de lançamento de um projeto de casas populares, o Morar Carioca, em parceria com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD-RJ), no bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste carioca, o presidente Lula investiu num comentário bastante grosseiro e ofensivo às classes populares, quando defendeu que as habitações devem contar com varandas. Disse o presidente do Brasil: "Uma varandinha de 2 metros. O que custa fazer uma varandinha? Por que o povo tem que ficar dentro de um apartamento olhando para a parede e não tem uma sacadinha? Vamos fazer a varanda do pum. Todo mundo sabe que tem dia que a gente está com excesso de flatulência e é importante que a gente não fique fazendo as coisas perto da família. Vai na varandinha e faça o que tenha que fazer sem incomodar...". Lula tentou compensar a grosseria fazendo um comentário aparentemente favorável ao povo pobre: "As pessoas precisam saber que as pessoas pobres gostam de coisas boas, a gente gosta de se vestir bem, c...

AXÉ-MUSIC SOA MOFADA, COMO TODA MÚSICA BREGA-POPULARESCA

A AXÉ-MUSIC SERVE DE TRILHA SONORA PARA A ALEGRIA E O AMOR TORNADOS MERAS MERCADORIAS DE CONSUMO. A música brega-popularesca pode fazer sucesso estrondoso nas rádios, lotar plateias e atingir o grande público. Mas, passados seis meses, essas músicas soam velhas e não adianta a blindagem de intelectuais e críticos tentar exumar esses cadáveres sonoros porque o merecimento é inevitável. A título de comparação, canções da Legião urbana e de Cazuza ainda mantém o frescor de novas. E isso é irônico, pois Cazuza e Renato Russo estão falecidos há, respectivamente, 35 e 29 anos, portanto, muito tempo.  Os ídolos popularescos, no entanto, podem estar vivos e, todavia, seus sucessos perecem rapidamente. Seus primeiros sucessos já soam mais antigos do que parecem e mesmo quem adora essas músicas terá que admitir isso, até pela fugacidade de suas vidas frenéticas. Mas, para quem acha que Chaves é humor de vanguarda vai pensar que os sucessos popularescos são “modernos” e “atemporais”. A axé-mu...

A PERIGOSA FARRA DA APROPRIAÇÃO DA MEMÓRIA DOS MORTOS

AYRTON SENNA É UM DOS NOMES USADOS NA RECENTE PRODUÇÃO DE PSICOGRAFAKES  RETOMADA NO BRASIL. Depois que a USP veio com a tese universitária, desprovida de fundamentação científica, sobre as "alterações genéticas" dos ditos "médiuns", tentando forjar um caráter extraordinário a esses mistificadores religiosos guiados por ideias medievais, voltou a farra do uso de personalidades mortas em mensagens de claro mershandising  religioso. Desta vez, dois personagens vieram à tona, através de uma prática de psicografakes  produzidas e divulgadas pela equipe do portal de fofocas TV Foco. Nota-se que os portais de fofocas e a mídia policialesca adoram muito divulgar os "médiuns" e as "cartas psicografadas", devido à afinidade quanto à produção de obras "controversas" que produzam sensacionalismo no grande público. Tudo isso com o apelo tendencioso e malicioso das "lindas mensagens", dos "recados fortes" e das "cartas comov...

A GLAMOURIZAÇÃO DAS FAVELAS E A DEPRECIAÇÃO DO POVO POBRE

DOIS LADOS DE UMA MESMA MOEDA - A GLAMOURIZAÇÃO FOTOGRÁFICA DA ROCINHA E A DEPRECIAÇÃO DE CRIANÇAS CARIOCAS NUM LIVRO DIDÁTICO ALEMÃO. O Brasil de hoje tornou-se apenas uma arena em que duas variantes de uma mesma burguesia disputam narrativas. Uma, mais raivosa, grosseira, reacionária e escancarada, representada pelo bolsonarismo, e outra, mais alegre, cordial, paternalista e comedida representada pelo lulismo dos tempos atuais. Uns e outros representam, hoje, o que os saquaremas (conservadores) e luzias (liberais) significaram nos tempos do Segundo Império. São os "homens de bem" de um lado e os "democráticos", de outro. Dito isso, vemos dois casos em que a imagem depreciativa do brasileiro, sobretudo o mais pobre, recebe de narrativas produzidas por esses dois polos elitistas que disputam a supremacia sobre o povo brasileiro. Num caso, vemos a glamourização das habitações degradantes das favelas, que deveriam ser vistas como habitações temporárias, mas são tratad...

MAIORIA DO CAFÉ BRASILEIRO TEM IMPUREZAS

CEVADÃO - Café da marca Melitta tem gosto de cevada. Melitta sabe fazer coador, mas "pesa na mão" ao bancar a produtora de café. Denúncia divulgada pelo canal Elementar mostra que o café brasileiro, em sua quase totalidade, não é genuinamente café, pois em muitos casos apresentam mais impurezas do que o próprio café, e o pior é que isso ocorre sob o consentimento da lei, conforme informa a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Segundo a matéria, a lei permite que o café seja comercializado com impurezas, que vão de restos de milho, pó de madeira e até mesmo restos de insetos. O sabor do café acostumou mal o brasileiro médio e faz com que as gerações atuais, diferente do desconfiômetro dos antepassados, confundissem o sabor do café com o de um pó queimado e amargo. A matéria informa que 90% do café produzido no Brasil é vendido para exportação, enquanto apenas 10% permanece no mercado nacional. Com isso, o café brasileiro, há muito tempo, "enche linguiça...

DOUTORADO SOBRE "FUNK" É CHEIO DE EQUÍVOCOS

Não ia escrever mais um texto consecutivo sobre "funk", ocupado com tantas coisas - estou começando a vida em São Paulo - , mas uma matéria me obrigou a comentar mais o assunto. Uma reportagem do Splash , portal de entretenimento do UOL, narrou a iniciativa de Thiago de Souza, o Thiagson, músico formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) que resolveu estudar o "funk". Thiagson é autor de uma tese de doutorado sobre o gênero para a Universidade de São Paulo (USP) e já começa com um erro: o de dizer que o "funk" é o ritmo menos aceito pelos meios acadêmicos. Relaxe, rapaz: a USP, nos anos 1990, mostrou que se formou uma intelectualidade bem "bacaninha", que é a que mais defende o "funk", vide a campanha "contra o preconceito" que eu escrevi no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes... . O meu livro, paciência, foi desenvolvido combinando pesquisa e senso crítico que se tornam raros nas teses de pós-graduação que, em s...

O INCÔMODO DE UMA ORDEM SOCIAL QUE NÃO QUER LARGAR O OSSO

TATARANETOS DOS VELHOS SENHORES DE ENGENHO POSANDO DE "GENTE SIMPLES". Vivemos o canto do cisne de uma velha ordem social que experimenta seu apogeu nos últimos anos e, no entanto, vê a sombra da decadência estar em seu caminho. A velha burguesia brasileira, no exato momento em que se sente plenamente empoderada e, ao mesmo tempo, dissimulada o suficiente para se impor como "substituta" do povo brasileiro, não quer decair e tenta trabalhar sua herança sociocultural para a geração Z que, infantilizada, aceita de bom grado o sistema de valores baseado na precarização da cultura e do trabalho. A ênfase no entretenimento, cuja indústria voraz investe pesado em eventos e atrações estrangeiras em quantidades astronômicas para fazer do Brasil um gigantesco parque de diversões, dando, aos jovens da geração Z, a falsa impressão de "verdadeiro protagonismo mundial" de nosso país, reflete a obsessão de nossas elites, agora representadas por empresários e famosos de, ...

FARIA LIMA “LÚDICA”: OS DONOS DA CULTURA BRASILEIRA

É ASSUSTADOR QUE OS VALORES SOCIOCULTURAIS ATUAIS VENHAM NÃO DO AR PURO DO CONVÍVIO NATURAL HUMANO, MAS DO AR REFRIGERADO DOS ESCRITÓRIOS EMPRESARIAIS. Há setores da burguesia que detém o controle e o tráfico e tráfego de influência dos valores socioculturais que eles concebem ou autorizam. Em grande parte empresários do entretenimento, eles regulam o comportamento, os hábitos, crenças e costumes compartilhados por um grande número de brasileiros, principalmente jovens. Com um nível de conscientização social comparável ao de um Mark Zuckerberg, mas acrescido de um tom politicamente correto de um Bill Gates, a Faria Lima “lúdica” segue invisível circulando nos bastidores e nos coquetéis de luxo vendendo a imagem de uma elite “moderna”, “ilustrada e esclarecida”, supostamente versátil e pretensamente generosa. Descendente das velhas elites cujo maior grito contemporâneo foi a Marcha da Família de 18 de março de 1964, que pediu a ditadura militar para combater o “governo da aventura” de J...