Em 1960, o Sensacionalismo eleitoral fez Jânio Quadros ser eleito, em detrimento do marechal Henrique Lott, que, apesar de parecer "sisudo" e pouco carismático, seria ideal para governar o país, até pela ênfase da Educação pública e do desenvolvimento econômico inclusivo.
Mas aí tivemos Jânio, que, pressionado politicamente, renunciou após sete meses de governo. João Goulart, vice de Lott eleito quando se votava em separado para vice-presidente, tentou arrumar o país, embora tenha que ser inicialmente castrado politicamente pelo parlamentarismo confuso que vigorou temporariamente no Brasil.
Veio o golpe civil-militar de 1964, o AI-5 e uma "pedagogia sociocultural" da Era Geisel que continua valendo até os dias de hoje, contaminando parte de nossas esquerdas, que se iludiram com os "brinquedos culturais" que receberam de presente da direita moderada.
Daí que a Era Geisel criou zonas de conforto que incluíram a precarização da cultura popular, a submissão à grande mídia e uma cultura do cancelamento que, no contexto brasileiro, foi herdada pela autocensura civil da grande mídia e do empresariado, que achavam que a censura da ditadura militar, apesar de necessária para seus interesses, era considerada extremamente burocrática e lerda, o que fazia "esfriar" muitas notícias a serem publicadas nos jornais da época.
Essa herança tanto é verdade que, na Internet, muitos "isentões", não só os Monark da vida mas muita gente "democrática", muito "intelectual de Facebook" com mania de argumentar como quem sente coceira pelo corpo, se comportam como se ainda estivessem nos tempos em que Rubens Paiva era morto impunemente nos porões da repressão.
A polarização política de hoje é uma herança da dicotomia ÁRENA versus MDB da ditadura, ou os saquaremas e luzias do Segundo Império. Bolsonaro é um "saquarema" pós-moderno que tentou ser um misto de Jânio com Geisel que Lula, o "luzia" contemporâneo, temtou creditar como um suposto Golbery da atualidade, quando o "capitão" mal tinha fôlego para ser um sub-Cabo Anselmo, embora tivesse tentado sê-lo nos anos 1980.
Lula foi adotado pela direita moderada e seu discurso pela "democracia" lembra muito a retórica liberal do PMDB dirante o movimento Diretas Já, que em boa parte inspirou a fundação do PSDB e do PFL, este a personificação do que hoje se conhece como Centrão.
Muitos tentam insistir em fazer crer que Lula é tão ou mais esquerdista do que antes, mas a verdade dolorosa dos fatos mostra o contrário, com o presidente brasileiro cada vez mais atolado na areia movediça do neoliberalismo assistencialista, tendo que fazer pelo povo apenas o que é autorizado pelas elites dominantes com as quais Lula finge estar em conflito.
É assustador que tenhamos que ser reféns dessa polarização entre o "patriotismo cristão" de Bolsonaro e a "democracia conciliadora" de Lula, ambos a serviço de bolhas sociais que demonstram não refletirem necessariamente a real natureza do povo brasileiro. Ter que limitar, aliás, essas escolhas apenas entre um e outro nada têm de democráticas.
Precisamos de uma nova cara, de uma nova escolha política. Ver o candidato menos de forma espetaculosa, mais de forma técnica. Não adianta dissimular e fingir que Lula foi escolhido por critérios técnicos, apesar dos dois bons mandatos anteriores, pois hoje o petista está mais para uma franquia do tucanato clássico do que para um líder realmente progressista.
Por isso, não podemos ser reféns dessa polarização viciada que, nos EUA, é representada pela nada democrática alternância entre o Partido Republicano e o Partido Democrata, e que só serve para manter o círculo vicioso da disputa entre conservadores radicais e conservadores moderados.
Um outro Brasil quer gritar e não será através de Jair Bolsonaro ou Lula que irão fazê-lo. Devemos ser menos infantilizados e pedir, através das urnas, o fim dessa rinha de galos política e pensar mais no nosso país, e não nos umbigos. Tentar raciocinar com o fígado (Bolsonaro) e o coração (Lula) só vai desperdiçar tempo e prejudicar nosso país. O cérebro precisa funcionar.
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